Review | Elite [Season 7]

Nota
2.5

“Essa sou eu… Ou pega ou larga… Vai pegar?”

Depois do tiroteio na frente de Las Encinas, a relação de Dídac e Isadora fica um pouco abalada, a Imperatriz de Ibiza sente o peso da decisão de escolher ficar com o Herdeiro da Máfia ao mesmo tempo que ainda precisa lidar com os danos psicologicos remanescentes do estupro que sofreu. A relação de SaraRaúl segue cada vez mais tóxica, principalmente agora que os dois guardam o segredo da verdade por trás do atropelamento de Ivan e Raúl está cada vez mais violento para forçar Sara a não ceder à culpa e se entregar. Ivan volta oficialmente a Las Encinas, mas antes acaba conhecendo um entregador chamado Joel, um garoto com quem divide um momento de intimidade e resolve trazer para perto, usando seu dinheiro para matricula-lo em sua escola. Não muito longe, Omar está tentando reestruturar sua vida agora que está na universidade, ainda lidando com a culpa pela morte de Samuel e fazendo terapia, mas sua vida foge dos trilhos quando ele aceita uma vaga de estágio em Las Encinas, uma escolhe que ele acaba fazendo depois que Joel, seu namorado, acaba sendo misteriosamente premiado com uma bolsa no lugar que lhe deixou cheio de pesadelos, um evento que o coloca de volta a todo furacão que envolve a escola e seus alunos. Mas não basta todo o caos que os alunos possuem, o que ninguém sabe é que Martín Artiñán, o novo Diretor de Estudos em Las Encinas, é na verdade um investigador da Policia Nacional trabalhando em um caso para derrubar as famílias Ramos Vico e Artinian Goldstein, respectivamente as familias de Dídac e Isa.

Chegamos ao sétimo ano da produção criada por Carlos Montero e Darío Madrona, depois de uma sexta temporada mais madura, a série encara o desafio de enxergar seus erros e acertos e garantir uma evolução. Com a chega de novas personagens e a volta de um dos antigos, a série consegue encarar melhor alguns dilemas que merecem destaque. O grande destaque da temporada começa sendo Omar, pela primeira vez a série decidiu realmente tratar os danos psicologicos deixados em um personagem que conviveu com o rastro de mortes que a série deixou pelo caminho, ele foi sugado para as investigações das mortes de Marina Polo, ajudou a encobrir a morte de Armando e presenciou a morte de Samu, tudo isso cobra seu preço e podemos ver a dor que o personagem emana a cada aparição. Outro ponto chave da trama é a chegada de Carmem e sua filha, Chloé, enquanto a mulher resolve se mudar para Madri para se reaproximar de Ivan, seu filho que foi afastado dela por Cruz, sua filha chega para abalar Las Encinas com sua rebeldia, depudor e impulsividade, vazando um vídeo intimo propositalmente no primeiro dia de aula para garantir que vire o assunto das conversas de corredores e do desejos dos garotos. O grande misterio da temporada gira em torno do aplicativo Habla, que Omar está gerenciando para Las Encinas, onde um aluno começa a, anonimamente, se comunicar pedindo ajuda, o que faz o espectador ficar tentando identificar entre os padrões quem é o personagem que precisa de ajuda, nada de crime da temporada, de grande misterio para ser resolvido, o que quebra violentamente o padrão, e deixa uma lacuna para espectador, uma sensação de que falta algo que realmente dinamize a temporada.

Apesar de cheio de adições importantes e tramas relevantes, a temporada não se sustenta como deveria, o roteiro consegue alavancar debates extremamente necessários, mas não consegue dar a devida atenção a eles, temos a doença de Eric, o dilema de Isa, a jornada de Carmem, a evolução de Chloé e as idas e voltas de Joel, Omar e Iván, mas nada disso consegue ter tempo de tela suficiente para realmente ser tratado como merece, é como se fosse só um projeto de conscientização que no final acaba ofuscado pela volta da profusão soft porn da série. Uma grata surpresa é Anitta, que chega na série para uma participação como Jéssica, uma professora de Las Encinas que resolve dar aulas de defesa pessoal para algumas garotas depois que percebe sinais de alerta na relação de Sara e Raúl, acabando por se aproximar de Sara e ajuda-la a enxergar seu relacionamento abusivo, ela surpreende ao entregar uma boa atuação, superando as expectativas de muitos. O episódio “Ponto e vírgula” (7×04) ainda traz a participação especial de Khosi Ngema como Fikile, sua personagem na série sul-africana Blood & Water, que apresenta um programa de intercâmbio a Ivan e garante o primeiro crossover das duas séries da Netflix e preludia a futura participação de André Lamoglia em Blood & Water. Por outro lado, “The Family” (7×05) ganha o prêmio de episódio mais desconfortavel da série, entregando uma cena que extrapola os limites e cria um dos momentos mais dolorosamente tóxicos da série, uma cena que com certeza nunca deveria ter sido cogitada pelo roteiro, quanto mais ter chegado a ser colocada na série.

Caindo vertiginosamente em questão de roteiro, a sétima temporada de Élite é, com certeza, a pior da série. Mesmo sendo dotada de tantos discursos que poderiam valer muito a pena, a série não consegue fazer eles render, é como se toda a maturidade que a série encontrou no ano anterior tivesse sido descartada nesse ano, entregando a fala de Chloé no começo da série como uma direta para os espectadores (“Ou pega ou larga… Vai pegar?”). Desculpe o possivel spoiler, mas é revoltante perceber que a série traz Eric para desenvolver uma trama envolvendo saúde mental, deixa claro que existe um problema, mas não chega a nomear sua doença em momento nenhum, deixando no ar os sintomas para o público tentar decifrar e diagnosticar, um enorme desserviço que a série chega a cometer, e esse nem é o mais grave deles. Mudando completamente sua estrutura, perdendo completamente o valor do seu roteiro, subaproveitando ao extremo seu elenco, a sétima temporada de Élite tinha tudo para desenvolver uma trama profunda e cativante, mas entrega sete episódios de puro filler e uma season finale onde conseguem dar uma recuperada no controle do roteiro e entregam um episodio mediano. A sensação que fica no final é que poderiamos facilmente esquecer que existe uma sétima temporada de Élite e torcer para a oitava, e última, conseguir retomar o controle e colocar a série nos trilhos ao invés de descarrilhar de vez.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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