Crítica | Jogos Mortais 4 (Saw IV)

Nota
4

“Você acha que acabou só por que estou morto? Pois não acabou. Os jogos acabam de começar.”

John Kramer, o homem que durante muito tempo aterrorizou diversas pessoas sob o codinome Jigsaw, está morto, mas sua morte não significa exatamente que os Jogos chegaram ao fim. Quando sua autópsia revela uma fita gravada por ele, que está coberta com cera e guardada em seu estômago, o Detetive Hoffman descobre que os jogos apenas começaram e ele agora está dentro do seu próprio jogo, planejado por Jigsaw antes de morrer e que o desafia a encontrar sucesso onde os outros falharam. Tudo começa a ficar ainda mais agitado quando o corpo da Detetive Kerry é encontrado, levantando a suspeita que Amanda Young, a aprendiz de Jigsaw, teria um cumplice, colocando os agentes Peter Strahm Lindsey Perez ao lado de Hoffman no caso e abrindo uma brecha para que Hoffman e o Tenente Daniel Rigg, os últimos oficiais ainda intocados por Jigsaw, sejam sequestrados.

Assumindo a direção pela terceira vez, Darren Lynn Bousman parece finalmente enxergar a preciosidade da franquia e, em cima do roteiro de Patrick Melton, Marcus Dunstan e Thomas H. Fenton, constroi um capitulo da franquia mais focado em expandir a mitologia do que realmente no gore. Brincando com a linearidade do tempo e do roteiro, o longa vai viajando por diversos pontos do presente e do passado para nos levar mais a fundo no progresso de Rigg no teste, para nos aproximar dos relatos de Jill Tuck, para nos explicar como Art Blank se encaixa nessa equação e, principalmente, nos levar pela revelação sobre o passado de John, um homem comum que amava ao próximo até que sua vida virou de cabeça para baixo ao perder Gideon e descobrir o câncer, uma verdadeira construção teatral da morte de John Kramer como todos conheciam e do nascimento de Jigsaw. Os 90 minutos que Rigg tem para cumprir a missão perdem a importancia ao lado de tanto enredo que vai se desembrulhando, fazendo o filme ter duas histórias que avançam paralelamente e que prometem se unir em um final épico, resgatando o espirito que se perdeu no decorrer dos filmes e que pode ter ressurgido junto com a volta de James Wan e Leigh Whannell, criadores da franquia, como produtores-executivos.

Há uma grande inteligencia por trás da escolha do roteiro em manter Tobin Bell, mesmo depois da morte de seu personagem, no centro da narrativa, ele é o verdadeiro astro da franquia, os policias podem passar e ser descartados mas Jigsaw tem um poder enebriante que cativa o público. O ator ainda ganha mais espaço com o decorrer do longa, deixando de lado todo o mistério que existe nos planos do serial killer para interpretar um homem, um humano que precisa ver tudo que importa em sua vida ir se desfazendo e começa a se transformar no gênio assassino que conhecemos, é uma construção mais humana de John e que vai nos conectando com suas crenças, que vai nos fazendo entender o que fez aquela chavezinha assassina virar na sua cabeça. Lyriq Bent equilibra a trama protagonizando sua parcela do enredo de forma intensa, no papel de Rigg ele se vê obrigado a lutar para salvar Hoffman e Eric Matthews, ele precisa passar por uma sequência de testes que não coloca sua vida em risco mas coloca sua moralidade e sua consciência na mesa, até onde ele é capaz de afundar moralmente para colocar em prática os planos de Jigsaw e tentar salvar seus amigos? Até onde ele pode ir num teste que claramente está o preparando para ser um discipulo do assassino? A presença de Scott Patterson (Agente Strahm), Athena Karkanis (Agente Perez) e Betsy Russell (Jill Tuck) podem ser pontuais, mas ajudam a construir a presença dos personagens no universo e permitem que toda a exploração dos dois focos narrativos aconteça, é através de Jill que conhecemos o passado de John e é através de Strahm e Perez que começamos a enxergar o mecanismo por trás dos testes que Rigg passa.

Recheado de adrenalina, Jogos Mortais 4 muda a abordagem ao focar numa narrativa mais confusa e retalhada sobre o passado, percebendo que uma trama baseada nas armadilhas, que continuam interessantes, não se sustenta sozinha. Ninguem se importa verdadeiramente com o mistério que levou os jogadores ao jogo quando eles estão ali só para morrer, a verdadeira história está no desenvolver da trama de John e, a partir do segundo filme, de seus ajudantes. Nesse longa a linha do tempo é a protagonista, ela se mistura e se confunde em vários pontos, nos levando a um final surpreendente e que amarra todas as pontas, como já é padrão da franquia, mas a aposta em toda a confusão de sua construção se torna uma faca de dois gumes, há quem consiga enxergar as emendas e conectar esse quebra-cabeça, há quem vá além e enxergue as lacunas que ele deixa e há quem perca o interesse pela falta de linearidade ser a mais intensa da franquia. Apesar de não ser muito relevante como avanço na franquia, o longa mostra sua importancia nas explorações ao passado, dando motivações ao seu antagonista e fortalecendo a importancia de Jigsaw, começamos a enxergar mais claramente o perfil psicológico de John se formando na mão dos oficiais veteranos do FBI e a humanidade por trás do assassino ficando mais clara.

“A vida do John desafia a cronologia e a descrição linear.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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