Crítica | Batman (The Batman)

Nota
4

“- Quem é você?
– Eu sou a Vingança!”

Faz cerca de um ano que Bruce Wayne se tornou o herói de Gotham, enchendo de medo os corações dos criminosos e surgindo, subitamente, das sombras de Gotham City para punir os criminosos, numa busca por resolver, do seu jeito, a criminalidade de Gotham. A Vingança, como é chamado por alguns, possui como aliados apenas seu mordomo, Alfred Pennyworth, e seu contato na policia, o tenente James Gordon, que é justamente quem o chama para uma nova cena de crime: Don Mitchell Jr, o prefeito de Gotham, foi assassinado e deixado em uma cena montada, com um dedo faltando e uma carta endereçada ‘Ao Batman‘, o primeiro de uma série de crimes que faz Charada estampar as manchetes dos jornais.

Depois de vermos diversas peças do vacilante Worlds of DC brilhando na telona, Todd Phillips arriscou tudo com sua proposta em Coringa (2019), um filme que se desapega completamente do Universo Compartilhado e, talvez por isso, tenha tido a chance de se perpetuar como uma das melhores obras da atual geração da DC. A proposta ganha um novo adepto agora, em 2022, com a obra dirigida por Matt Reeves e baseada num roteiro coescrito por ele e Peter Craig, um novo ponto de vista para a história de Batman que pode ser surpreendente em certos pontos, mas exagera em alguns outros. Fica claro desde o inicio que Matt Reeves não buscava ser inovador, no sentido cinematográfico da coisa, e isso fica evidente quando, como introdução do filme, vemos Bruce Wayne narrando a realidade da cidade enquanto circula à noite na chuva, numa clara homenagem ao poderoso discurso de Taxi Driver. Se posicionando como uma releitura clara e direta de Ano UmO Longo Dia das Bruxas, a produção abraça a ideia de se tornar um noir investigativo complexo, fugindo completamente do ideal de ‘filme de herói’ para se apropriar de uma receita que parece ser a perfeita aposta para o futuro da DC nos cinemas, uma proposta mais dramática, sombria e intensa emoldurando um discurso moralista e controverso.

Protagonizando a produção temos o duvidoso Robert Pattinson, que desde seu anuncio para o papel dividiu opiniões de uma forma brutal, mas eis que a chegada do longa trouxe a resposta para as milhares de perguntas: o Homem-Morcego de Robert Pattinson é espetacular, o ator empresta um tom dramático e depressivo palpável ao personagem, que ainda busca a vingança contra os homens que estão destruindo a moral de sua cidade, dando uma encarnação dramaticamente expressiva e trazendo uma profundidade inédita ao personagem. O personagem parece ter uma consciência política precisa, o filme em si é movimentado por tramas politicas muito mais do que criminais, e isso é o que faz com essa versão do Batman quase não tire a mascara durante todo o longa, dando pouco espaço para conhecermos Bruce Wayne, apesar de que nas poucas cenas fica uma impressão de que Pattinson não consegue ser um bom Bruce, muito mais mimado, frágil e dependente do que o personagem merecia, tendo um contraste incomodo entre o Batman e o Bruce que faz parecer que estamos encarando duas pessoas diferentes e não duas faces da mesma pessoa. Jeffrey Wright entrega um Gordon mais cuidadoso, ele ainda é um tenente, assim como em Ano Um, e precisa se submeter aos Comissários, mesmo assim ele consegue ter certas rebeldias ao abrir brechas para a ação do Batman, entendendo a importância dele para a cidade e para o combate à corrupção que lá existe.

Não há como deixar de citar a importância de Zoë Kravitz para o longa, fica claro durante toda a produção que os melhores momentos do filme envolvem sua Mulher-Gato. Essa versão de Selina Kyle, assim como a de Gordon, parece ter saído diretamente de Ano Um, onde ela trabalha em uma boate e tem uma amiga que precisa proteger, é justamente essa amiga quem induz Selina a se envolver com o Batman, Annika está conectada com Don, e isso faz com que ela seja uma peça importante no jogo de corrupção da cidade e na encenação que Charada começa. Kravitz surpreende positivamente com seu jogo sensual para a câmera, ela complementa as tomadas meio voyeuristas do Batman, que nos leva a cenas em primeira pessoa com um binóculo e dão um ar de proibido ao longa, nos apresentando uma versão de Selina que não sabíamos ser tão necessária. A relação entre Batman e Selina é explosiva, eles parecem dois lados da mesma moeda obscura que circula pelas mãos criminosas de Gotham, ambos buscando justiça e vingança ao mesmo tempo que possuem um passado cheio de manchas. Se a Warner deseja ter uma Selina Kyle no DCEU, vai ser praticamente impossível encontrar outra Mulher-Gato que se encaixe tão perfeitamente em live-action que não seja a Zoë. Andy Serkis no papel de Alfred rouba a cena, apesar de ter pouquíssimo tempo de tela, ele bate de frente com diversas tiradas acidas de Bruce (que incomodam um pouco o público), assumindo um tom mais disciplinar do que protetor, o que faz com que cada cena dele seja marcante.

Apesar de não mostrar a origem de Batman, podemos facilmente considerar The Batman como o melhor filme de origem do vigilante de Gotham City, lembrando muito da premissa que deu certo na Trilogia Nolan. Fugindo do padrão fantasioso que envolve os mais diversos rivais do Homem-Morcego, durante as três horas de filme temos o vigilante num mundo onde o maior perigo é a máfia de Pinguim e Carmine Falcone e o trafico de Sal Maroni, até o surgimento do serial killer Charada, um enredo muito mais realista e carnal, com uma série de eventos muito mais factíveis. A escuridão do longa é um de seus grandes artifícios, isso faz com que cada uma das diversas trucagens de luz e desfoques sejam ainda mais intensas, como fica claro na ascendente cena de perseguição do Bat-Móvel contra o Pinguim, algo que só orna ainda mais com divina fotografia de Liverpool e Glasgow, cidades que emprestam um tom cru e gótico à Gotham e a torna uma protagonista ao lado de Pattinson. Bem executado e cheio de camadas, não é de se duvidar que, se tiver força suficiente para chegar ao Oscar de 2023, possamos ver The Batman ganhando indicações para Melhor Som, Melhor Fotografia e até Melhor Edição.

“O medo é uma ferramenta.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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