Review | Once Upon a Time [Season 1]

Nota
4

“Sorry, i’m late.”

Floresta Encantada está sob ameaça, no casamento de Branca de Neve com o Príncipe Encantado eles acabaram recebendo a visita da Rainha Má, que prometeu dedicar a vida a destruir a felicidade do casal. O tempo passou, Branca engravidou e o momento da ameaça se concretizar se aproxima, numa visita a Rumplestiltskin, o casal descobre que a Rainha Má está prestes a lançar uma poderosa maldição, que levará todos a um mundo sem mágia, presos no tempo e com suas memórias completamente apagadas, e a única pessoa capaz de quebrar essa maldição é Emma, o bebê do casal, quando completar 28 anos. Em Boston, no dia do aniversário de 28 anos de Emma Swan, um garotinho bate na sua porta, é Henry Mills, o bebê que ela deu para a adoção há dez anos, que a leva para Storybrooke, no Maine, a cidade que abriga a maldição, onde todos os habitantes da Floresta Encantada estão presos há anos, onde o tempo não passa, onde não lembram quem são e onde a magia não existe, mas tudo começa a mudar quando Emma, a Salvadora, chega, predestinada a quebrar a maldição, mas só quando ela acreditar no que Henry contou, sobre a verdade por trás de Storybrooke.

Em 2004, antes de entrar para a equipe de roteiristas de LostAdam Horowitz e Edward Kitsis criaram a proposta de uma série usando conto de fadas como base, mas decidiram esperar até o fim da série para se concentrar nesse novo projeto. Com o fim de Lost em 2010, a dupla começou a produzir o piloto que foi aprovado em 4 de fevereiro de 2011, dando a ABC exatamente o que eles buscavam quando adquiriram os diretos de Fábulas, série de quadrinhos de Bill Willingham que contava sobre seres dos contos de fadas vivendo no mundo real. Sendo oficialmente lançada em outubro de 2011, a série acabou se tornando o principal concorrente de Grimm, série da NBC que brinca ao misturar contos de fadas e thriller e estreou no mesmo mês, mas a vantagem de Once veio da conexão afetiva que sua trama possuia com o seu público, a final, quem não se afeiçoaria com uma série que tem total aval para explorar todos os contos de fadas produzidos pela Disney, empresa dona da ABC.

Emma Swan, interpretada por Jennifer Morrison, é o centro da narrativa do show, uma garota órfã que cresceu com muitas rejeições e decidiu se tornar uma agente de fiança, usando o dom que desenvolveu buscando seus pais para encontrar devedores. A série deixa claro desde seu primeiro episódio que tudo que Henry está falando é verdade, então a trama não se foca em tentar provar essa teoria, Emma começa a conhecer as contrapartes dos personagens ao mesmo tempo que a série costura as histórias sobre o passado deles na Floresta Encantada. A trama de Branca e Encantado é o maior foco do inicio do show, nos mostrando a maldição, como se conheceram, como a história deles se desenvolveu, ao mesmo tempo que, no mundo real, Henry tenta uni-los novamente, na esperança de essa união enfraquecer a maldição. Ginnifer Goodwin (Branca) e Josh Dallas (Encantado) sustentam bem seus personagens, dando camadas e indo muito além das histórias da Disney, mas a trama não fortalece muito a história da dupla, é como se eles quisessem edificar uma boa base (já que Branca e Encantado são o ponto de partida para a apresentação de todos os outros personagens), mas não soubessem criar uma história além do clichê para eles.

