Review | Transplant [Season 1]

Nota
4

“Nós já nos conhecemos […] quando eu te entrevistei para uma vaga e não te contratei. Acho que temos que fazer isso de novo.”

Bashir Hamed é um imigrante sírio que, devido a questões relacionadas ao reconhecimento de credenciais estrangeiras, foi rejeitado em uma entrevista de emprego no York Memorial Hospital, o que o fez precisar trabalhar como cozinheiro em um restaurante de comidas do Oriente Médio, mas tudo muda no momento que Dr. Jed Bishop, o chefe do departamento de emergência do York Memorial, vai comer em seu restaurante e acaba sendo vítima de um grande acidente, colocando a vida do médico em suas mãos e garantindo uma chance, dada pelo médico, para Bashir tentar o emprego que tanto queria.

Criada por Joseph Kay para figurar a programação da CTV, sendo posteriormente distribuída pela NBC e pelo Globoplay, o drama médico canadense explora o tão batido roteiro de focar numa equipe médica e seus dilemas pessoais, mas acaba indo de um ponto de vista ainda não explorado: o de um imigrante. Bashir se torna o grande ponto de vista da série, o homem é um sobrevivente da guerra da Síria, ele precisa cuidar de sua irmã de 12 anos, Amira, lidar com o trauma de ter perdido seus pais (dois médicos muito conceituados) para a guerra e, principalmente, se adaptar aos procedimentos de atendimento num bem conceituado hospital americano, algo que é completamente diferente do que ele estava habituado no ambiente super limitado de um hospital que funciona em meio a guerra.

“Pilot”, que estreou em 26 de fevereiro de 2020, é a apresentação perfeita para a série, toda a cena do acidente de caminhão no restaurante é suficiente para mostrar a enorme competência de Bashir, ver ele salvando vidas apenas com uma tesourinha, uma furadeira e murros é suficiente para mostra que ele é capaz de ser um médico extremamente competente, e ver ele correndo a cidade com um ferimento no tórax é suficiente para nos mostrar o quanto sua irmã é importante, e o quanto teremos uma relação doce sendo exibida no decorrer da série. O show ainda vai mais fundo com temáticas bem atuais que figuram entre as grandes polémicas do meio hospitalar, como é o caso de “Your Secrets Can Kill You” (1×03), que traz um caso envolvendo o filho de um casal anti-vacina, e o caso de “Trigger Warning” (1×06), onde somos levados a ver o dilema de um garoto trans e sua luta por externar quem ele realmente é ao mesmo tempo que enfrenta o medo da puberdade e da possibilidade de seus seios começarem a crescer ainda mais.

Apesar de ser mais uma das milhares de séries médicas por aí, Transplant consegue ser diferente pela forma como trata seus personagens e cada um de seus dilemas, de uma forma muito mais carnal e emocional, mesmo que esse tratamento possa se perder no decorrer dos episódios e ir ficando, pouco a pouco, um pouco entediante. Bashir é o grande astro do show, mostrando o extremamente trabalho de Hamza Haq, que consegue dar camadas muito palpáveis ao médico ao mesmo tempo que nos leva a enfrentar seu problemas financeiros, de aprendizado e, principalmente, todos os traumas psicológicos gerados pela guerra. O show ainda nos apresenta a Theo Hunter (vivido por Jim Watson), um pediatra residente que precisa equilibrar sua vida entre ser o extremamente competente pediatra da emergência e tentar atender às expectativas de sua esposa, que lhe aguarda numa cidade interiorana com um hospital pediátrico humilde para ele assumir, o que se transforma um enorme pesadelo no momento em que surge a possibilidade de ele se tornar um médico efetivo do York Memorial.

June Curtis (vivida por Ayisha Issa) é uma residente cirúrgica que precisa lidar com seus traumas do passado, ela é dura, irritante, julga demais, mas pouco a pouca vai exibindo suas camadas e nos deixando perceber o quanto sua personalidade foi moldada a fogo pelos problemas de seu passado. A equipe se completa com Magalie Leblanc (vivida por Laurence Leboeuf), uma workaholic padrão que vive e respira medicina e possui uma cardiopatia série, que coloca sua vida em risco quando está em extremo estresse, mas que acaba sendo a mais competente residente de emergência, colocando sua vida numa fina linha onde um colapso pode surgir a qualquer momento. A Amira de Sirena Gulamgaus surge como maior ponto de ignição por trás de Bashir, ela é o combustível que impulsiona toda a história do médico e o motiva a trabalhar incansavelmente, é para proteger sua irmã que Bashir se submete a tantos problemas, inclusive um caso de preconceito, é por sua irmã que o medico luta, e a relação que eles constroem no decorrer da série é doce e cativante de uma forma indescritível.

Se tornando um sucesso de público e crítica, o show se preenche com bastante discussões técnicas, muitas delas brilhantemente diagnosticadas por Bashir, ao mesmo tempo que circunda a situação dos imigrantes de países devastados pela guerra no Canadá. Justificando seu nome, o show nos leva a enxergar praticamente um ‘transplante’ de um médico sírio para um sistema médico americano, nos mostrando toda a luta e força de vontade que o protagonista precisa ter para se adaptar a esse novo ambiente e para conquistar a confiança de seus colegas e seus superiores. A trama ainda se mostra um acerto, criando plots que nos deixam presos nas múltiplas narrativas de cada um dos episódios, nos colocando dentro do dia a dia de cada um desses profissionais. Com treze episódios de cerca de 40 minutos, a série rapidamente se tornou um sucesso no seu canal de origem e em sua reexibição americana, o que já garantiu uma segunda temporada com muito mais casos médicos e dramas intensos para conferir.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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