Review | She-Hulk: Attorney at Law [Season 1]

Nota
3

“Ser super-herói, é uma prova de fogo […] Quem vai proteger o mundo se não pessoas como você?”

Jennifer Walters tem uma vida complicada, ela é uma super competente advogada mas, há alguns meses, acabou se envolvendo em um acidente de carro com seu primo, Bruce Banner, o que acabou criando ferimentos em ambos e, enquanto se salvavam, fez o sangue de Jennifer ser contaminada pela radiação gama do Hulk, o que a transforma em uma super-heroína verde de dois metros, a Mulher-Hulk. Tendo recebido um cansativo treinamento pra controlar seus novos poderes, saber transicionar entre a forma humana e de hulk e ser capaz de retornar à sua carreira jurídica, já que Jennifer renega completamente em se tornar uma super-heroína em tempo integral. Quando sua dupla identidade acaba fazendo com que Jennifer seja demitida do escritório do promotor público, ela recebe de Holden Holliway a proposta de trabalhar na Goodman, Lieber, Kurtzberg & Holliway (GLK&H) como lider numa nova divisão do escritório, a Divisão de Direito Super-Humano, uma divisão focada em trabalhar com casos onde seja preciso defender ou acusar um super-humano.

Desde 1989 existem planos para termos uma versão live-action da Mulher-Hulk, mas toda proposta acabava sempre sendo engavetada antes de começar realmente a ser gravada, até que Jessica Gao recebeu uma grande oportunidade: apresentar um roteiro para Viúva Negra. Com uma proposta completamente insana para o filme, Gao conquistou os executivos da Marvel mas não foi contratada, ela foi chamada novamente para roteirizar Capitã MarvelShang-Chi, mas sua proposta nunca acabava se encaixando no tom que os executivos queriam para o filme, até que surgiu a ideia de se trazer Jennifer Walters para o Universo Cinematográfico Marvel, e os executivos souberam exatamente quem tinha capacidade de colocar na série o tom de humor e nuances que a personagem precisava para funcionar, trazendo Gao para o comando do roteiro de uma série que iria quebrar completamente os padrões de narrativa do UCM e acabou conquistando os fãs da franquia. Se baseando amplamente na versão de John Byrne, Gao criou uma Mulher-Hulk capaz de quebrar a quarta parede, consciente de estar dentro de um universo cinematográfico e pronta para caminhar lado a lado com os espectadores, abrindo portas para provar até o quanto uma produção de Deadpool é capaz de funcionar facilmente dentro do MCU.

Tatiana Maslany sempre provou o quanto é capaz de sustentar uma bem uma série e carregar bastante com humor suas cenas, é impossivel não olhar para uma cena do insano Orphan Black e não aplaudir a versatilidade da atriz, e é justamente esses dois pontos fortes que mais são necessários para uma Mulher-Hulk ideal. Tatiana entrega uma Jennifer incrivel, ela consegue construir uma personagem complexa, que luta internamente para aceitar suas duas identidades e luta o tempo todo para ser reconhecida por sua competência, e a forma como o enredo coloca o dedo na ferida ao provocar as pessoas que se incomodam com o protagonismo feminino é sutil e eficiente. O humor da série é delicioso, mostrando o quanto Gao merecia ter seu estilo espalhafatoso concretizado dentro da Marvel e o quanto Maslany soube pegar a peteca e jogar nas alturas. Outro grande nome na série é Jameela Jamil, interprete da antagonista principal para Jennifer, Titânia, uma influencer com uma força incrível que acaba ficando obcecada pela Mulher-Hulk quando é subjugada por ela após um encontro acidental, uma personagem que brinca com o ridiculo e poderia ter ganhado melhor desenvolvimento na série, mas perde muito pela falta de espaço, se tornando muito mais um acessório no decorrer da trama do que realmente uma ameaça. As participações de Mark Ruffalo como Bruce são pontuais, mas são eficientes, a série aproveita muito do tempo para preencher lacunas e desenvolver o personagem longe dos Vingadores, mas ao mesmo tempo sabe usar (e fazer piadas) das suas ‘participações da semana’ , se desenvolvendo como uma mistura de série de tribunal com humor, usando o formato de trazer cada episódio focado em um caso enquanto cria um arco que, aos poucos, constroi uma história completa. Além de tudo, por trás das câmeras, temos a super competente Malia Arrayah, atriz de um metro e noventa que assume o papel de modelo de corpo para a versão Hulk de Jen, dando ao show um plus ‘à altura’.

Divertida e capaz de se autocriticar, a primeira temporada de She-Hulk é completamente fora dos padrões Marvel, e isso é bom. Claro que a série não é perfeita, ela traz muitas falhas, começa com um ritmo lento e demora um pouco para conquistar o público, mas quando pega velocidade a série consegue se fortalecer e usar seu humor autorreferente para superar as expectativas, capaz de expor até as falhas da Marvel e dar voz aos fãs, trazendo a tela críticas ao Universo que faz parte ao mesmo tempo que o expande, indo além do esperado ao trazer, ao final de cada episódio, um novo conjunto de artes refletindo os últimos eventos e uma nova cena no meio dos créditos que exclama a comédia. Como se não bastasse a ousadia que Gao emprega no decorrer do show, a season finale supera as expectativas e, de uma forma inicialmente incomoda, explora as oportunidades alcançadas com a série para criar uma das mais icônicas (e hilarias) reviravoltas das produções da Marvel. Capaz de incomodar os fãs mais convencionais, o show sabe zoar da Marvel e parece ter culhões para não precisar pedir permissão, coisa que acaba fazendo o espectador relevar os diálogos previsíveis e o CGI pobre, além disso ele mostra o quanto Tatiana Maslany é a verdadeira dona da série, mostrando força, carisma e potencia sem medo, entregando uma Mulher-Hulk que não achavamos que precisavamos.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *