Review | The Flight Attendant [Season 1]

Nota
4

“Eu nunca saio e, quando eu saio, eu faço escolhas ruins…”

Cassie Bowden é uma comissária de bordo e uma alcoólatra imprudente, ela bebe durante os voos, paquera clientes que ela conhece durante os voos e, no intervalo de todo voo, ela costuma aproveitar uma boa noitada de bebedeira e se relacionar com caras aleatórios, mas sua vida muda completamente em Bangkok, quando ela resolve sair com Alex Sokolov, o passageiro da 3C, e acorda no dia seguinte com uma enorme ressaca e o homem morto, ao seu lado, com o pescoço cortado. Assustada, ela não chama a policia e volta para o sua rotina normal, mesmo que perturbada pela cena que assistiu e pela forma como não lembra de nada que aconteceu na noite anterior, até que, ao retornar a Nova York, é recebida por agentes do FBI e precisa lembrar a todo custo o que realmente aconteceu na escala de Bangkok. Agora ela precisa saber se ela poderia ser a assassina.

Baseada no romance homônimo do escritor armênico Chris Bohjalian, a série adquirida pela Yes, Norman Productions, produtora de Kaley Cuoco, em 2017 foge completamente do padrão de suspense da obra original. Sob o roteiro de Steve Yockey, o show começa com uma mistura de mistério e comedia e, aos poucos, vai tomando diversos tons de drama, que só engrandecem a trama da série original do HBO Max. O mistério em volta da morte de Alex é o ponto de ignição de todo o enredo, mas quem realmente guia a trama é a viagem existencial que Cassie passa a viver unida à relação que ela vai criando com o Alex Imaginário que passa a incomodar cada um dos seus pensamentos, aconselhar seus passos e assumir o posto de ser seu ‘grilo falante’ pessoal, mesmo que ele acabe dando vários maus conselhos.

No papel protagonista, Kaley explora as diversas camadas de Cassie de uma forma primorosa. Os flashes mostrando as memórias de Cassie, sejam as da sua infância ou as da noite antes da morte de Alex, adicionam camadas poderosas em sua personalidade, sejam elas dolorosas ou doces, que fazem ficar cada vez mais claro o quanto a comissária vive um caos em sua mente e o quanto o álcool se transformou num instrumento para que ela suporte sua rotina. A forma como alcoolismo da mulher é construído em um background obscuro, influenciado pelos vícios do pai e potencializado pela sua morte, torna tudo ainda mais dramático em meio à fluida comédia do show. Michiel Huisman vive dois Alex Sokolov no desenrolar da trama, o real e o imaginário. O Alex real é um mistério que vai sendo desvendado pouco a pouco, nos mostrando o quão tenebrosos são os segredos que o homem se afundou, e que podem ter levado até sua morte, enquanto o Alex imaginário é completamente cativante, nos levando a gostar cada vez mais da relação que surge entre ele e Cassie. É impossível não shippar os dois, assim como é paradoxalmente impossível que essa relação se realize.

As subtramas da série surgem de forma discreta em tela, como se estivessem se preparando para assumir uma relevância surpreendente em algum ponto do desenrolar do enredo da produção, como a caçada sombria da misteriosa Miranda, a traição envolvente da inocente Megan, a infância sofrida do pobre Davey ou a imersão criminosa da altruísta Annie, tudo preenche ainda mais o enredo do show, equilibrando a comédia e o drama de uma forma que faz tudo ficar ainda mais envolvente. A força da trama só aumenta quando consideramos o elenco da série, que conta inda com o suporte de Michelle Gomez como Miranda, completamente psicótica e dedicada ao seu trabalho criminoso, de Zosia Mamet como Annie, capaz de ir ao submundo para ajudar sua amiga, e Rosie Perez como Megan, criando uma trama paralela que cativa nossa curiosidade na busca por saber o que realmente está por trás do trabalho de seu marido. É impossível não se divertir enquanto explora a busca pela identidade do assassino de Alex e suas motivações, assim como é impossível não sentir todo o drama complexo da vida de Cassie e seu alcoolismo, que nos leva a cenas marcantes como a de “After Dark” (episódio 6).

Apesar de não convencer totalmente com boa parte de suas resoluções, The Flight Attendant é bem divertida e se desenvolve com um ótimo ritmo. Depois de seus dois primeiros capítulos de apresentação, o show prova que consegue ser bem ‘fora da caixa’ e assume um desenrolar viciante, que nos faz querer devorar todos os seus oito episódios de cerca de 45 minutos no mesmo dia. Cassie é um pouco irritante, mas ela quebra completamente o clichê da protagonista impecável e inocente, ela é problemática, cheia de traumas e com uma vida que não tem nada de perfeita, e é justamente por isso que ela acaba caindo no meio do furacão que é o assassinato de Alex, nos fazendo enxergar em Cassie toda a verdade que realmente a faz ser a protagonista ideal. Fica obvio desde o inicio que a série não é perfeita, ela pode trazer cenas arrastadas e algumas tramas confusas, mas no fundo o que se destaca é seu enredo fora do comum. Apesar de ser uma comedia envolvente, a série encontra seu ponto alto nos momentos de drama, principalmente quando esse drama envolve o passado de Cassie e seu alcoolismo.

“Não vou dizer que tô me apaixonando por você…
Por que você tá morto, e isso seria loucura.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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