Resenha | Os Livros da Selva

Nota
5

” – Então você sabia dessa história, é? Por que nunca me contou?
– Porque a selva é cheia de histórias assim. Se eu começasse a contar, não acabaria nunca.”

Todos conhecemos a história de Mowgli, o filhote de homem resgatado e criado por lobos, protegido por uma pantera e um sábio urso que acompanham seu crescimento e seu desenvolvimento como membro da alcateia. Conhecedor da Lei e dos costumes da Selva, Mowgli é ao mesmo tempo amado e temido por aqueles que convivem em seu ambiente e acaba construindo alguns inimigos, entre eles o cruel Shere Kan, o tigre manco que procura a todo custo reivindicar seu direito de caçada e matar o filhote de homem, coisa que lhe foi negada a luas atrás durante um evento de reconhecimento na Pedra do Conselho.

Dotado de um destemor honroso e preparado para enfrentar a dureza da Selva, Mowgli tem que enfrentar dificuldades para entender a si mesmo e ao sistema que o cerca, observando e por muitas vezes preso em ser um ser indefinido (nem homem, nem lobo) e, tentando a todo custo encontrar o seu lugar no mundo.

Os livros da Selva retratam amplamente a estrada do filhote de homem e, embora seja escrita para crianças, nos conduz a assuntos maduros e com um peso enorme sobre o desenvolvimento e conhecimento humano. Exploramos uma fase delicada de crescimento e amadurecimento humano, analisamos nossos atos pelos olhos animais, o impacto severo que o homem tem na natureza e, acima de tudo, o que é ser humano. Os livros comportam 15 contos, que transcendem os limites demográficos das florestas Indianas e nos apresenta um novo conceito de Selva.

Ela passa a abrangi pontos extremos do planeta, agregados a uma vida “selvagem” e bruta ainda assim dotada de uma beleza natural invejável. Repleto de personagens e protagonistas com carismas e personalidades variáveis, a obra constrói uma nova visão se mundo, por muitas vezes explicadas por animais dotados de fala e pensamentos únicos, nos fazendo indagar qual o real motivo da crueldade humana.

Rudyard Kipling constrói uma prosa rica e magnífica que consegue transcender décadas e ainda assim manter seus encantos. Suas histórias são repletas de costumes e fatos históricos que, por muitas vezes, são mostrados em um novo ponto de vista. A construção dos seus cenários é magnífica e por muitas vezes consegui sentir o frio do ártico ou a umidade sufocante das florestas indianas, onde boa parte da sua obra se passa. A beleza com que é descrita e o cuidado em elaborar seus enredos e agregados ao eterno misto de crenças e descrenças é fascinante de se ler. É surpreendente notar como uma obra escrita a tanto tempo consegue manter atento ate o mais disperso dos leitores, despertando um interesse avido pelo desfecho do conto que se desenrola fluidamente pelas paginas amareladas.

Os animais de Kipling, embora selvagens e por muitas vezes brutos, apresentam por muitas vezes um comportamento mais civilizado que a dos humanos. As leis da Selva, que Mowgli luta para aprender, embora dura e rígida é a lei e rege bem a hierarquia que aprendemos a observar na Selva. A lei, por muitas vezes se mostra implacável mas bastante benéfica, mostrando uma ampla dualidade.

Dualidade essa seguida por muitos personagens, como o povo serpente, largamente representado por Kaa, que se mostra forte, corajoso e belíssimo mas que pode ser traiçoeiro e perigoso ao menor descuido. Ou o respeitado Hathi que é sábio e forte, respeitado em toda a floresta mas que esconde segredos sobre seu passado. Baloo se mostra extremamente sábio e provedor de boa parte do conhecimento do menino lobo, mas por vezes abusa da sua força. Já Shere Kan é a crueldade em forma animal, vil e cruel ele não tem medo do uso da violência gratuita e é completamente cego para o bem do próximo. A única coisa que importa são seus objetivos.

Raksa e Bagheerra podem mostrar tanto seu lado dócil como suas garras afiadas e implacáveis. Ate Rikki-tikki-tavi não exita em destroçar filhotes inimigos para proteger seus humanos. Rudyard constrói muito bem as lendas e mitos em sua obra, é extremamente belo e assustador ver o nascimento do medo ou as lendas do povo ártico. E, por que não dizer, do deuses da floresta.

A obra faz parte dos Clássicos Zahar que mais uma vez fez um trabalho exemplar. Seja por sua capa colorida ou por sua magnifica folha de rosto, ela não passa despercebida em nenhuma livraria. O livro possui paginas amareladas e uma tipografia magnifica que facilita muito a leitura. Juntando os dois volumes do Livro da Selva e cheio de figuras originais da obra ( entre elas as de J.L. Klipling, pai do autor ) a Zahar ainda nos presenteia com o conto Dentro do Kuht, que não faz parte dos livros da selva mas transcrevem a primeira aparição de Mowgli na literatura. O livro ainda apresenta magnificas canções entre os contos, uma esplendorosa analise sobre a obra de Kipling e uma cronologia sobre a vida do autor.

Repleto de beleza, amizade e analise sobre a relação humano/natureza, Os livros da Selva se torna um item indispensável no catalogo literário de qualquer leitor. Repleto de uma profunda reflexão sobre os nosso papel nesse mundo e como podemos torna-lo melhor, ele nos abre um novo mundo repleto de cores, sons e cheiros e desperta um lado selvagem que, talvez, não seja assim tão cruel.

 

“Essa é a Lei da Selva, antiga e certa como o céu;
Que prospere o lobo que a cumprir, mas que o lobo que a quebrar pereça.
Com o cipó emaranhado no tronco, a lei vale para os dois lados…
Pois a força do bando é o lobo e a força do lobo é o bando.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Os Livros da Selva

Autor: Rudyard Kipling

Editora: Zahar

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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