Review | No Mundo da Luna [Season 1]

Nota
3

Finalmente alguém pra falar com a gente de novo!”

Luna é uma descendente de cigana, mas ela é completamente incrédula e dedicou sua vida a sua carreira como jornalista, que até agora não decolou. Recém-formada, sua grande oportunidade chega quando ela é chamada para uma entrevista na JornAW, um grande portal de notícias, no departamento de comportamento, mas sua editora-chefe, Clarisse, está buscando uma cigana para assumir a coluna de horóscopo, o que faz Luna aceitar o emprego na tentativa de se fixar na equipe e conseguir contatos que a transfira para o departamento de jornalismo, mas isso também traz três grandes problemas: Luna nunca treinou seus dons ciganos, o que a força a invadir a casa da avó e roubar o baralho especial da família; Dante, o novo editor-chefe do departamento de jornalismo, coincidentemente é o desconhecido com quem Luna teve o melhor sexo da sua vida na noite anterior, e quem ela dispensou logo depois; e seu crush de infância, Viny, é um dos contratados da empresa e irá cruzar com ela nos corredores todos os dias. Como se não bastasse todo o caos que se formou, ela acaba descobrindo que é capaz de escutar as vozes do baralho especial da família e a primeira previsão que recebe é que o amor da vida dela é um dos funcionários do jornal, mas quem? Dante ou Viny?

Baseada no romance escrito por Carina Rissi em 2015, a produção dirigida por Roberto D’Avila passa por diversas mudanças que busca atualizar o enredo para fazer mais sentido com o mundo de hoje, afinal sete anos se passaram e mundo mudou completamente, além de que a série precisava corrigir a falta de representatividade que tanto foi criticada nos livros de Rissi. Produção original do HBO Max, a série com dez episódios de cerca de 30 minutos se foca no desenvolvimento da nova rotina de Luna, ela agora está aprendendo a viver com seu dom de ouvir as cartas e está usando isso para escrever o horoscopo da Cigana Clara, que se tornou um dos maiores sucessos do portal conquistando fãs e haters, ao mesmo tempo que tenta entender as previsões que as cartas começam a dar sobre ela, e que tenta criar uma relação estável com seu baralho roubado. Indo além de Luna, a série aproveita duas personagens importantes do livro e as transforma completamente para emoldurar a modernidade buscada pela produção: Sabrina, a melhor amiga de Luna e que mora com ela, deixa de ser uma engenheira hetero e se transforma numa artista plástica negra que é lésbica, luta para se modernizar aderindo a tendencia dos NFTs e acaba se envolvendo romanticamente com a dona de uma galeria de arte; e Bia, a vizinha das amigas, que deixa de ser uma bem conceituada negociadora da bolsa de valores para se tornar uma gamer profissional gótica e feminista.

No papel protagonista, a global Marina Moschen entrega todo o seu carisma e consegue nos envolver na sua jornada de autoconhecimento e busca por seu primeiro emprego, a forma como a mocinha de origem cigana se vê obrigada a fazer o horóscopo do site como caminho para tentar cavar uma vaga no departamento que mais almeja alimenta bem a série, mas o problema surge quando a série tenta desenvolver os dramas amorosos da protagonista, que estão longe de ser minimamente interessantes. Leonardo Bittencourt supera completamente as expectativas no papel de Dante, o ator que ficou mais conhecido por seu papel em O Menino que Matou Meus Pais/A Menina que Matou os Pais apresenta uma faceta completamente nova no papel do jornalista fora dos padrões, que coordena uma divisão de jornalismo sem usar uma forma engessada e acaba se envolvendo em muitas desventuras por seu interesse em Luna. Romani sai direto da recém cancelada Maldivas e acaba não trazendo muito de novo, é dificil achar diferenças na interpretação dos papeis do policial da Netflix e o fotografo do HBO Max, talvez por isso soe tão incomodo a subtrama que força uma conexão entre ele e Luna. É preciso destacar a presença de Maria Clara Gueiros como Clarisse e Rosi Campos como a Vó Cecilia, duas personagens criadas para a série e que acabam servindo muito mais para impulsionar o enredo do que os dois interesses amorosos de Luna. Apesar de ser claro que as diferenças entre o show e o livro enriquecem e modernizam o enredo, algumas mudanças podem desagradar aos fãs do livro, principalmente por ser mudanças que não se justificam no decorrer da trama, o fato de Dante deixar de ser o chefe direto de Luna ajuda a evitar o problema de assédio que ronda o livro, a transformação de Viny em protagonista por outro lado soa como um artificio para alongar a história, assim como a transformação da cadela Madona em um peixe, que não tem um motivo aparente.

Leve e contemporânea, No Mundo da Luna entrega um material capaz de agradar facilmente o público jovem adulto que aprecia comédias românticas, com claras referencias a O Diabo Veste Prada na construção de Clarisse e do JornAW (criados especialmente pra a série), mas talvez pudesse ser melhor desenvolvido num formato de filme ao invés de série. A produção faz adaptações certeiras, releituras relevantes e atualiza sua atmosfera para o público-alvo contemporâneo, mas ainda fica com momentos arrastados e sobras que claramente poderiam ser eliminadas da trama se não fossem necessárias para cumprir o tempo dos episódios. Seus diálogos velozes emprestam um tom mais cômico ao roteiro, o que impulsiona o surgimento de um riso fácil nos espectadores, tornando as partes mais maçantes menos cansativas. Os resultados oferecidos pelo baralho cigano no horoscopo, que parece estranhamente especifico demais, e o fascínio que surge nas pessoas com seus resultados não convencem, felizmente a amizade formada por Luna, Bia e Sabrina consegue sustentar bastante o show em seus momentos de queda, resta agora esperar os resultados do HBO Max para saber se o show, que era uma boa aposta para fazer o público jovem se atrair por produções nacionais, teve um desempenho bom o suficiente para ganhar uma segunda temporada.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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