Review | Marvel’s Jessica Jones [Season 1]

Nota
4

“Agora solte-me, Jéssica.”

Depois que descobriu seus poderes de super-força, Jessica Jones decidiu iniciar uma jornada como super-heroína, mas seu caminho acabou cruzando com o de Kilgrave, um dotado capaz de controlar pessoas dando ordens. De forma cruel, Kilgrave transforma Jessica em sua capanga superpoderosa e escrava sexual, até que ela conseguiu se libertar do controle e, agora, está num processo de recuperação do seu transtorno de estresse pós-traumático e reconstrução de sua vida pessoal e carreira como detetive particular em Hell’s Kitchen. Com seu apartamento transformado na Alias Investigations, Jessica vive seus dias pegando serviços pequenos, ajudando a advogada Jeri Hogarth com alguns casos mais problemáticos e fugindo do contato com sua irmã adotiva, Patricia “Trish” Walker. Mas sua vida vira novamente de cabeça para baixo quando, enquanto investiga o desaparecimento de Hope Shlottman, acaba reencontrando Kilgrave, que volta para a cidade para torturar novamente Jessica e convence-la a voltar a ser companheira dele.

Devido ao sucesso da proposta de Os Vingadores no Universo Cinematográfico Marvel, em outubro de 2013 Marvel e Disney decidiram fechar um acordo com a Netflix para a criação de um micro-universo compartilhado em live-action focado em Os Defensores, uma série que iria se desenvolver unindo Demolidor, Jessica Jones, Punho de Ferro e Luke Cage, personagens que iriam ganhar series solos próprias para desenvolver individualmente e em conjunto (seguindo o modelo das fases do UCM que desenvolvem os personagens em filmes solos e reunem de tempos em tempos em um filme de grupo). Depois da introdução desse braço urbano da Marvel com a primeira temporada de Daredevil, a primeira temporada de Jessica Jones, que explora uma outra parte de Hell’s Kitchen, começa a mostrar a presença dos Dotados transitando nas ruas de Manhattan. Jessica, com sua superforça, vive em meio a multidão, e, além de cruzar com um homem que controla mentes, acaba cruzando com Luke Cage, um homem dotado de superforça e pele impenetrável, que possui uma ligação sombria com o seu passado e, para sua surpresa, acompanha uma gigantesca tensão sexual quando está com a detetive. Apesar dos poderes estarem orbitando o roteiro o tempo todo, a trama é completamente pé no chão, uma ótima escolha de condução da showrunner, Melissa Rosenberg.

A escolha de Krysten Ritter para o papel protagonista parece perfeito, Jessica é forte, desbocada e um pouco ranzinza nas HQs, e a atriz soube transpor perfeitamente essa personagem complexa para as telas, usando os traumas do passado (que não incluem só o pesadelo que passou com Kilgrave), o alcolismo e todas as péssimas escolhas que Jessica faz no dia-a-dia como fio-condutor para o desenrolar da trama, algo que soa muito mais realista e brutal do que nas páginas das HQs da personagem. Se opondo ao protagonismo de Krysten, o antagonismo fica nas mãos de David Tennant, que encarnando Kilgrave entrega uma presença obscura, imponente e maléfica o suficiente para que sua presença, sempre sarcastica, torne os defeitos do show contornaveis, fazendo do Homem-Púrpura um dos melhores vilões das adaptações Marvel. A escolha de trazer o vilão como uma presença no inicio da série, é elogiavel, o roteiro escolhe deixa-lo do passado de Jessica e sua força de pura maldade como um fantasma que a assombra, isso só faz a chegada de verdade do criminoso ser mais forte, com seu sorriso sarcástico e a personalidade caricata, mostrando que o ator escocês é capaz de equilibrar de forma magnifica o humor ácido com seus acessos de pura loucura, sabendo regular o timing perfeito de ser um psicopata apaixonado ou um vilão mirabolante.

No decorrer dos treze episodios de cerca de 50 minutos, a série consegue começar tendo boas piadas, mas chega um momento que o excesso de bordões e sacadas da protagonista começam a se tornar cansativos, massantes, e isso só piora pela forma como a produção parece ter dificuldades nas cenas de ação e na construção de dialogos. Por outro lado, um dos pontos fortes do show é seu elenco, há uma quimica palpável entre os personangens, principalmente entre Jessica, Cage, Trish e Kilgrave, o que prova que a escolha do elenco foi perfeita. Como se não bastasse a construção em primeiro plano, a série consegue criar uma construção de fundo para a mitologia do universo que está integrado, nos apresentando figuras como Will Simpson (que nas HQs se chama Frank Simpson e assume o codinome de Bazuca), Reva ConnorsDetetive Clemmons, trazendo uma referência rápida a Angela del Toro (que nas HQs vira a Tigresa Branca) e várias referências que conectam a série com Daredevil. Mesmo com altos e baixos, Jessica Jones consegue ser uma das melhores temporadas de séries super-heróis atuais, com direito a uma batalha psicológica forte entre Jessica e Kilgrave, garantindo o coração da trama e uma clara evolução dos personagens. A história funciona como um suspense investigativo e não depende de outras histórias previas, mas consegue criar uma expectativa para o momento que os astros do micro-universo da Netflix  vão se encontrar. A série faz uma boa escolha em sua narrativa quando faz a série ser didática, deixando o enredo esmiuçado o suficiente para que o público que nunca leu os quadrinhos ou sequer ouviu falar de Jessica Jones consiga entender, e que também seja fácil entender para quem conhece pouco ou nada de quadrinhos, para quem tem pouco conhecimento sobre o Universo Cinematográfico Marvel e para quem não é muito adepto a histórias de super-heróis.

”Rua Birch. Estrada Higgins. Travessa Cobalt.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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