O antagonismo de Lana Parrilla é um dos pontos altos do enredo, no papel da Rainha Má ela explora o ódio e a maldade da personagem de forma carnal, fica claro que existe um passado entre a Rainha e Branca, mas o ódio inexplicavel que as conecta também engrandece a personagem, dando força aos seus atos. A Prefeita Regina Mills, identidade que a Rainha assume em Storybrooke, possui muito mais camadas, é possivel enxergar que há maldade em seus atos, mas o ódio que a Rainha possuia parece transformado em desespero, Regina era feliz vivendo em seu novo mundo, mas a chegada de Emma, que coloca seu ‘reinado’ em ameaça, a coloca em desespero, mesmo que ainda seja possivel notar o rancor que Regina sente de Mary Margaret Blanchard, a contraparte de Branca, sem explicação, e sua dedicação em faze-la se afastar de David Nolan (contraparte do Príncipe Encantado). Outros tons de mistério são adicionados por Sr. Gold, maravilhosamente interpretado por Robert Carlyle, o inescrupuloso ‘dono da cidade’, ele é o morador rico cuja influência parece não ter limites, ele tem influência na politica, ele é dono dos imoveis, e parece esconder em sua loja de penhores os segredos da cidade inteira, em meio a itens interessantes. Gold é a contraparte de Rumplestiltskin, um poderoso mago das trevas da Floresta Encantada, um mago que faz acordos e trocas com os habitantes desse mundo, mas, como o proprio Rumple fala, “toda magia tem seu preço”, e todos que fazem um acordo com esse mago acabam pagando um preço salgado depois.

Com uma narrativa que usa cada episódio para aprofundar a história de um personagem, a série consegue construir uma complexa mitologia, expandindo o que a Disney nos contou em seus filmes ao misturar o que conhecemos com novos detalhes, detalhes que surgem como pequenas pontas soltas que são amarradas posteriormente para fortalecer a rede de conexões que universo da série propõe. A trama que coloca Branca como ladra preenche uma brecha na história da princesa, que dá mais realidade e menos problemática à história de um homem que beija uma mulher desacordada no meio da floresta. A trama que coloca Rumplestiltskin para substituir a Fada Madrinha de Cinderella edifica uma conexão que dá graça à mitologia e ajuda a conectar duas histórias em uma, economizando o trabalho que demandaria a adição de tantos personagens, ao mesmo tempo que fortalece a grande mitologia que quer construir, onde todos se conhecem de alguma forma ou se conectam de algum jeito. Outra sacada genial da série são suas referências, analisar a casa de penhores de Gold ou o castelo de Rumple se torna mágico, percebendo os inumeros itens ali contidos que se relacionam com personagens já apresentados e, acima de tudo, itens conectados com diversas animações da Disney, como é o caso do Chápeu de Yen Sid que pode ser visto ao fundo em “Skin Deep” (episódio 12) ou o boneco do Mickey que vemos em “The Return” (episódio 19).

Com seus vinte e dois episodios de cerca de 40 minutos, a temporada de estréia de Once Upon a Time nos presenteia com uma trama flexivel, que se fortalece e solidifica a cada novo episódio, criando uma mitologia que vai se formando e se ramificando de uma forma inésperada. O show usa bem o poder das histórias da Disney para construir seu próprio mundo, aproveitando até as discretas tramas esquecidas há anos (como Chapeuzinho Vermelho e -) para se desenvolver, conectando as pontas que não perceberiamos de outra forma e usando os diversos contos de fadas para construir seus personagens. Outra forma de agraciar os fãs com referências foi a escolha de Horowitz e Kitsis de trazer alguns membros do elenco de Lost para papeis e participações nessa primeira temporada, como é o caso da própria Lana Parrilla (Greta/Regina), e de Alan Dale (Charles Widmore/Rei George) e Emilie de Ravin (Claire Littleton/Belle), atores que surgem como acenos aos fãs dos dois universos e compartilham espaços com tantas outras referências a Lost que Once apresenta. Com um começo um pouco lento, o show engrena de verdade a partir de “Heart of Darkness” (episódio 16), quando a densidade de Branca e Regina começam a ser exploradas mais a fundo e as personagens começam a fugir do clichê de ‘bem e mal’, criando uma trama que começa a se fechar até poucos minutos do final da season finale, mas que consegue, nos ultimos segundos, criar um cliffhanger para uma temporada seguinte, deixando um arco fechado para trás ao mesmo tempo que cria uma brecha para os que desejarem ir mais fundo no enredo do show.

“- Você me encontrou.
– Tinha alguma dúvida disso?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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