Resenha | Eu Nasci Pra Isso

Nota
4.5

“- Deve ser legal só… ser alguém.
Rowan me encara. Vejo as luzes piscantes refletidas em seus óculos.
– Mas somos deuses, Jimmy. O que poderia ser melhor do que isso?”

Angel Ramihi tem um único motivo para continuar vivendo: A boyband Ark. É por eles que ela acorda toda manhã, suporta sua vida medíocre e consegue acreditar que ainda existe algo de bom no mundo. Angel faz parte do fandom desde o seu primórdio, e foi ali – em meio a fóruns, chats, fanfics e análises minuciosas – que ela encontrou amizades verdadeiras com quem pode compartilhar seu amor pelos meninos.

Prestes a realizar o sonho de sua vida, Angel parte para o coração de Londres, onde encontrará sua melhor amiga, Juliet, e finalmente conhecerá seus garotos. Depois disso, tudo fará sentido, não é? Depois de conhecer o Ark ela finalmente vai encontrar o seu lugar no mundo. O que poderia dar errado?

Jimmy Kaga-Ricci deve tudo ao seu grupo. Vocalista do Ark, ele e seus amigos estão acostumados a shows lotados, fãs apaixonados e as festas mais badaladas que a fama pode proporcionar. Mas tudo isso tem um preço… e a cada dia está mais difícil de se pagar. Jimmy sofre com crises constantes de ansiedade, vivendo com cada vez mais presentes que o afasta daquilo que mais ama: sua música.

Os caminhos de Jimmy e Angel se cruzam quando ele começa a questionar se a fama vale tudo isso, e ela se seu amor pelo Ark só é tão grande por evitar que encare seus problemas.

Alice Oseman sempre soube lidar com os questionamentos adolescentes, principalmente pelas confusões de sentimentos que nos atingem nesses momentos de total explosão hormonal. Seja por amores não correspondidos, romances duradores, ou, até mesmo, um amor não romântico que você simplesmente não consegue explicar… só sentir.

Dito isso, é preciso falar que Eu Nasci Pra Isso não é um romance. Ao menos, não o tipo de romance que você espera. Com uma leitura envolvente e divertida, o novo livro de Oseman vai mais a fundo em um amor que não tem explicação, mas que é tão forte que se mostra presenta a cada segundo de nossas vidas: o amor de fã.

Oseman constrói uma narrativa facilmente identificável, nos colocando dos dois lados da moeda enquanto desmitifica a idolatria que tantos de nós temos por nossos ídolos. A autora utiliza o pedestal em que colocamos as celebridades para demostrar o quão problemático pode ser ter esse papel na vida de alguém, principalmente quando não conhecemos de verdade essa persona que idolatramos.

Ela aproveita os estereótipos das fãs alucinadas para fazer uma leitura precisa da base dos fandons, nos mostrando todas as vertentes e críticas que se podem fazer nesse aspecto, enquanto constrói um lado mais humano e vulnerável que destrói todas as expectativas criadas dos fãs para com seus ídolos.

Angel tem plena consciência desse lado obscuro do fandom, mas mesmo ela cria uma figura irreal das pessoas que ela acha conhecer como a palma da sua mão. A protagonista está longe de ser histérica e obsessiva, mas não consegue não falar de outro assunto que não seja os meninos, a ponto de negligenciar fatores importantes de sua vida.

Angel sempre coloca as expectativas de que tudo se resolverá depois que conhecer seus ídolos, como se todos os problemas que carregasse fossem desaparecer ao encontrar seus meninos, ignorando e apagando qualquer possibilidade de questionamento até esse momento chegar.

Não é a toa que a autora utilize esse evento para a girada de chave da personagem, que, mesmo antes, vai percebendo que certas atitudes são prejudiciais, mas só tem a real visão do todo quando sua realidade é quebrada diante dos seus olhos.

Enquanto isso, Jimmy se esconde através da máscara midiática que é obrigado a usar. Reprimido e amordaçado pela gaiola dourada em que se encontra, o rapaz vê toda sua vida ser monitorada, analisada e questionada a cada segundo do seu dia, até mesmo sua identidade foi exposta e debatida antes que ele estivesse pronto para isso.

É com ele que a autora aborda temas sensíveis, colocando o dedo na ferida de maneira oportuna que nos faz refletir sobre a saúde mental de nossos ídolos (afinal, não é a toa que tantas celebridades entrem em colapso pela exposição excessiva que a mídia e os fãs proporcionam as suas vidas). Além dos diferentes vícios e visões sobre esse mundo luxuoso que tanto brilha aos nossos olhos.

E é nesse fato que Alice desenvolve seus personagens secundários. Todos são importantes para construir esses aspectos (alguns mais do que outros), principalmente quando são tão cativantes que nos envolvem desde o primeiro segundo. Aqui destaco Rowan e Listen, que tratam a fama de maneiras distintas mas complementares de certa maneira. Outro grande destaque se encontra em Bliss, que tem um papel significativo ao decorrer da história, assim como Juliet, que serve de contraponto para o despertar de Angel na narrativa.

O livro chega a solo brasileiro pelas mãos da Seguinte, que decide manter a capa ilustrada mas sem seguir a linha de capa dura que adotou para o Osemanverse (o que é uma pena). Com uma tradução impecável de Lígia Azevedo, o livro consegue nos transmitir toda a fluidez de Alice, nos trazendo uma sensação familiar mesmo que seu enredo seja completamente diferente de tudo que vimos até aqui pela autora.

Repleto de uma dualidade e com uma sensibilidade impecável, Eu Nasci Pra Isso nos proporciona um questionamento oportuno e latente sobre a adoração aos nossos ídolos. Seja pela projeção irrealista, ou até mesmo o completo surto de acharmos que a vida alheia nos pertence, tudo aqui é necessário para uma evolução palpável, principalmente quando depositamos no outro uma evolução que cabe a nós mesmos.

“Na minha opinião, a verdade é que todo mundo está confuso e ninguém entende muita coisa sobre o que quer que seja.”

 

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Eu Nasci Pra Isso

Autor: Alice Oseman

Editora: Seguinte

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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