Review | Arranjo de Natal [Season 1]

Nota
4

Marcus estava no auge, ganhando o prêmio de Melhor Artista Masculino Frânces do Ano, quando estoura um escandaloso processo por incitação à violencia contra as mulheres. Três meses depois, com sua carreira sendo destruida pela opinião pública, Marcus está passeando no shopping quando, após causar um tumulto, precisa se abrigar na sala da segurança do shopping, lugar onde acaba conhecendo Lila, uma jornalista que faz parte do canal feminista As Simones e que foi parar na sala da segurança após brigar com um dos seguranças que estava sendo violento com uma adolescente suspeita. Com As Simones precisando de investimento para impedir o fim do canal e Marcus precisando de uma ajuda para melhorar sua imagem e se livrar de precisar fazer um album de natal, parece obvio para Marcus que essa seja a melhor forma de redimir sua imagem, mas um reencontro, motivado pela (clichê) troca acidental de sacolas que aconteceu na sala de segurança do shopping, acaba aproximando Marcus e Lila de uma forma inesperada, que pouco a pouco vai se transformando numa história de amor.

Com três episódios de cerca de 45 minutos, a série francesa criada por Henri Debeurme, Marianne Levy e Victor Rodenbach para a Netflix, consegue construir uma história ciclica, objetiva e bem construida, que começa as vesperas do dia 24 de dezembro e constroem uma base para que, em seu segundo episódio, possa ir mais a fundo nos eventos que se desenrolam em pleno 25 de dezembro. Tomando para si o espirito natalino, o show começa nos apresentando superficialmente seus protagonistas, como se quisessemos que entendessemos como eles são opostos, para só depois ir aprofundando os dilemas pessoais de cada um, que serão usados para conecta-los no decorrer da trama. Os problemas da familia de Lila e o segredo que ela carrega através dos anos mostra o quanto a disfuncionalidade aparente pode esconder discretas feridas e dores que se tenta deixar no passado, ao mesmo tempo a rigidez e tradicionalidade da familia de Marcus, ou melhor Jean-Marc, mostram a rebeldia que existe no cantor, que se aventurou em um mundo que pode não ter orgulhado os seus, mas ainda assim precisa se submeter a experiências que não se agrada e engolir certos sapos pelo simples medo de fracassar, o que mostraria que seus pais estavam certos.

O cantor vivido por Tayc é denso, ele pode até parecer um simples rapper abusado a primeira vista, mas fica claro no decorrer da trama o quanto ele se perdeu de si mesmo em busca da fama, cantando letras que não fazem jus às suas crenças só por serem comerciais e até se vendo preso em alguns momentos às crenças de sua familia, como se a busca pela fama tivesse criado barreiras que o impedem de realmente voar, dando liberdade para ele falar o que quer mas nunca para se transformar no que realmente almeja. Em contraponto, a personagem de Shirine Boutella é uma guerreira que luta pela liberdade, ela formou o canal As Simones junto com JeanneAlice para expor o poder feminino e lutar contra o machismo, brigando pela liberdade de expressão das mulheres e, em certa parte do filme, se vendo diante de uma grande oportunidade de crescimento em troca de abrir mão dessa liberdade, quando o trio recebe a proposta de integrar o editorial de uma revista digital de grande porte em troca de passar a ter que escrever apenas sobre o que a direção da revista permitisse. A trama ainda consegue explorar outros pontos interessantes através dos personagens que circundam a dupla, como é o caso da dedicação de Jeanne às palestras feministas, a busca de MJ por seguir os passos do irmão, o destino de Verno após as desavenças do passado com Marcus e, de certa forma, as divertidas cenas envolvendo Alice e Zack.

Com um roteiro envolvente, Arranjo de Natal trata sobre perdão, reencontro, respeito e amor de uma forma assertiva e divertida, sabendo desenvolver a história em um tempo certo, sabendo fazer bem as divisões entre os episódios, criando uma esfera temática que limita os eventos de cada episódio sem prejudicar a continuidade da narrativa total. Pode até parecer mais uma daquelas tramas clichês de natal, que você vai advinhar toda a história nos primeiros minutos, mas surpreende de uma forma gratificante, sabendo evoluir de uma forma inteligente ao mesmo tempo que desperta reflexões extremamente validas e cria representatividade de forma discreta, surgindo com um diferencial de brincar sem precisar se apegar ao consumismo ou as hipocrisias padrões das produções natalinas. Com um toque frances sofisticado, o longa vai fundo na periferia e nos faz sentir como se estivessemos dentro da trama, deixando lições sobre patriotismo em certos momentos, mas sem criar uma atmosfera excludente para os que são de fora do país, a série consegue colocar o natal no centro do enredo ao mesmo tempo que cria uma história que não precisa do natal para existir, usando a data mais como desculpa para impulsionar certos momentos do que realmente para gerar uma melosidade em seu desenvolvimento.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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