Review | Crime Scene [S2: The Times Square Killer]

Nota
4

“Nos anos 70, a Times Square era uma atrocidade.”

Quando, no dia 2 de desembro de 1979, os bombeiros receberam um chamado às 9:30 para um incendio num hotel no West Side, eles não sabiam o que estava por vir. Ao adentrar no quarto 417 do Hotel Travel In, eles encontraram duas mulheres carbonizadas em duas camas de solteiro, ambas com a cabeça e as mãos decepadas, eles sabiam que não se tratava de um incendio comum, era um degenerado que tinha iniciado o incendio para apagar os rastros de seu crime. Como investigar um crime tão complexo sem as digitais e o rosto, principais formas de indentificação na época, num periodo onde cameras de segurança não eram comuns e testes de DNA ainda não tinha sido criados? Como encontrar um assassino na Times Square, o lugar de maior indice de crimes de Nova York na época? Principalmente quando esse crime acontece na Rua 42, a parte mais obscura da Times Square, populada por festas, prostituição, trafico e tantas outras ilegalidades.

Dirigida Joe Berlinger, a série é uma clara indicação do quanto a Netflix se agradou do primeiro documentário de Belinger, The Vanishing at the Cecil Hotel, o que lhe garantiu uma renovação da minissérie para uma ‘sequência’. Seguindo o mesmo padrão da série anterior, o diretor decide focar muito mais do local onde os eventos aconteceram do que realmente no assassinato em si, fica claro a cada segundo de “Murder on 42nd St.” o quanto a Rua 42 se torna um personagem muito mais relevante do que Richard Cottingham (o assassino do qual o documentário se propõe a apresentar). Logo somos apresentados ao assassinato de duas prostitutas (vale lembrar que uma das vítimas é presumidamente prostituta, não tendo sido identificadas até hoje) no Travel In, e enquanto o episódio deixa o assassino de lado, vamos vendo uma mistura de cenas de entrevistas televisivas feitas na época com testemunhos atuais de envolvidos nas investigações e personalidades relevantes para a trama, como Veronica Vera, uma atriz pornô que frequentava muito a área; Jennifer Weiss, uma mulher que foi adotada e em 2002 acabou descobrindo ser filha biológica de Deedeh Goodarzi, uma imigrante do Kuwait que trabalhava como prostituta e que era uma das mulheres do Travel In; Rod Leith, um reporter criminal que colaborou com a investigação na época, ajudando até na divulgação das fotos das roupas que ajudou a identificar uma das vítimas; Vernon Geberth, o Comandante da Homicidios na época; e Dominick Volpe, um operador de Manhattan que trabalhava com Cottingham.

“Um perito em perfil só diria uma coisa: é um assassino em série, ponto.”

Apesar de “Murder on 42nd St.” apresentar Cottingham e até nos levar até os eventos de 15 de Maio de 1980, onde os bombeiros foram chamados para um incendio no Hotel Seville, a leste da Times Square, e acabaram encontrando o corpo de Jean Ann Renyer, a chegada de “The Perfect Hunting Ground” é onde começamos a ver a história focando na busca por suspeitos, quando vamos explorando o quanto os crimes começaram a mudar o comportamento da policia local e até das profissionais do sexo. É durante esse segundo episódio que conhecemos mais profundamente sobre Cottingham, sobre como o homem acabou chegando na mira da policia e depois foi descartado por não bater com o perfil do assassino, mas também é durante esse episódio que vemos o principal motivo das mortes continuarem acontecendo e da investigação ser tão dificil: as prostitutas, principais vítimas do assassino, viviam uma guerra com a policia, com mulheres sendo presas por seu trabalho, boates sendo fechadas, cafetãos sendo caçados e tantas outras intervenções que a faziam ter medo de se assumir prostitutas para a policia ao contar sobre o que viram ou viveram e ajudar na busca pelo homem no retrato falado. É incrivel como, só com esses dois episódios, fica claro o estilo documental de Berlinger, ele não cria seu documentário para narrar a história de um assassinato, o documentario é realmente focado na ‘cena do crime’, nas histórias que envolvem o lugar onde os crimes aconteceram, e no quanto essas histórias tem uma interferencia poderosa no progresso de investigações criminais  tão famosas, ele não quer entregar mais um documentario sobre assassinato, ele foca no contexto que poucos escolhem aprofundar, todos sabem que Cottingham foi o assassino da Times Square, mas quem já teve a chance de entender como estava a atmosfera de Nova York na época que Cottingham cometeu seus dezoito crimes?

Com uma abordagem fora do previsivel, The Times Square Killer chega para complementar tantos outros documentarios, ele entrega três episódios de cerca de 50 minutos com abordagens bem definidas, citando sempre sobre a presença de Richard Cottingham no contexto que esmiuça, mas o colocando muito mais como uma presença dentro da Times Square do que realmente como o principal foco. Com uma abordagem que desenvolve muito mais os habitantes das redondezas da Times Square e as últimas cinco vítimas de Cottingham, acabamos ficando com um retalho que foca nos eventos de 1979 até 1980 (após a ultima confissão de Cottingham, feita em 2023, é considerado que seu primeiro assassinato aconteceu em 1967). A minisserie lançada em 29 de dezembro de 2021 é muito mais do que uma história sobre um assassino, ela é um registro histórico sobre a Times Square durante a ‘era de ouro dos assassinos em série’, pode até parecer um pouco longa demais em certos pontos, mas é um verdadeiro banquete para os verdadeiros viciados em true crime e documentarios sobre assassinos em série.

“Bob, poderia ter sido você, poderia ter sido eu…”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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