Crítica | Minha Irmã & Eu

Nota
4

“Ninguem na cidade sabe onde mamãe tá […] Bora pra Goiás, vamo atrás dela!”

Mirian Mirelly cresceram em Rio Verde, interior de Goiás, com o sonho da mãe, Dona Márcia, de transformá-las em uma dupla sertaneja, mas elas acabam crescendo e seguindo caminhos diferentes. Enquanto Mirian resolve ficar na serenidade da vida no interior, se dedicando integralmente a ser uma boa mãe, esposa e dona de casa, Mirelly decide se mudar para o Rio de Janeiro, onde exibe uma vida glamourosa nas redes sociais, rodeadas de amigos célebres como Lázaro Ramos e Iza, enquanto na verdade tudo não passa de fingimento, ela está cheia de dividas e trabalha como cuidadora dos animais de estimação das celebridades. Mas a vida delas leva um choque quando, um dia após a festa de aniversário de Dona Márcia, onde as irmãs brigaram sobre quem deveria cuidar da mãe dali para frente, a matriarca desaparece. Desesperadas, Mirian e Mirelly precisam deixar suas discordâncias de lado e se unir para descobrir o paredeiro de Dona Márcia, uma jornada que faz com que uma veja a outra com novos olhos, revela verdades ocultas e muda completamenta e profundamente o destino da vida das duas.

Com direção de Susana Garcia, é impossivel não olhar para as primeiras cenas do longa e não sentir a conexão emocional ao captar a assinatura da cineasta, que já nos entregou diversas obras da comédia nacional como Minha Mãe é uma Peça 3, Minha Vida em Marte e tantas outras obras que garantiram a Susana o posto de diretora brasileira dos filmes mais vistos pelo público na história do cinema nacional, e é essa conexão emocional que conforta o espectador na cadeira e o deixa muito mais aberto ao humor físico e deslimitado que todos conhecemos de Ingrid GuimarãesTatá Werneck. Susana sabe brincar o humor e o drama ao ponto de fazer o publico se identificar com as situações vividas pelas personagens, criar uma narração em off tocante para potencializar a história e até jogar cenas de flashback que fortalecem o enredo e dão humanidade em meio à loucura que é a mistura explosiva das duas atrizes protagonistas.

Enquanto Miriam é detalhadamente bem construida como a submissa do lar, com um sotaque marcado, uma dedicação herculea aos seus familiares e até protagonizando diversas cenas onde se diminui perante os outros para manter o lar equilibrado, Mirelly se mostra o oposto, com uma liberdade moral e sexual, disposta a se meter nas mais diversas confusões para sair tirando vantagem e capaz das maiores loucuras para sustentar a farsa que criou, escondendo todo o medo da reação que sua familia vai ter quando descobrir que ela não deu certo na vida, como se sentisse receio de dececpcionar sua mãe e sua irmã. Apesar do elenco ainda contar com outros grandes nomes, o roteiro sabe como não diminuir a presença de tela do elenco brilhante ao mesmo tempo que consegue manter o tempo todo o foco na dupla protagonista, sabendo até os momentos certos de ‘separar e conquistar’, colocando as das em situações separadas para construir mais eficientemente a piada e a trama. Arlete Salles mostra força e determinação em suas cenas, deixando claro o papel que assume da mulher que está em busca de viver sua vida depois de tantos anos vivendo em função das filhas, George Sauma sabe manter o seu humor pontual, que surge com piadas rápidas ao lado de Werneck e constroi seu personagem mesmo fora de cena, e Leandro Lima sustenta bem todo o arco que se vê envolvido, juntando com facilidade seus dois últimos trabalhos para construir um personagem intenso, caricato e surpreendente.

Resgatando a mágia do comédia nacional pós-pandemia, Minha Irmã & Eu mira na simplicidade do humor fácil e cria uma harmonia pálpavel entre a comédia e o drama. Claro que não se pode negar que Tatá Werneck tem um ritmo próprio de comédia, com sua metralhadora de palavras e improvisos que criam um caos, mas mostra a evolução que alcançou trabalhando em novelas ao ter a capacida de criar pausas dramáticas, que dão espaço para o filme tratar assuntos mais sérios, e logo depois, de forma extremamente natural, sacar uma piada que nos atinge violentamente (como é o caso do retrato falado do Cowboy ou ela se escondendo de Taís Araújo), mas Susana mostra toda a sua competência quando consegue lidar com esse ritmo, fazer ele funcionar dentro do filme e ainda encaixar no ritmo de Ingrid Guimarães. O longa ainda coloca as tipicas cenas de bastidores durante os créditos, e é nelas que vemos o brilho de Susana, mostrando o tato e a seriedade que a diretora têm, que expõe a experiência que, com toda a certeza, foi construido no decorrer dos anos de convivência com a irmã, Mônica Martelli, e ouso até dizer que pode ter alguma leve inspiração em Mônica e Susana para a construção das personagens. Com uma interessante pegada de road movie misturada com lado cômico das produções nacionais, a produção apresenta uma singela história sobre familia e auto-descoberta que vai fazer a plateia se emocionar e rir sem parar.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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