Resenha | Os Tambores do Outono (Parte I)

Nota
4.5

“Você é minha coragem, assim como eu sou sua consciência. Você é meu coração, e eu, sua compaixão. Sozinhos, não somos inteiros.”

Claire sempre soube os riscos que corria, mas mesmo assim prosseguiu com a decisão mais difícil de sua vida, abandonando seu próprio século, sua filha, seus costumes, e atravessando o tempo mais uma vez para reencontrar o grande amor de sua vida. Mas nada disso a tinha preparado para o novo desafio que se postava em sua frente.

Junto com Jaime Fraser, Claire precisa encarar a nova realidade num mundo totalmente novo. Enquanto tentam criar raízes na América Colonial do século XVIII e sobreviver as dificuldades desse “novo mundo”, o casal parte para a Carolina do Norte e, com a ajuda de Jocasta Cameron (tia de Jamie e uma poderosa dona de terras na região) tentam encontrar um lar e uma oportunidade de construírem algo somente deles.

Mas, a felicidade do casal é posta em prova quando jogos políticos e artimanhas nefastas podem levar a um destino abominável com um único deslize. Agora resta a Jamie e Claire escolherem sabiamente seus aliados e analisar bem sua jogada em um terreno desconhecido onde ambos possuem pouca, ou nenhuma, ideia do que os aguarda.

Enquanto isso, em 1969, Brianna Randall tenta encarar sua nova vida sem ter sua mãe por perto. Ao se aproximar cautelosamente de Roger Wakefield, Brianna tenta encontrar respostas sobre sua origem e o misterioso pai biológico que ela só descobriu a pouquíssimo tempo. Em meio a pesquisas, os jovens se reaproximam, mas Roger descobre um segredo devastador que pode colocar tudo a perder e deixar a sua amada em um perigo mortal.

É inegável que Diana Gabaldon tem um dom. A escrita minuciosa e a atenção aos pequenos detalhes são tão magníficos que é difícil descrever e isso fica ainda mais acentuado em Os Tambores do Outono. Dividido em duas partes, o livro expande o universo caprichado da autora tirando seus personagens de sua zona de conforto e os mergulhando de cabeça em um mundo selvagem e aterrorizador, trazendo assim um novo frescor a trama.

O quarto volume da saga possui um enredo mais tranquilo que o dos livros anteriores mas não menos intenso ou empolgante. Todo o cuidado com fatos históricos, criticas sociais e assuntos delicados, são explorados de modo sublime e preciso pela imaginação fértil de Gabaldon.

Se os três primeiros livros tiveram como cenário a beleza das Terras Altas e a sofisticação Europeia, nesse somos introduzidos a um continente inóspito e avassalador, repleto de desafios cruéis mas com a beleza que só um recomeço poderia ter. Com um forte senso de família, a obra vai costurando suas vertentes de uma maneira caprichada e profunda que encantam o leitor fazendo a trama fluir de uma maneira eficaz e empolgante.

Intercalando duas linhas de tempo distintas (1767 e 1969) o livro acompanha a reaproximação de seus personagens. Seja pelos anos afastados ou pelas tímidas tentativas de um possível romance, os pequenos gestos passam a ser tão significativos quando a maior declaração de amor do mundo.

Claire se mostra forte e, por vezes, bastante inconsequente de seus atos nesse volume. Seja pelas brigas contra piratas ou sua revolta contra a escravatura, a sassenach tem ótimos momentos durante a trama. Dificilmente ela vai esperar alguém lhe dar permissão para algo e, quando bate o pé, ela pode se mostrar tão cabeça dura quanto qualquer um dos MacKenzie.

Jaime se encontra em um grande impasse. Ele pode viver confortavelmente em River Run, cuidando das terras de sua tia onde tudo parece estar encaminhado para lhe proporcionar um crescimento substancial na colônia, ou arriscar uma jornada única para encontrar sua própria terra, onde pode ser dono do seu próprio destino sem viver as sombras de ninguém mas, para isso acontecer, ele precisa fazer um acordo político que já foi um dos motivos de sua ruína. O ruivo encontra novos desafios ao longo do caminho e novas formas (embora muitas vezes exageradas para engrandecer a “perfeição” masculina do personagem) para provar seu calor durante a trama. Falo do momento singular com o urso ou como parece que o escocês faz tudo com o mínimo de esforço.

Alguns dos problemas já notados nos livros anteriores, e aqui multiplicados ao em vez de concentrados, cria uma distância surreal com a realidade que a obra busca passar. É quase como encarar um super-humano capaz de entender e lutar contra o mundo, quando claramente Jaime é apenas um humano cheio de defeitos (ou deveria ser).

Do outro lado temos Brianna que vive uma crise de identidade. Por toda sua vida ela acreditou ser filha de Frank Randall para a pouco tempo atrás descobrir que é fruto de um amor atemporal. Com o sumiço da mãe, a moça se sente solitária e ainda mais curiosa quanto a seu pai biológico mas sente em seu peito que procurar por ele é o mesmo que trair o amor de seu pai de criação. Brianna ainda encontra-se cheia de dúvidas em relação a sua paixão por Roger. Se sua mãe se encontrou dividida por dois amores como ela pode ter certeza de que o que sente por Roger é real?

Jocasta é uma mulher forte e decidida. A tia cega de Jaime controla tudo ao seu redor com sua mente perspicaz e com seus punhos de ferro. A interação da senhora com os outros personagens é sublime e encantadora, Jocasta sabe bem como mexer as peças a seu favor e como tirar proveito de cada situação, trazendo uma adição maravilhosa a trama. No livro também somos apresentados a Stephen Bonnet, que demonstra os princípios vilanescos de alguém que tem tudo para bater de frente com as atrocidades cometidas por Black Jack. Sagaz, cruel e extremamente debochado, o novo vilão sabe mover as peças no tabuleiro e atormenta ainda mais a paz dos protagonistas.

A edição da Arqueiro faz jus à grandiosidade da saga. Com uma capa cheia de camadas e significados, o projeto gráfico se mostra sublime e encantador. As folhas amareladas, o bom espaçamento e a fonte confortável facilitam e muito a leitura além de ser um ótimo descanso para os olhos.

Repleto de uma beleza selvagem e com uma trama relativamente empolgante, Os Tambores do Outono – Parte I trás uma nova oportunidade e um novo respiro a saga. Repleto de intrigas, simbolismos e cenas magnificamente construídas, o livro nos mostra a força da família e como construir nossos próprios destinos de uma maneira singular sem nunca esquecer suas velhas raízes.

“ Por conhecer a proximidade, o lado bom é o ruim, ele teve a força para deixa-la, se afastar de toda a noção de segurança e partir sozinho. E eu – tão orgulhosa da autossuficiência pelo menos uma vez – não conseguia tolerar a ideia de ficar sozinha de novo. ”

 

Ficha Técnica
 

Livro 4 Parte 1 – Outlander

Nome: Os Tambores do Outono

Autor: Diana Gabaldon

Editora: Arqueiro

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Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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