Crítica | Oppenheimer

Nota
5

“I am become Death, the destroyer of worlds” (em tradução livre “Eu me tornei a Morte, a destruidora de mundos”)

(OPPENHEIMER; J. R.)

Qual o preço que alguém está disposto a pagar para se tornar um novo Prometeu e guiar a humanidade para uma nova era desconhecida? Até que ponto é possível que a ciência, a ética e a moral conseguem andar lado a lado sem que ocorra uma fissão capaz de gerar a reação em cadeia que possa levar o mundo um passo mais próximo da sua destruição? Até que ponto o criador é responsável direta e indiretamente pelos caminhos que terceiros dão a suas criaturas?

Após muita espera e justa expectativa chega aos cinemas brasileiros Oppenheimer, aquela que pode ser considerada por muitos a melhor obra cinematográfica do diretor e roteirista Christopher Nolan (Amnésia). A cinebiografia daquele que é conhecido como “O Pai da Bomba Atômica”, baseada no livro Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, retrata de forma excepcional um dos personagens mais importantes da história moderna e sua participação na idealização, direção e construção da arma que mudaria para sempre os rumos da civilização como se conhecia, passando por suas escolhas, acertos e erros que lhe elevariam ao status de reconhecimento máximo e eventual queda.

J. Robert Oppenheimer foi o físico teórico responsável pelo Laboratório de Los Alamos, principal local onde ocorreu o desenvolvimento da bomba atômica durante a corrida atômica da Segunda Guerra Mundial, também conhecido pelo codinome de Projeto Manhattan. Cillian Murphy (Dunkirk) foi o escolhido para a tarefa de encarnar o controverso personagem-título – mantendo também sua parceria com o diretor iniciada em Batman Begins – e só existe uma palavra para definir sua atuação: brilhante. Murphy está no auge de sua performance como ator de forma que consegue extrair toda a essência do cientista e transmiti-la para o espectador. É visível o quão confortável e entregue ao personagem Murphy está, conseguindo transmitir toda a carga necessária.

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O filme mais ambicioso de Christopher Nolan conta com um elenco digno dessa ambição, mas com sua devida problemática: muitas figuras importantes e representadas por um elenco de peso, mas que podem não suprir a vontade do público nas suas devidas aparições. Durante as mais de 3h de longa, o público é apresentado a importantes figuras históricas, que fizeram parte do caminho até a construção daquela que seria considerada a arma mais poderosa do século XX. Desde antes de assumir a cátedra na Universidade da Califórnia o caminho do físico cruzou de figuras como Niels Bohr (Kenneth Branagh) e Werner Heisenberg (Matthias Schweighöfer), além da figura carismática do Albert Einsten de Tom Conti.

Os maiores destaques e elogios quanto a atuação deve ser destinada principalmente a Robert Downey Jr. (Vingadores Ultimato), como Levis Strauss, membro da Comissão de Energia Atômica (AEC) e Emily Blunt (Um Lugar Silencioso) como Katherine “Kitty” Oppenheimmer, bióloga, botânica, membra do Partido Comunista e esposa do físico.

O filme foi anunciado como sendo dividido em duas partes: as coloridas, trazendo a visão subjetiva dos eventos pelo olhar de Oppenheimmer, e as em preto e branco, sendo elas as visões de terceiros sobre o cientista e tudo o que o cercam, e são justamente nessas últims que a atuação de Robert Downey Jr. brilha. A história não possui heróis e vilões, o mundo não é preto no branco, com clara definição de quem é mal e quem é bom, na verdade as escalas de cinza que pintam a atuação de Jr. podem ser perfeitas para ilustrar esse pensamento. Já quando se fala da necessidade de cores para definir sentimentos, nada mais justo do que utilizar toda a carga emocional e o debate social trazido por Emily Blunt ao encarnar Kitty, sua energia em cena rivaliza com a da própria bomba.

Menções honrosas paras as primorosas atuações de Matt Damon (Ford vs Ferrari) como o General Leslie Groves, Florence Pugh (Viúva Negra) como a psiquiatra e ativista comunista Jean Tatlock e Dane DeHaan (A Cura) no papel de Kenneth Nichols. Também é ótimo poder ver rostos como os de Devon Bostick e Josh Peck no longa.

Verdades sejam ditas: Oppenheimer foi feito para ser assistido em salas IMAX. Toda a potência visual e sonora que a obra traz pode e deve ser vistas em sua potência máxima permitida, porém isso não deve ser uma espécie de impedimento para assistir em qualquer outro formato. A escolha de Nolan em usar efeitos práticos em contrapartida ao uso de CGI, que domina a indústria atual, é sentida desde o início, mostrando seu uso máximo no clímax do filme. Claro, nada disso seria possível sem a belíssima fotografia, acompanhando toda a construção visual quanto ao Universo e o poderio da atomicidade que desejam explorar, tudo isso sendo complementado pelos arranjos musicais criados por Ludwig Göransson, finalizando assim todo o clima necessário e elevando a experiência ao máximo em qualquer versão. Não existirá nenhum tipo de perda narrativa ao não se assistir em IMAX e isso que deve ser o foco: a história que faz com que se saia da sala do cinema totalmente impactado, absorvendo tudo que ocorreu durante o longa.

Oppenheimer é um dos filmes que faz os aficionados por cinema falarem que a Sétima Arte ainda vive, e aqueles que só estão à procura de um bom filme se sentirem verdadeiramente impactados com o que acabaram de assistir. Oppenheimer é puro Cinema.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

1 resposta

  1. Meu deus, esse filme é maravilhoso! Eu quero muito ver!!! Não sabia que tinha Einstein, parece bem completinho. Fora o 95 no rotten tomato

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