Resenha | Vox

Nota
3

Situado em uma América onde metade da população foi silenciada, VOX é a história angustiante de uma mulher que fará o que for preciso para proteger a si mesma e sua filha.

Tudo começa quando o governo decreta que mulheres, incluindo crianças, só podem falar 100 palavras por dia (e detalhe: em média, mulheres falam cerca de 20.000 palavras por dia!). E se elas passam desse número de palavras, pagam um preço (e não digo em relação ao dinheiro). Em meio a esse contexto opressor, vamos conhecer a Jean McClellan, sua família e sua rotina silenciosa. A Jean em um passado não tão distante foi uma linguista cognitivista e, para sua sorte, o governo precisa do conhecimento dela, mesmo que isso seja “contra as regras”. E ela usará isso como fonte de barganha. Porém, fará muito mais do que ajudar os responsáveis por silenciá-la… ela tentará derrubar o governo.

Com a atual situação em que nos encontramos hoje, Vox cai como uma luva. Ou seja, precisa, sim, ser lido e relido. A Christina Dalcher, que é uma linguista (assim como a protagonista do romance), consegue nos mostrar a importância da fala e, principalmente, o quanto nossos discursos são políticos, refletem quem somos e pelo o que lutamos. Porém, os problemas deste livro não são as reflexões que subjazem a história, mas, sim, o desenvolvimento do romance. Tudo acontece de forma muito rápida e, consequentemente, tudo é muito superficial. Sem dúvidas, esperava um aprofundamento maior, principalmente antes de esse governo opressor assumir e pôr em prática esse mecanismo silenciador feminino.

A personagens principal, a Jean, poderia ser melhor desenvolvida. Ela é PhD, é inteligente, é mãe. Ou seja, deveria ser A PERSONAGEM do livro, mas… Em diversos momentos, percebemos uma personagem pensa muito mais no amigo italiano do que na atual situação, lembrando-nos de situações do passado onde ela escolheu ficar em casa a ir lutar por direitos que estavam sendo perdidos. O único acerto na construção da personagem foi a relação com a filha. A Jack, amiga de Jean e militante, foi uma personagem esquecida na fila do pão. Nas primeiras páginas do livro, sabemos um pouco da personagem através das lembranças da Jean. Poderia ser melhor desenvolvida? Sim, sem dúvidas. E o Steve, filho alienado da Jean, é outro personagem que vive num mundo à parte; ele se tornou produto desse governo opressor, mas parece que a sua mãe não tenta mudar isso. Como mãe, ela tem o dever de fazer isso. Com tantos personagens bons que poderiam dar um plus a história, a autora preferiu focar num romance, que poderia ser facilmente descartado.

Diferente de O Conto da Aia, o leitor pode sentir falta de um contexto político mais desenvolvido. Como o narrador é a própria Jean, é até compreensível que não saibamos de determinadas coisas, mas será mesmo que a própria personagem não ia se interessar por isso, mesmo sabendo que poderia ser silenciada?

E o final é tudo o que o leitor não espera. E isso não é um ponto positivo. Foi apressado e cheio de informações jogadas sem nenhum aprofundamento ou explicação. E, no final, só percebemos o quanto a Jean é egoísta e covarde. E a sensação de “final feliz” foi algo bem difícil de engolir, principalmente sem saber das conseqüências que a queda do governo trouxeram para aquela sociedade. É claro que o mal desenvolvimento da historia não exclui as reflexões e a crítica presente, por isso é um livro que precisa ser lido, apesar do que foi dito anteriormente, para mostrar-nos o quanto a mulher precisa ser valorizada. Porém, infelizmente, não espere nada comparado ao O Conto da Aia.

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Vox

Autor: Christina Dalcher

Editora: Arqueiro

Skoob

Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.

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