Resenha | O Ladrão de Raios

Nota
5

“Olhe, eu não queria ser um meio-sangue.
Se você está lendo isto porque acha que pode ser um, meu conselho é o seguinte: feche este livro agora mesmo.”

Percy Jackson era um garoto comum de 12 anos que estudava na Academia Yancy, um internato para crianças problemáticas no norte de Nova York, mas o mês de maio mudou completamente sua vida após a turma do sexto ano fazer uma excursão a Manhattan, para ver velharias gregas e romanas no Metropolitan Museum of Art. Naquele dia especifico, um turbilhão de revelações aconteceu quando Percy descobriu que o ódio de Nancy Bobofit não era nada frente ao que sua vida realmente ia se tornar depois que a Sra. Dodds, sua professora de iniciação a álgebra, tenta mata-lo, é transformada em pó, e ele descobre que o Sr. Brunner, seu professor de latim, é na verdade um centauro chamado Quíron, seu melhor amigo paralitico, Grover Underwood, é na verdade um sátiro, e ele é um semideus, ou melhor, um perigoso filho de Poseidon, e o principal suspeito de roubar o Raio Mestre de seu tio, Zeus.

Quando, em 2010, a Fox Filmes lançou o filme Percy Jackson e o Ladrão de Raios, queria um sucesso absoluto, e ela quase alcançou, o filme mais amado e mais odiado pelos fãs de Rick Riordan foi um marco para a história do autor em muitos lugares pelo mundo, principalmente aqui no Brasil. Devo confessar que fiz parte dos muitos que amaram o filme e logo correram atrás de conhecer os livros, para logo depois descobrir que o maravilhoso filme que assisti é na verdade uma das piores adaptações da história.

“Como podia alguém me acusar de roubar a arma de um deus? Eu não conseguia nem furtar um pedaço de pizza da mesa de pôquer de Gabe sem ser pego.”

Percy parece refletir muito da vida do próprio Riordan, já que o autor era apenas um professor de inglês e história em escolas públicas e particulares de São Francisco, apesar de ter escrito um livro de mistério para iniciar sua carreira de escritor, mas sua vida mudou completamente após esgotar o repertório de mitos gregos que contava para seu filho, Haley Riordan, na hora de dormir, foi nesse momento que Rick resolveu criar Percy, um garoto moderno que era um semideus grego e precisava conciliar a vida moderna com sua vida secreta, uma história de dormir que acabou se tornando uma série de livros.

Percy foi criado por Riordan para ser uma personificação de seu filho, por conta disso acabou incorporando a dislexia e a TDAH de Haley, tornando esses ‘defeitos’ em qualidades e motivando milhares de jovens ao redor do mundo a ver seus verdadeiros potenciais acima de suas limitações. Grover surge na trama como principal aliado de Percy, o introduzindo ao Acampamento Meio-Sangue, lugar onde todos os semideuses se reúnem e são treinados para saber viver com suas condições especiais, além de ficarem protegidos dos milhares de monstros que vagam pela cidade em busca de matar cada semideus que existe, o sátiro é divertido, protetor, cativante e rapidamente consegue oscilar entre ser o conselheiro e o alivio cômico.

“Se você fosse Zeus, e já achasse que o seu irmão estava planejando derrubá-lo, e então o seu irmão subitamente admitisse que havia quebrado o juramento sagrado que fizera depois da Segunda Guerra Mundial e que era pai de um novo herói mortal que poderia ser usado como uma arma contra você… Isso o deixaria com a pulga atrás da orelha?”

Hades e Zeus surgem na trama como vilões, dois grandes deuses querendo capturar o ladrão do raio por motivos distintos, e que surgem de forma a nos mostrar o quão perigoso pode ser estar na mira de um Deus, um poder que é mostrado discretamente por Poseidon, que apesar de aparecer pouco na trama consegue mostrar todo o arrependimento de um pai que foi forçado a abandonar seu filho para o bem do mesmo, ser o filho de um dos Três Grandes é uma das maiores ameaças que poderiam existir para Percy, além de ele ser considerado uma perigosa arma por todos os deuses o garoto se torna o maior prêmio para os monstros, fazendo-o ser ameaçado por todos os lados.

