Crítica | O Conde (El Conde)

Nota
1.5

O diretor Pablo Larraín do polêmico Spencer, volta mais uma vez às premiações com El Conde, que traz uma reimaginação de como seria se Augusto Pinochet (Jaime Vadell) fosse um vampiro ganancioso que viveu por séculos. Navegando pela história mundial, El Conde se passa desde a França pré-revolução do século 18, onde supostamente Pinochet teria nascido, entra no Chile dos anos 70, onde o mesmo dá o golpe de estado, até a sua suposta morte forjada. O acompanhamos nesse desespero de não saber mais o que fazer depois de tantos anos de vida e no seu dilema de tentar morrer ou viver mais uma vida. Além disso, ele precisa resolver suas questões de herança, pensando em dividir seus bens roubados para seus 5 filhos.

Conhecido por filmes como Spencer (2021) e Jackie (2016), Pablo Larraín tenta, novamente, em El Conde fazer suas “reimaginações” de pessoas reais em filmes ficcionais. Apesar das polêmicas que envolveram o filme Spencer, protagonizado por Kristen Stewart, o filme consegue funcionar em alguns momentos por se tratar de uma figura muito querida pelo mundo, e consequentemente, não aborda temas tão pesados, delicados e controversos na história da Princesa Diana. O que já não acontece com seu novo filme de 2023. Figuras controversas como Pinochet e até Margaret Thatcher (Stella Gonet), que tem uma breve aparição no filme, é uma linha tênue entre conseguir atingir seu objetivo em criticá-los e acabar na verdade romantizando pessoas reais e que não são bem quistas em seus respectivos países.

Apesar disso, El Conde acerta sim quanto a sua estética. Trazendo um preto e branco completamente diferente de sua última produção, o diretor parece conseguir achar uma estética que lhe favorece bem. Tendo alguns momentos que podem fazer lembrar obras do Wes Anderson, pela narração desde o início, planos bem centralizados e atuações até que caricatas, o filme se mantém até o fim consistente por isso, uma fotografia muito bem pensada, uma direção de arte muito bem executada e da para ver o esforço do diretor de se distanciar de trabalhos anteriores, esforço esse que inclusive lhe rendeu a indicação a melhor fotografia no Oscar desse ano, mas que está fadado a ser esquecido por candidatos mais fortes como Oppenheimer e Pobres Criaturas.

Ainda assim, com tantos acertos, o que deixa a desejar em El Conde? A história flui muito bem, tendo uma abertura que atrai bastante a atenção, mas do começo ao fim fica aquele sentimento de que se esse filme não trabalhasse com pessoas reais, ele conseguiria ir mais fundo na suas críticas, e sem deixar um gosto amargo para os espectadores, especialmente lançando esse filme no aniversário de 50 anos da ditadura chilena, o que não agradou em nada muitos chilenos. Além de que o filme gira em torno da corrupção do Pinochet, mas ainda assim não parece ir fundo o suficiente na sua crítica, deixando o filme todo extremamente superficial.

Bem filmado, bem dirigido e bem produzido, “El Conde” entra numa categoria de filmes desse ano que apesar de tudo isso faz você se perguntar se ele realmente deveria ter sido feito. Já que pegar figuras históricas, como Pinochet nesse caso, e romantizá-lo como um “Conde Drácula” é realmente algo de um extremo mal gosto, ainda mais na marca de 50 anos da ditadura chilena. Mas que pelo visto fica o questionamento se o diretor Pablo Larraín não consegue pensar em tramas que não envolvam pessoas reais, ou se ele realmente quer focar sua carreira em filmes “polêmicos” para conseguir alguma notoriedade.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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