Resenha | O Último Filho de Freya

Nota
5

“Tudo é passageiro, querido, inclusive nós. É por isso que a vida se trata de algo tão incrível… Somos meros viajantes”

Treze séculos atrás, no tempo em que os vikings desbravaram os mares nórdicos em busca de comércio, terras e riquezas, o frio tomou conta das terras escandinavas, dizimando sua população. Tendo ciência do destino que os aguardava, seis clãs decidiram fugir para o sul; os Kjillars, Vokmonts, Kollings, Drains, Vaullures e Awenwas. As famílias decidiram se estabelecer no norte da Britannia, onde prosperaram e cresceram.

No entanto, apenas duas das seis mantiveram-se firmes em seus costumes e crenças, as demais se deixaram ludibriar pelos costumes do povo local, causando uma ruptura severa entre si. Os Kjillars e os Vokmonts uniram-se contra os demais clãs e iniciaram seu plano de purificar mais uma vez a linhagem dos vikings. Seu plano foi avançando aos poucos, clã por clã, até que conseguiram concretizá-lo, erradicado de uma vez por todas qualquer vestígio dos outros demais. Para concretizar a vitória, os líderes dos dois vitoriosos organizaram um casamento entre seus descendentes, Einar Kjillar e Astrid Vokmont.

Sedento por poder, Einar provocou a morte dos seus pais e sogros, assumindo assim o poder de não dois, mas um clã unificado. Uma nova era começou, trazendo riquezas e escravos, assim como também trouxera descendentes, dez ao todo, sendo Freya a mais nova e única mulher. Einar enviou seus filhos homens através do mar para conquistar novas terras, mas dos 10 apenas 4 sobreviveram, sentindo a falta deles, adotou um escravo como protegido, e Freya se apaixonou pelo homem, gerando um bastardo. Fugindo então da ira de seu pai, passaram a vida sem um lugar fixo, fugindo de cidade em cidade, sofrendo os efeitos da maldição que seu pai lhe lançara, um juramento de sangue, que foi atendido.

Séculos se passaram nessa fuga voraz, e chegamos no ano de 2013, onde, às cegas, Caleb, o último filho De Freya, se vê preso no emaranhado obscuro que a maldição de sua família o colocou, tendo que descobrir aos poucos sobre a verdadeira história por trás do seu passado, além de uma forma de acabar com a maldição de uma vez por todas.

É um fato conhecido que lançar um livro no Brasil é complicado, ainda mais sendo um autor autônomo, prestes a fazer sua estreia literária mas sem grande sustentação… mas Everton Mendes conseguiu esse grande feito! Nativo de Caruaru, no interior de Pernambuco, e com o sonho de criar o próprio universo, o autor constrói uma narrativa inteligente e que envolve o leitor, seja pela pitada de mistério ou pelos personagens cativantes e únicos.

Em O Último Filho de Freya, o primeiro volume do que promete ser uma grande saga, conhecemos a origem da maldição lançada aos descendentes da única filha de Einar, mas de forma muito bem dosada começamos a conhecer os reais males que ela causa a seus portadores. De forma despretensiosa o autor nos apresenta o protagonista e todo o seu entorno de forma bem detalhada e concisa, o que apenas engrandece seu trabalho.

É notável a emoção envolta na obra, todo o cuidado ao trabalhar temas e personagens diversos e principalmente o carinho ao escrever cada personagem. A principal sacada da trama é manter o leitor em constante dúvida, durante a leitura é comum surgir um “o que é isso que tá acontecendo?” e um tempo depois a pergunta ser respondida, mas claro guardando um pouco do mistério para ser solucionado no decorrer da saga.

Caleb é o grande protagonista dessa estória, desde o momento em que perdeu sua mãe até o ápice da trama vemos sua crescente, com toda a descoberta que as mudanças em sua vida, sua relação familiar complicada e os constantes segredos que vão sendo revirados aos poucos, mostrando camadas de humanidade que cativam o leitor logo de cara.

Ezra é o melhor amigo do Cal, um contraponto interessante e que complementa perfeitamente o protagonista. Seu ar mais brincalhão é sempre bem vindo durante o enredo, mas sem deixar de lado a carga emocional de saber tão pouco sobre a situação de seu irmão de consideração, o que traz momentos únicos entre os dois que só esse tipo de relação poderia proporcionar.

O Ceifador é uma figura misteriosa e completamente insano, o maior atrativo do personagem é saber que seu real objetivo é desconhecido, mas a forma como ele age é única, com toques de sadismo e muita crueldade, instigando o leitor a descobrir quem ele realmente é, além do motivo pelo qual ele leva a calamidade por onde passa.

O livro apresenta outros personagens, cada um mais interessante e complexo que o outro, um fator que precisa ser destacado é o quanto cada um possui uma humanidade gigantesca dentro de si, eles cometem erros e não são completamente bons ou maus, e esse aspecto é de extrema relevância para que o leitor entenda suas motivações e desejos, e o motivo por cada coisa acontecer daquela maneira.

O livro apresenta uma leitura fluida que prende o leitor a cada página com todas as suas nuances. A capa criada por Livia Cintra é uma metáfora para um dos diálogos do livro, em que uma lenda é apresentada, apenas mais um toque de autenticidade para a lore construída durante o enredo. A obra também conta com uma playlist oficial criada pelo autor, para uma experiência ainda mais imersiva, apresentando por completo a experiência que o autor deseja proporcionar ao leitor.
Sendo assim, O Último Filho de Freya é um excelente livro, que conta uma estória densa e fascinante, com personagens tão humanos que se tornam reais fazendo com que o leitor fique cativado por cada nuance apresentada, torcendo a cada minuto da jornada heroica de Caleb.

“Você é um universo extraordinário”

Ficha Técnica
 

Livro 1 – Saga dos Bastardos

Nome: O Último Filho de Freya

Autor: Everton Mendes

Skoob

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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