Crítica | Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer)

Nota
3.5

“É uma lenda urbana… Folclore americano, essas histórias se originam de um incidente de vida real…”

As comemorações do Dia da Independência dos Estados Unidos de 1996, em Southport, foram ainda maiores depois que Helen Shivers ganhou o concurso de Rainha do Peixe. A vitória foi comemorada com muito bebida a noite em uma praia, junto com seus amigos Julie JamesRay BronsonBarry Cox, mas acaba terminando com o grupo atropelando, acidentalmente, um pedestre enquanto dirigiam por uma estrada pela costa. Depois de muito debate e medo de serem presos, o grupo carrega o corpo até uma doca e decide jogá-lo no mar, fazendo o juramento de nunca mais falar sobre o que ocorreu naquele verão. Um ano depois, no verão de 1997, os quatro jovens tomaram rumos separados, mas precisam se reencontrar depois que Julie recebe, em sua casa, uma carta sem endereço dizendo apenas “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado!”, o que só piora depois que o quarteto percebe que está sendo caçado por um homem misterioso vestindo uma capa de pescador e empunhando um gancho.

Em 1973, Lois Duncan escreveu um suspense arrematador que narra a história de quatro jovens que acabam atropelando um garoto de 10 anos e fugindo sem prestar socorro, o que os coloca sendo caçados por um assassino anônimo. Já em 1996 foi lançado Pânico, o filme criado por Kevin Williamson antes de ele começar sua carreira, um filme que revolucionou o terror e chamou a atenção de vários estúdios. Os dois eventos acabaram se chocando pouco tempo depois, quando Erik Feig resolveu chamar Williamson para desenvolver o roteiro de seu novo filme, uma adaptação do livro de Duncan, dando total liberdade para que o livro de suspense de Duncan fosse violentamente transformado num genial roteiro de slasher que, mesmo sem ninguém saber, rapidamente se tornaria um grande marco da história do cinema. Se a história de Duncan envolvia uma criança morta e um assassino misterioso, o roteiro de Williamson foi mais fundo, criando uma premissa mais obscura e se baseando na famosa lenda urbana  do Hookman, que já havia baseado Candyman, em 1992, e figurado no livro Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, em 1981.

O longa dirigido por Jim Gillespie é completamente alimentado pela atuação de seus cinco protagonistas, que conseguem equilibrar muito bem a trama para manter o mistério ativo e não tornar a caçada tediosa, já que temos quatro visões dos fatos para nos guiar e o longa faz questão de variar os pontos de vista para atenuar toda a adrenalina do mistério em volta do assassino. Jennifer Love Hewitt, interpretando Julie, assume completamente o controle do roteiro, brilhando absurdamente com uma personalidade forte e independente enquanto luta para entender quem é o assassino que está perseguindo ela e seus amigos, Jennifer, que estreou no mercado do terror, mostrou toda a sua competência e, ouso dizer, pode ter sido um dos grandes motivos do sucesso do longa. Ao seu lado temos Freddie Prinze Jr, famoso por ser um galã adolescente na época, assumindo o papel de Ray, o mais pobre do quarteto e, portanto, o mais pé no chão em diversos momentos, ele é o jovem que acabou condenado a seguir a carreira do pai, como pescador, e que rapidamente se torna o principal suspeito de ser a pessoa por trás das cartas.

Ryan Phillippe, interprete de Barry, acaba não tendo tanto destaque em tela, mas ainda assim consegue chamar atenção no papel do riquinho esnobe que quer ser superior a todos, um papel que lhe garantiu uma indicação ao Blockbuster Entertainment Awards como Melhor Ator Coadjuvante. Sarah Michelle Gellar completa o quarteto no papel de Helen, ela é a típica patricinha fracassada da história, ela venceu o concurso de beleza, sempre almejou crescer na vida e virar uma grande atriz, mas acaba presa como vendedora na loja do pai, ela é o elo fraco do quarteto e, por consequência, a responsável por protagonizar as melhores cenas de perseguição do longa. O longa ainda traz Johnny Galecki no papel de Max, o garoto que é apaixonado por Julie e que se torna um elemento chave na apresentação da trama, e o misterioso Muse Watson, vivendo o papel do Hookman/Pescador, o homem por trás da capa e do gancho que começa a perseguir um a um dos amigos em busca de vingança pelo que aconteceu no verão passado.

Com uma atmosfera de slasher dos anos 80, Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado soube se desenrolar de uma forma eficiente, fugindo do tom satírico e autorreferencial de Scream para se tornar muito mais técnico e visceral, o que fez com que os longas roteirizados por Williamson pudessem compartilhar os créditos de terem sido os filmes que revitalizaram completamente o gênero slasher nos anos 90. Sendo o sexto filme slasher de maior bilheteria da história (segundo dados de 2019), o longa adolescente toma seus tons obscuros mais policiais, deixando de lado o teor sobrenatural que existe em sua premissa a medida que avança o roteiro, brincando com as semelhanças do assassino com a lenda para descredibilizar suas vítimas, afinal que policial iria acreditar que o quarteto está sendo caçado por uma lenda urbana? Indo fundo numa estética gostosa de se assistir e baseado num roteiro com mais seriedade que o último trabalho de Williamson, o longa facilmente nos cativa e deixa satisfação no final.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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