Resenha | Sem Amor

Nota Geral
4

“Tudo o que eu precisava fazer era esperar, e minha grande história de amor aconteceria. Eu encontraria o escolhido. Nós nos apaixonaríamos. E eu teria o meu felizes para sempre.”

Georgia Warr nunca se apaixonou, beijou ou teve um crush em toda sua vida. Como uma boa romântica, ela tem certeza que seu momento chegará e ela encontrará sua pessoa, afinal, foi isso que horas de leituras de fanfics e uma sociedade obcecada por sexo e paixão lhe ensinou. A espera de fato nunca a incomodou, ao menos não até sua festa de formatura. Após um desastroso quase primeiro beijo trazer a tona suas inseguranças, Georgia toma uma decisão: ela encontrará um romance custe o que custar.

E que melhor forma de conseguir isso do que começando uma nova vida longe de casa, na universidade de seus sonhos junto com seus melhores amigos, Pip e Jason, e em um grupo de teatro com as pessoas que mais ama no mundo? Até mesmo sua nova colega de quarto, a extrovertida Rooney, que aparentemente não tem nenhum problema com relações casuais, promete ajudá-la. Tudo é um encaixe perfeito para que ela possa finalmente realizar seus sonhos e viver como todo mundo a seu redor.

O problema é que seus planos românticos se tornam uma tragédia digna de Shakespeare, trazendo uma rixa avassaladora entre seus amigos. Como coisas tão cotidianas, coisas que todo mundo já vivenciou, podem parecer tão complicadas e difíceis para ela? Será que o amor é algo tão impossível a ponto dela viver sem ele por toda a vida?

“A ficha estava começando a cair. Eu nunca tinha tido um crush em ninguém. Nem em garotos nem em garotas, em nenhuma pessoa que eu já tinha conhecido. O que isso significava?”

Alice Oseman ficou conhecida no meio literário pela ótima representação em suas obras, trazendo um leque de personagens que, não só encantavam o público, como debatiam temas pesados com um cuidado exemplar. A evolução em suas obras se mostrou em uma crescente primorosa, expandindo o Osemanverse e conquistando uma legião de fãs. Por tanto, não foi nenhuma surpresa que a autora explorasse um novo tema, trazendo mais uma vertente de uma sigla pouco explorada na comunidade queer: a assexualidade arromântica.

Narrado em primeira pessoa, Sem Amor traz uma reflexão profunda sobre as diferentes formas de amar e o quanto somos pressionados socialmente a nos encaixarmos naquilo que se espera de um envolvimento romântico. Com um cuidado exemplar, Alice explora essa nova vertente, trazendo os questionamentos necessários sem nunca desrespeitar seu público, o que torna o livro ainda mais sublime para a história que deseja contar.

A autora constrói uma trama crua e por vezes indigesta, o que desperta nosso interesse ao mesmo tempo que nos informa de maneira objetiva sobre o tema pouco explorado. É dessa maneira que Alice utiliza as descobertas de sua protagonista para informar ao leitor, trazendo um dinamismo profundo à trama. Não seria estranho saber que a obra ajudou vários leitores a se entenderem enquanto liam as desventuras e dúvidas de sua protagonista.

Georgia comete erros, acertos e uma tremenda confusão em seu processo, mas é exatamente isso que a torna tão atraente e humana em sua própria narrativa. Sua inexperiência e seu desejo de se encaixar naquilo que acredita ser ideal para si traz dilemas oportunos que começam a questionar as coisas que se obriga a sentir. Por boa parte da trama ela anda em círculos, encontrando becos sem saídas e machucando pessoas queridas no processo, mostrando que ela está longe de ser perfeita e o quanto podemos magoar ao tentarmos nos descobri.

Suas camadas nos causam um misto de emoções que nos acompanham durante toda a trama, mas é extremamente gratificante ver como ela não se isenta da culpa por seus atos e o quanto ela realmente aprende com os erros que comete, reavaliando tudo aquilo que fez e que poderia fazer para se entender como pessoa.

O livro ainda nos presenteia com ótimos coadjuvantes que, por muitas vezes, seguram o carisma da obra. Pip, Jason, Rooney e Sunil possuem sua própria narrativa, por muitas vezes distante do arco principal, o que engrandece ainda mais a trama. Eles trazem seus próprios dilemas, vontades e desejos o que os tornam tão atrativos e presentes quanto a própria protagonista (as vezes, até mais).

Sem temer ser complicado e cheio de nuances, Sem Amor traz uma trama com bastante consciência que nos ajuda a refletir e aprender em meio a seu processo. Utilizando não só a vivência da protagonista mas de todos ao seu redor, a obra nos mostra que não é necessário vivenciar um amor romântico para conhecer um verdadeiro amor e que cada forma como esse sentimento se mostra é válida e preciosa.

“Eu tinha passado minha vida inteira acreditando que o amor romântico estava esperando por mim. Que um dia eu o encontraria e então eu seria, totalmente, e finalmente feliz.
Só que agora eu precisava aceitar que isso nunca ia acontecer. Nada disso. Nenhum romance. Nenhum casamento.
Nenhum sexo”

 

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Sem Amor

Autor: Alice Oseman

Editora: Rocco

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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