Mas, por incrível que pareça, apesar de Percy ser o protagonista ele não é o melhor personagem da trama, o papel de destaque fica nas mãos da estupenda Annabeth Chase, a filha de Atena que deveria ser a maior inimiga de Percy no acampamento, apesar de ser rapidamente substituída por Clarisse La Rue, mas acaba se tornando sua maior aliada entre os semideuses e seu principal interesse amoroso, uma garota extremamente inteligente que logo assume o papel de consciência do garoto, conseguindo direcionar o poder do Cabeça de Algas para impulsionar a missão de encontrar o Raio Mestre e inocentar o jovem semideus, uma missão que acaba aproximando o trio e nos levando a ver cada vez mais semelhanças com os livros de J. K. Rowling (um interessante trio formado pelo nascido sob uma profecia, ao lado de um garoto engraçado e leal e uma garota inteligente e que serve de bussola moral).

“Há cerca de sessenta anos, depois da Segunda Guerra Mundial, os Três Grandes combinaram que não iriam procriar mais nenhum herói. Os filhos deles eram poderosos demais.”

Com uma escrita leve e cativante, Tio Rick (como é carinhosamente chamado o escritor) vai apresentando a mitologia grega de uma forma simples, como se os mitos pudessem conviver conosco em nosso dia a dia, cruzar na rua com cada um de nós, criando um universos mitológico sem igual, contextualizando os deuses da Grécia para os tempos modernos e criando conexões para suas interferências nos eventos do nosso mundo atual. Tudo fica ainda mais fluido se considerarmos a forma narrativa que Rick emprega em Percy, que nos guia através de suas aventuras, nos deixando acostumados com sua personalidade, felizes com suas vitorias, tristes com suas perdas e até nos levando às gargalhadas com seu jeitinho teimoso, uma graça que é ainda mais potencializada pelos títulos dos capítulos, que nos faz uma referencia completamente piadista aos fatos que se desenrolam durante aquele pedaço da trama, tornando a leitura ainda mais acessível a qualquer idade e ajudando os mais resistentes a se afeiçoar pela mitologia grega.

O editorial chegou nas nossas terras em 2005, sendo lançado pelas hábeis mãos da Editora Intrínseca que não só traduziu toda a graça e fluidez de Riordan com uma precisão indescritível, como foi capaz de traduzir todas as piadas de uma forma universal e atemporal, garantindo que toda a graça não fosse perdida pelo simples fato de o livro não ter sido lançado no nosso país e nem ficar restrito demais aos jovens da sua época de lançamento. A magia da capa foi mantida fiel, com uma imagem que claramente não funciona dentro da trama, vemos uma arte que conquista rapidamente aos que passarem o olho, mas não entrega nenhum momento da trama, apenas desperta nossa imaginação e curiosidade e ganha um novo significado após o fim da leitura, quando podemos sentar e desvendar todas as referencias que estão contidas na capa e que não poderiam ser facilmente percebidas sem o contexto criado pela leitura. No final das contas, fica claro que O Ladrão de Raios é um ponta-pé divino para uma saga atemporal que vai habitar por anos no panteão clássico das melhores sagas jovens do século.

“Você irá para o oeste, e irá enfrentar o deus que se tornou desleal.
Irá encontrar o que foi roubado, e o verá devolvido em segurança.
Será traído por aquele que o chama de amigo.
E, no fim, irá fracassar em salvar aquilo que mais importa.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 1 – Percy Jackson & os Olimpianos

Nome: O Ladrão de Raios

Autor: Rick Riordan

Editora: Intrínseca

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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