Resenha | Doutor Sono

Nota
5

“- Somos o Verdadeiro Nó – responderam. – E o que foi atado jamais pode ser desatado.”

Daniel Torrence vive assombrado com os antigos habitantes do Hotel Overlook, onde passou uma das experiências mais traumáticas de sua vida. Vivendo a deriva e se tornado uma sobra do pai, Dan tenta retornar sua vida e fugir do legado de alcoolismo e violência que parece impregnar seu sangue.

Finalmente, o rapaz consegue se instalar na cidade de New Hampshire, onde consegue apoio para seus problemas e começa uma nova vida trabalhando em uma casa de repouso, onde seu poder remanescente de iluminação fornece um conforto final para aqueles que estão a beira da morte. Com a ajuda de seu companheiro, Azzie, um gato que prevê a morte dos pacientes, ele se torna o Doutor Sono.

Mas, misteriosamente, Dan passa a se comunicar com Abra Stone, uma menina com um dom espetacular e a maior iluminação que ele já viu na vida. Enquanto tenta descobrir a forte ligação que une os dois, Abra vê sua vida transformada ao descobrir um folheto sobre um menino desaparecido com a qual tinha sonhado e, na tentativa de descobrir o que aconteceu com o rapaz, acaba revelando a identidade de seus assassinos.

Um mal tão antigo e quase imortal, que se disfarça de inofensivos nômades enquanto se alimenta do vapor exalado por crianças iluminadas quando são lentamente torturadas até a morte. Agora, cabe a Danny e Abra lutarem contra o Verdadeiro Nó enquanto uma perseguição sem precedentes se inicia. Despertando velhos demônios e antigas marcas que por muito tempo foram guardadas em pequenas caixas que deviam permanecer trancadas para sempre.

Continuações sempre são complicadas, principalmente quando a obra original é um marco em seu terreno. Decepções, expectativas e frustrações são bastante presentes quando tratamos do assunto, mostrando que muitas coisas não devem ser mexidas e continuar apenas no original. Tendo isso em mente, como dar continuidade à uma obra icônica trinta anos depois e construir algo a altura de algo tão cultuado e amado por seu público?

Antes de mais nada, Doutor Sono é sim uma continuação direta de O Iluminado. O livro parte de uma premissa simples e objetiva, questionada por tantos fãs que chega a incomodar: o que aconteceu com o pequeno Danny após o Overlook?

Com uma escrita precisa, Stephen King inicia sua narrativa pouco depois dos acontecimentos do Overlook, mostrando o destino de seus personagens amados para enfim criar um desenvolvimento com saltos temporais. Os traumas tão presentes em Danny são mostrados de modo sublime, criando uma narrativa viciosa de um ciclo destrutivo que parece impregnado em seu DNA.

King sabe bem como expandir seu universo, trazendo novos tons e cores a algo que achamos conhecer. É emblemático sair da claustrofobia causada pelo Overlook para algo mais amplo, mas não menos aterrador. Dando novas camadas aos iluminados e mostrando que o que nos foi contado até então era apenas a ponta do iceberg.

O fato da iluminação diminuir conforme a idade avança é outro ponto sublime, trazendo um novo desenvolvimento para os personagens. Danny na se mostrava promissor em sua primeira jornada, mas foi através de sua queda e crescimento que nos prendemos em sua humanização e no reflexo que sua vida se tornou.

Abra é outra personagem fantástica. Com uma força descomunal e um carisma latente, a nova protagonista vai ganhando nossa simpatia e preocupação. Abra passa a representar um perigo e a última esperança para os antagonistas, que procuram seu poder para permanecerem vivos. Com uma construção precisa e profunda, vamos acompanhando o desenvolvimento da garota até sua adolescência onde nos encontramos perdidamente arrebatados pela mesma. É também nela que encontramos algumas das melhores referências a cultura pop da trama.

E, por falar neles, o que seria do livro sem seu antagonista? O Verdadeiro Nó trás algumas das cenas mais revoltante que tive o prazer de acompanhar nos livros de King. Macabros, terríveis e repletos de uma maldade intrínseca o grupo percorre as estradas dos Estados Unidos, sugando aquilo que não podem ter e trazendo náusea a seus leitores. Mas nenhum é tão bem estruturado quanto Rose, a Cartola.

A líder do grupo se mostra alguém cruel e sádica, lembrando em muito uma versão macabra do Chapeleiro Maluco. Com um ar sinistro, que nos deixa arrepiados desde sua primeira aparição, Rose se tornando uma vilã marcante na historia de King e é tão presente na trama que é dela o rosto que encontramos na capa da obra.

Por falar em capa, a edição da Suma das Letras trás um ar misterioso, com o rosto da antagonista em tons vermelhos e o tão desejado vapor formando o titulo do livro e o nome do autor. O projeto gráfico se mostra exemplar, demostrando todo o cuidado e carinho que a editora teve com a obra e seus fãs. As páginas amareladas e o bom espaçamento trazem um conforto sublime, que nos ajuda a imergir ainda mais na trama de King além de nós convidar a mais uma virada de pagina antes de uma pausa.

Intenso, poderoso e viciante, Doutor Sono é uma ótima continuação. Expandindo o universo que tanto amamos e trazendo um novo frescor que não sabíamos precisar, o livro nos transporta para as poeirentas estradas do Estados Unidos enquanto nos mostra que existe muito a ser contado e, que quando bem feito, algo pode ser tão magnifico quanto esperávamos ser. Não mais, boa viagem e cuidado com o que encontra no caminho… você nunca sabe quem pode esperar na esquina.

“Quando estiverem em estradas e rodovias da América, fiquem de olho nesses trailers. Nunca se sabe quem eles levam. Ou o quê.”

 

Ficha Técnica
 

Livro 2 – O Iluminado

Nome: Doutor Sono

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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