Review | Modern Family [Season 3]

Nota
4

Após duas primeiras temporadas perfeitamente conduzidas e com piadas que prendem seu público, Modern Family inicia sua terceira fase com alguns problemas no desenvolvimento. O humor afiado, tão onipresente no início, sai um pouco de cena, e a construção do amadurecimento dos personagens entra, principalmente em torno da família de Cameron e Mitchell.

Nesse contexto, o casal se torna protagonista da edição, essencialmente quando conhecemos uma já grandinha Lily – bebê nas temporadas passadas. É interessante o jogo que a produção faz diante do crescimento da personagem e de como seus pais fazem para lidar com tudo isso. Diferentemente do início, Cameron e Mitchell dão uma pausa no lado debochado, e quem toma a situação é a própria Lily, que rouba a cena. A garotinha parece uma cópia dos pais – essencialmente de Cameron – e sua língua ferina, mesmo que pequena, chama a atenção. Boa parte das tiradas desse núcleo saem da boca da menina, e praticamente ninguém escapa de sua irônica ótica. Um bom acerto do roteiro, certamente.

Além disso, outro clã passa por mudanças. Claire e Phil continuam com suas divergências na criação dos filhos – ela, mais rígida; ele, mais liberal – e protagonizam bons momentos com Luke, Haley e Alex. Apesar da evolução, a família Dunphy perder um pouco de sua comicidade, e de o arco da candidatura de Claire ao cargo de vereadora ser cansativo e, infelizmente, andar em círculos. Seria interessante vê-la realmente na função, mas numa condução crítica e mais cômica. Tal fator acaba um pouco com a imagem da matriarca, mas ainda rende ótimos trechos – como a entrevista fracassada da personagem, com sua boca desdentada. No mais, Phil continua no cargo de melhor membro da família e sua emoção com Haley, quando ambos visitam o campus universitário, se mostra um dos melhores momentos da trama, sem dúvidas.

Ainda sobre o clã Dunphy, os herdeiros permanecem um pouco apagados – com exceção de Haley. Talvez isso seja explicado pelo fato de atores menores de idade não serem totalmente liberados, e não poderem gravar muitas cenas, nem permanecer em todos os episódios. Mesmo que Sarah Hyland (Haley) seja maior de 18, sua trama ainda se encontra ligada com as crianças, Nolan Gould e Ariel Winters, intérpretes de Luke e Alex, e o apagamento em certas ocasiões é inevitável. Ainda assim, as poucas vezes que os três irmãos estão em cena – juntos ou separados – provocam algumas gargalhadas, especialmente a burrice de Luke – apesar de menor do que nas primeiras temporadas (algo justificável pelo crescimento do personagem).

Com relação ao núcleo de Jay, Gloria e Manny, a divertida colombiana segue como o centro de tudo. Com uma diminuída dos estereótipos, Gloria promove boas sequências na narrativa, e seu jeito irônico e afetuoso consegue aproximá-la mais dos enteados, assim como Jay se torna menos distante dos filhos. No entanto, Manny ainda parece destoar do clã, com suas crises existencialistas, aquém de sua idade, e seu lado mimado soando repetitivo. Há claramente uma diferença de desenvolvimento entre o menino e Luke, algo que deveria ser mais igualitário. A descoberta da gravidez de Gloria, no fim da temporada, traz um novo gás à série e pode movimentar ainda mais essa parte da série. Foi, com certeza, uma decisão ousada dos criadores, principalmente quando pensamos na reação de Jay, pai depois dos 60, e de seus outros filhos – e é interessante analisar como Manny, tão ligado à mãe, vai reagir a uma disputa com novo irmãozinho (ou irmãzinha).

Como sempre, os momentos em que os personagens usam a espécie de confessionário são hilários, essencialmente com Phil e Gloria. O recurso se mostra o maior ponto da trama, bem como a famigerada “quebra da quarta parede” – quando a pessoa olha para a câmera numa inusitada cena, como se estivesse se comunicando com o público. Christopher Lloyd sabe que esse mecanismo, tão disseminado por séries como “The Office” e “Parks and Recreation”, cativa e prende o espectador, primordialmente quando pensamos que estamos realmente dentro daquele cenário e que aquelas confissões fazem parte do nosso cotidiano, assim como quem as confidencia, e percebemos a ótima química que existe entre os atores.

Nesse sentido, Ty Burrell, Sofia Vergara, Julie Bowen e Eric Stonestreet seguem como os melhores nomes do elenco, e a atuação do quarteto é digna de reconhecimento. Intérpretes, respectivamente, de Phil, Gloria, Claire e Cameron, os quatro são responsáveis pelas risadas do público, e a naturalidade de suas interpretações chama a atenção justamente por fazer quem assiste pensar que são realmente os seus personagens. As indicações dos referidos artistas ao Emmy não nega esse brilhantismo das composições, essencialmente com as vitórias de Julie e Eric. Vale lembrar que todo o elenco adulto foi nomeado ao principal prêmio da televisão, bem como Nathan Lane (o divertido Pepper), que recebeu nomeação à categoria de ator convidado.

No fim de tudo, o saldo da temporada é positivo e, entre altos e baixos, a narrativa ainda conquista em certos trechos e a tática de evoluir os personagens se firma seguramente no enredo. Continua, sobretudo, com sua premissa de entreter e tentar fazer um paralelo com situações da realidade, conectando suas histórias com a vida real, sem sombra de dúvidas.

 

Apenas um rapaz latino-americano apaixonado por tudo que o mundo da arte - especialmente o cinema - propõe ao seu público.

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