Crítica | Gato de Botas 2: O Último Pedido (Puss in Boots: The Last Wish)

Nota
4

“Você chegou na última vida […] Precisa se aposentar.”

Depois de anos construindo a Lenda do Gato de Botas,  o lendário Gato acaba perdendo sua penúltima vida e se vê obrigado a se aposentar, se refugiando na casa de Mama Luna, onde passa a se chamar Pepino e precisa aprender a viver como um gato normal. Mas tudo muda quando Cachinhos e os Três Ursos, uma família de criminosos, aparece buscando capturar o felino para força-lo a roubar de Joãozão Trombeta o mapa que leva diretamente à poderosa Estrela dos Desejos, um artefato que está há anos intocável dentro de uma tenebrosa floresta que só pode ser encontrada (e atravessada) usando o mapa. Gato acaba enxergando nesse a mapa a chance de recuperar suas vidas perdidas, mas não esperava que em seu caminho estaria Kitty Pata-Mansa e um cãozinho abandonado que se disfarçava de gato para ser alimentado por Mama Luna.

Dez anos se passaram desde a última aparição do felino destemido e fanfarrão favorito da população nas telonas, e uma nova aventura desse personagem parece a escolha perfeita para a DreamWorks Animation retornar ao universo Shrek, principalmente ao trazer o ousado fora-da-lei para uma jornada profunda sobre o significado da vida e entender quem ele realmente é, buscando enxergar sua importância para as pessoas ao seu redor, separar a Lenda do seu verdadeiro Eu. Os tempos mudaram, e isso fica claro na jornada do filme dirigido por Joel Crawford e produzido de Mark Swift, que apela para o lado aventureiro das crianças e ensina uma lição de moral ao questionar as motivações do Gato e o colocar para refletir sobre seu estilo de vida. A trama só se fortalece ainda mais com a presença de referencias ao Universo de Shrek, ao qual o longa pertence, e aos contos de fada, como a presença do Tapete de Alladin ou do Grilo Falante, coisas que não são jogadas de forma gratuita em tela, mas sim como parte da construção do roteiro e dos personagens.

Protagonista dessa jornada épica, Gato (Alexandre Moreno/Antonio Banderas) é obrigado a enfrentar seu passado e seus erros na busca pelo Último Desejo, ele precisa enxergar quem é de verdade a Lenda, um fora da lei arrogante, inconsequente e, agora, perdido no mundo, e tudo só piora com o surgimento do Lobo Mau (Marco Ribeiro/Wagner Moura), um caçador de recompensas que aparenta estar muito empenhado em encerrar a última vida do protagonista, e que carrega um grande segredo que se mostra essencial no decorrer da trama. O retorno de Kitty (Miriam Ficher/Salma Hayek) é ideal, ela nos dá um ponto de vista diferente sobre quem é o Gato por trás das Botas, fica claro que aconteceu a passagem de tempo desde o primeiro filme, que a relação deles se desenvolveu e acabou chegando no acontecimento crítico que os separou, fazendo com que o reencontro deles seja com feridas do passado que precisam ser encaradas. As duas novas principais adições do elenco, Perrito e Cachinhos, são responsáveis por trazer outros dilemas para o enredo: o cãozinho positivista (Caio Gaurnieri/Harvey Guillén) adiciona graça com a sua inocência perante os traumas do passado e a forma como acaba conectando ainda mais Gato e Kitty, sendo ainda capaz de adicionar fofura e reflexão em sua evolução; já Cachinhos (Giovanna Ewbank/Florence Pugh) , é uma garota órfã que foi adotada por uma família de ursos, os anos se passaram, ela cresceu e agora virou uma fora da lei junto com sua gangue, o filme também deixa claro as dores que a garota carrega e o quanto isso motiva sua jornada como antagonista.

Nostálgico e envolvente, Gato de Botas 2: O Último Pedido traz uma renovação à franquia que tanto fez sucesso há alguns anos, usando habilmente seu grande trunfo de unir elementos simples e populares como os contos de fadas com uma jornada fantástica e desapegada proporcionada pela liberdade de adaptação (mudando completamente a pegada de seu universo pra os da Disney, DC ou Marvel). O enredo consegue trazer elementos essenciais para tudo funcionar, investindo num dilema sobre amizade e romance enquanto gira em torno de um objeto de poder, cativando do início ao fim e deixando no ar uma curiosidade sobre como será o desfecho do longa (mesmo que algumas sequencias soem bem previsíveis). Ainda falando sobre as renovações, a produção parece introduzir um estilo de animação que foge radicalmente do que costumamos ver nos filmes da franquia, mas ao assistir o filme fica claro o quanto esse novo estilo casa completamente com essa nova cara que a DreamWorks parece querer empregar, juntando elementos 2D e 3D de forma bastante fluida, e lembrando muito o estilo de Homem-Aranha no Aranhaverso que, vale lembrar, acabou levando o Oscar de Melhor Animação em 2019. O grande destaque do filme fica para Perrito, o cãozinho que foi abandoando e acabou se refugiando, disfarçado, em uma casa cheia de gatos assume o papel do amigo engraçado do protagonista, adicionando uma alta dose de fofura ao desenvolvimento do longa e uma história capaz de cortar o coração, arrancar reflexões e lágrimas, ajudando na abordagem, de forma lúdica, de temas mais densos como Sindrome do Pânico e Terapia Assistida por Animais, e rasgando nossa alma ao falar sobre se manter positivo frente as adversidades. O filme não é inovador, mas nos lembra os grandes tempos da DreamWorks, que já chegou bater de frente com a Pixar e a Walt Disney Animation Studios, e ainda traz uma cena final que vai levar qualquer um à loucura.

“Mais uma música, e o nome dessa é ‘A Lenda Nunca Morrerá'”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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