Crítica | Aquaman 2: O Reino Perdido (Aquaman and The Lost Kingdom)

Nota
3

Aquaman 2: O Reino Perdido chega aos cinemas para ser a tampa do caixão do complicado Universo Estendido da DC (DCEU) iniciado por Zack Snyder em Homem de Aço lá em 2013. Sendo o último filme de um universo sem futuro, ele se entrega de vez a ser despretensioso e em conseguir dar um final confortável ao seu personagem título diante da reinicialização que o aguarda.

Dirigido novamente por James Wan (Jogos Mortais), Aquaman 2 conta o novo capítulo na vida de Arthur Curry, após assumir o trono de Atlântida no filme anterior e os desafios que são equilibrar essa vida com o seu lado heroico e com a maior aventura de sua vida: ser pai. Agora casado com Mera e pai de Arthur Curry Jr., somos apresentados a uma nova faceta do Aquaman de Jason Momoa, com as típicas nuances que contrastam de forma leve e engraçada com o lado brucutu que Momoa traz só de estar em tela. Paralelo a isso, Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) continua sua busca por tecnologia para conseguir se vingar de Arthur pela morte de seu pai, porém essa buca o coloca de frente com um poder capaz de ameaçar o planeta inteiro, mas ele está disposto a pagar o preço que for.

Ao se fazer uma comparação com o excelente Aquaman de 2018, se percebe que realmente existia uma intenção desse filme ser uma continuação direta, com uma esperança de poder continuar explorando e expandindo toda uma mitologia que tinha tudo para ser riquíssima, mas a verdade é que não foi isso que levado para as telas. Toda a construção visual que enche os olhos ainda está ali, fato inegável e sendo o ponto alto do filme, porém de nada adianta quando o roteiro não se ajuda. Sabendo do grande número de problemas que a produção passou, com regravações constantes, fica explícito que o filme que chegou aos cinemas não passou de uma colcha com os retalhos que sobraram e que tenta se manter firme em cima de um roteiro raso e que parece se apoiar muito em uma cópia da fórmula Marvel, mas pior, com piadas forçadas fora de hora e uma total entrega ao desnecessário.

O filme ganha uma melhora com a volta de Orm (Patrick Wilson) e sua dinâmica de opostos com o seu irmão, lembrando completamente a relação Loki e Thor do MCU (de forma até escrachada) e, obviamente, sabemos quem acaba roubando as cenas. Pode ser que seja mera impressão, mas a forma como Orm é tratado aqui faz parecer quase uma espécie de redenção por Patrick Wilson ter o visual perfeito pra ser o Aquaman nas telas, mas não ter o papel para chamar de seu. Em contrapartida, Momoa perde um pouco o brilho que fez o seu Aquaman calar a boca de muitos nas suas aparições anteriores. Aquele Aquaman que conseguiu acabar com as piadas recorrentes do personagem ser “só um cara que fala com peixes”, na verdade se tornou justamente uma sátira se si mesmo, extremamente perdido em meio a tantas piadinhas desnecessárias. É fácil esquecer o amadurecimento que o personagem teve no seu primeiro filme, e nos 20 primeiros minutos desse segundo, logo que os problemas de verdade começam a aparecer.

Arraia Negra em sua busca implacável acaba se tornando outro problema, mas não pelo personagem em si, mas pelos caminhos que foram escolhidos para ele. Yahya Abdul-Mateen II é um excelente ator, não se tem dúvidas disso, sua construção como o pirata moderno é perfeita no primeiro filme, mas como vilão principal no segundo acaba sendo ofuscado justamente por conta da sua fonte de poder e um roteiro que poderia ter focado mais em como ele é um homem perigoso por si só. Só não fica pior do que a parca participação de Amber Heard como Mera, após os inúmeros cortes que sua personagem sofreu, aparecendo tão poucas vezes que tentam fazer milagres com o que sobrou no corte final.

Aquaman continua com uma mensagem ambientalista fortíssima, com críticas sutis em alguns momentos e nada sutis em outros, coisa que é importante e que pode ter sido bem utilizado, apesar de que muitos podem julgar e exprimir comentários totalmente desconectados com a realidade, porém faz parte do cerne do que foi estabelecido para essa franquia e que deveria se manter no novo universo que virá.

Por fim, Aquaman 2: O Reino Perdido é um filme simples e sem grandes pontos discutíveis, sendo básico o suficiente para ser um filme para ver com a família sem grandes pretensões ou a necessidade de ver todos os outros filmes anteriores simplesmente por funcionar sozinho dentro de sua narrativa. Com toda a certeza não é o melhor filme de herói produzido, também está longe de ser o pior, ele simplesmente é algo e está tudo bem. Com isso o Universo Extendido da DC foi finalmente finalizado e o futuro é uma incógnita.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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