Crítica | Homem-Aranha: No Aranhaverso (Spiderman: Into the Spiderverse)

Nota
4

De todas as histórias contadas sobre o Homem-Aranha até o momento, Homem-Aranha: No Aranhaverso é, de longe, a mais eletrizante e inspirada. E o mais surpreendente: depois de seis filmes e três intérpretes diferentes e no meio de uma fadiga gigantesca de super-herói. Como se não bastasse, ainda se trata de uma animação.

Fugindo de qualquer cronologia estabelecida pelos filmes em live-action e adotando uma estética quadrinhesca primorosamente original, Homem-Aranha: No Aranhaverso segue o protagonista Miles Morales, um adolescente filho de um policial, que, assim como o Peter Parker, é picado por uma aranha radioativa e  ganha poderes de super-herói. Após a morte do Homem-Aranha original, Miles se torna o novo herói da cidade, descobrindo haver também outros homens-aranhas e mulheres-aranhas de dimensões paralelas.

Nada é mais revigorante hoje – entre tantos projetos formulaicos – do que um roteiro  pegar o público de surpresa, e Homem-Aranha: No Aranhaverso o faz pelo menos três vezes. Mais ou menos como em Deadpool, de 2016 (esse último voltado para o escracho), o filme demonstra autoconsciência desde o começo, sem nunca cair na paródia, conseguindo brincar com os clichês e quase ridicularizá-los, como se fossem um mal necessário. A estética de desenho e montagem extrai os elementos mais importantes do universo de HQ, transpondo para a tela a vivacidade nas cores e os movimentos que sempre fizeram parte da imaginação dos aficionados por quadrinho.

É igualmente impressionante a capacidade dos diretores Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman de dar vida, humanidade e emoções palpáveis a quase todos os personagens e tornar todas as pequenas participações significativas para a narrativa. Miles, por exemplo, é um protagonista multifacetado, cativante e sempre ativo na ação, além de atravessar o arco do adolescente/herói através de situações das mais inusitadas e ainda contando com os melhores personagens de apoio possíveis (sobre os quais não dá para falar sem dar spoiler, de verdade).

A ação é frenética da melhor forma possível e as cenas nunca se repetem, pontuando as pausas dramáticas e cômicas com objetividade, mas nunca com pressa; o humor utiliza algumas táticas tradicionais da ironia de montagem (quando um personagem diz algo que se contradiz no corte seguinte) e da velha esbarrada no vidro, mas sempre com vigor. E sobre a chegadas triunfais típicas do gênero, nem a famosa cena do clímax de Vingadores: Guerra Infinita supera o momento alfa aqui. Simplesmente sensacional.

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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