Review | Black Mirror [Season 4]

Nota
4

Um mundo onde a tecnologia é o grande antagonista, isso é Black Mirror. A série britânica antológica de ficção científica, criada por Charlie Brooker, com tramas obscuras e satíricas sobrevoando a sociedade moderna e expõe as consequências imprevistas das novas tecnologias.

A quarta temporada da série antológica da Netflix chega a um novo patamar, chegamos com uma nova proposta de metodologia dos mind-blows. Você já pensou se de repente todo o pressuposto da série fosse virado de cabeça para baixo? A tecnologia não ser mais vista como vilã, mas como arma, os vilões somos nós que não sabemos usar a tecnologia para o bem e acabamos antagonizando historias do dia a dia, essa temporada traz uma ideia mais bélica, diariamente armas cada vez mais destrutivas são criadas, mas quem causa a destruição não são elas e sim quem as manuseia, é essa ideia que a temporada trás, mas as armas são os avanços tecnológicos.

A temporada possui 6 episodio, lançados completamente na Netflix no dia 29 de Dezembro de 2017, e começando com “USS Callister”, um episodio que parece levar a outro patamar aquela historinha básica do ‘se você não me quer, vou te criar no The Sims’, e vemos o recluso Robert Daly (Jesse Plemons), que não tem seu trabalho reconhecido como CTO de uma multimilionária empresa criadora de um MMO famoso, ele então se torna um sociopata que cria clones digitais de seus colegas de trabalho e aprisiona num simulacro de mundo semelhante ao Star Trek clássico, mais eis que nem tudo pode ser controlado pelo homem quando se joga usando vidas de outras pessoas. No entanto o episodio trás algo que pode ser uma falha: Michaela Coel está no elenco, e a proposta da série é nunca repetir atores, então por que repetir logo uma das notáveis estrelas da Netflix que fez uma participação em “Nosedive” (3×01)?

O segundo episodio é “Arkangel” que trás uma dinâmica mais familiar ao tratar o equipamento que nomeia o episodio, um chip colocado na cabeça das crianças para controlar a vida deles, aliado a um tablet que fica com os pais, ele garante que os progenitores poderão ver onde a criança está, através de um GPS, ver tudo sobre a saúde e ver o que os olhos da criança está vendo, além de adicionar algum filtro para impedir a criança de ver coisas que possam traumatizar ou amedrontar ela, o problema é quando a implantada chega na adolescência e o controle dos pais pode não ser algo tão aceito. Este é o primeiro episódio a ser dirigido por uma mulher, e temos o comando de ninguém menos que Jodie Foster, que com toda a certeza conseguiu melhorar bastante o roteiro de Charlie Brooker.

A temporada chega a sua metade com “Crocodile” que se inicia confuso, mas logo vai tendo suas duas tramas sendo unidas pela tecnologia Recaller, um equipamento capaz de ler as memorias e mostrar as cenas das lembranças das pessoas, e tudo acontece por conta de um acidente na rua, que leva a um processo de seguro, que faz com que Shazia cruze com Mia e descubra o crime que a mulher cometeu, uma memoria que não devia ter sido descoberta e logo gera em Mia uma busca por eliminar qualquer pista que leve ao crime. Um episodio intenso e confuso que nos faz ver o que uma simples investigação administrativa pode desenterrar e nos alerta sobre o quanto um porquinho da índia pode ser perigoso (fica a dica).

O quarto episodio é o angustiante “Hang the DJ”, que traz o incrível casal Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole) na busca pelo par ideal no Sistema, uma tecnologia que se assemelha ao Tinder, onde ele busca matchs para criar casais, a diferença é que o Sistema é quase como uma conselheira, ela observa a pessoas e cria os próprios matchs, ela cria casais, diz o prazo de validade da relação e cabe a todos seguirem suas determinações, por que “Tudo acontece por uma razão”. Um episodio que é disparado o melhor da temporada e que consegue se elevar ao ponto de empatar com “San Junipero” no posto de melhor episodio da série.

O penúltimo episodio é “Metalhead”, o primeiro episódio de Black Mirror filmado inteiramente em preto e branco, e nele assistimos à jornada de Bella (Maxine Peake), uma mulher que vive num futuro pós-apocalíptico e saiu em busca de conseguir um objeto para uma pessoa muito querida, o problema é que durante a jornada ela acaba encontrando um dos “cachorros” robóticos, seres que foram programados para eliminar qualquer forma de vida humana a surgir nesse mundo pós colapso da sociedade. Com toda a certeza esse foi o episodio mais fraco e confuso de toda a série, mas ele trata de forma estupenda a capacidade humana de ter sentimentos e colocar sua vida em risco em busca de conseguir uma luz de esperança para quem ama. O conteúdo da caixa é, por si só, um tiro no peito de muitos, mas a trama que leva até esse momento, acaba deixando o espectador tão cansado que ele fica desejando o fim o tempo todo. 

A temporada se finaliza com “Black Museum”, ou devo dizer Black Mirror Museum? Assim como “White Christmas” (2×04), temos uma trama principal que se conecta com três outras tramas, e nos mostra 3 histórias de uso da tecnologia para o mal. Um dos pontos mais interessantes da trama é que esse museu do crime abriga pelas criminais de vários episódios de Black Mirror. Temos a banheira de “Crocodile” (4×03), o tablet de “Arkangel” (4×02), temos a roupa do carrasco de  “White Bear” (2×02), um IDA de “Hated in the Nation” (3×06), o pirulito de “USS Callister” (4×01), entre outros, além de falar sobre a TCKR e o St Juniper, referencias a “San Junipero” (3×04), um episodio incrivelmente nostálgico e emocionante.

Como dito anteriormente, temos a tecnologia como arma nas mãos dos humanos. Em “USS Callister” vemos a tirania de Daly, que converte suas frustrações em punições aos seus clones; em “Arkangel” vemos a superproteção de Marie Sambrell, que acaba vigiando demais a filha e tirando a privacidade e a vida de Sara; já em “Crocodile” vemos o impulso através de Mia Nolan, que nos mostra até onde podemos ir para esconder um segredo obscuro; com “Hang the DJ” vemos o comodismo de Amy e Frank, que sofrem o episodio inteiro por acreditar no Sistema e segui-lo cegamente ao invés de viver o amor que surgiu desde o primeiro encontro; em “Metalhead” temos os cachorros como vilões óbvios, mas se refletirmos bem, podemos perceber que houve uma mente humana que fez uma elite robótica que caça humanos; e, por fim, “Black Museum” com a insensibilidade de Rolo Haynes, que trata os humanos como experiência para alcançar seu sucesso profissional. Chegamos ao quarto ano da série e vemos que ainda podemos ser surpreendidos por essas tramas, e que, quem sabe, ainda podem nos surpreender com que veremos a frente.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

1 resposta

  1. Boa crítica! Hang the Dj foi meu favorito, adorei ver no episódio a Georgina Campbell, é uma atriz preciosa que geralmente triunfa nos seus filmes. Recém a vi em Rei Arthur a Lenda da Espada, é um dos melhores lançamentos de filmes 2017, inclusive a passarão em TV, sendo sincera eu acho que a sua atuação é extraordinário, em minha opinião é a atriz mais completa da sua geração, mas infelizmente não é reconhecida como se deve.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *