Resenha | Deuses Americanos

Nota
4

“Em que devo acreditar?, pensou Shadow, e a voz que o respondeu veio de algum lugar nas profundezas do mundo, um ribombo grave.
Acredite em tudo.

Shadow Moon esta prestes a sair da prisão. Após três longos anos, o grandalhão não se importa se é realmente culpado ou inocente pelo seu crime, apenas estava satisfeito por ter mergulhado no fundo do abismo e conseguir sobreviver ao ato. No entanto, poucos dias antes de ser liberado, a vida do rapaz sofre mais uma reviravolta que tira completamente seu chão.

Sem lar, rumo e até mesmo uma esposa para voltar, Shadow encontra um curioso senhor, que se nomeia Wednesday, que, após uma breve conversa com o rapaz, lhe oferece um emprego bastante peculiar. Viajando pelos cantos mais reclusos do país, Shadow e Wednesday buscam aliados para uma guerra poderosa, que está se aproximando – uma guerra sombria pelo poder de não ser esquecido.

Enquanto encara criaturas fantásticas e deuses poderosos, Shadow descobre mais sobre seu destino e seu real papel naquela cruzada, entendendo melhor o seu passado e como ele pode estar interligado às crenças que nunca chegou a possuir. Mas seria possível que algo como Deuses Antigos e Novos fosse real?

Neil Gaiman sempre foi conhecido por sua estranheza. Seja em suas obras infantis, ou até mesmo em sua obra-prima, o autor traz seu toque esquisito e profundo em jornadas que poderiam parecer rasas a primeira vista, mas que sempre exigem uma segunda olhada. E não seria diferente com um de seus livros mais reconhecidos que, segundo o próprio Gaiman, você vai amar ou odiar.

A grande verdade é que Deuses Americanos não consegue passar despercebido na sua estante. Publicado pela primeira vez em 2001, o livro tornou-se um clássico imediato, misturando diferentes mitologias e crenças em uma densa viagem pelo interior dos Estados Unidos. A versatilidade da prosa escrita por Gaiman traz um aprofundamento quase lírico à narrativa, elaborando um texto que prende o leitor desde o primeiro segundo e nos transportando, com maestria, por sua jornada.

A amplitude e o poder da crença humana são a base para a narrativa, trazendo contextos importantes sobre o poder que temos ao nosso redor. A batalha para não ser esquecido traz um tom mais profundo à trama, demostrando todo desafio de continuar presente em tempos modernos.

O livro permeia pelo interior do país, atrelando sua personas aos deuses antigos que, assim como aqueles que o trouxeram, são estrangeiros e tentam, a todo custo, sobreviver e se readaptarem aos novos tempos. Gaiman aproveita esse ensaio para analisar a alma americana, trazendo um crescimento interno que jorra de suas páginas.

Wednesday é o centro dessa narrativa. Trapaceiro, malandro e sem um pingo de dignidade para com os outros, o misterioso senhor tem como função de vida colocar suas vontades e ambições acima de qualquer um. Exigindo que os antigos deuses acordem para recuperar seu valor perante os humanos. Ele é carismático e bastante traiçoeiro, trazendo uma dualidade impecável, que nos faz amá-lo e odiá-lo com a mesma força.

A cada novo personagem apresentado começamos a nossa própria investigação para tentar descobrir sua representação divina, algo que é ainda mais engrandecido pelos primoroso interlúdio, com a chegada das deidades no novo continente. Um acerto magnifico do autor.

Os Novos Deuses, por outro lado, estão atrelados a facilidade do mundo moderno e ao poder que as adorações diárias podem trazer. Cada um é uma representação do nosso cotidiano, trazendo novas reflexões para o que passamos a adorar nesse novo mundo tecnológico.

Mr. World, o líder dessa nova leva, traz um incessante desejo por controle, informação e poder, se mostrando um rival a altura do carisma malandro de Wednesday. Junto com ele somos apresentados a Mídia, Garoto Técnico, Mr. Wood e Mr. Town, que trazem suas próprias críticas ao mundo em que vivemos.

E, no centro de toda essa loucura, se encontra Shadow. Fechado e introspectivo, o rapaz esta disposto a seguir ordens sem questionar, demostrando um distanciamento pouco convencional dos protagonistas que conhecemos. Ao mesmo tempo que parece intrigante, o protagonista perde carisma, principalmente quando coisas tão fantásticas acontecem ao seu redor apenas para ele ignora-las… até não poder mais.

Orbitando em volta do rapaz, temos a presença funesta de sua esposa morta, Laura, que ressurge após um imprevisto e começa a seguir seu rastro para acertar aquilo que fez em vida. Laura é ao mesmo tempo interessante e irritante, mas consegue trazer uma dinâmica positiva para a trama.

O livro que chega em nossas mãos tem como base a Edição Favorita do Autor, trazendo uma revisão ampliada, repleta de cenas adicionais e conteúdos extras que tornam a leitura ainda mais interessante. A Intrínseca traz, novamente, um trabalho primoroso com as obras do autor, demostrando um apreço sem igual para uma edição tão memorável quanto essa.

Repleto de nuances e com um rico conteúdo, Deuses Americanos traz uma viagem agradável, mas um pouco lenta em determinados momentos. Explorando o cerne da vida americana, o livro aborda temas pesados e atuais enquanto nos transporta com maestria para o lado mitológico de um país construído por sua fusão cultural, embora poucos o reconheçam. Gaiman ainda nos convida a conhecer o maior dom humano e entender, de uma vez por todas, que deuses só serão reais se você acreditar neles.

“Acho que prefiro ser humano a ser um deus. A gente não precisa que ninguém acredite que existimos. A gente existe de qualquer jeito. É o que a gente faz.”

 

Ficha Técnica
  Livro Único

Nome: Deuses Americanos

Autor: Neil Gaiman

Editora: Intrínseca

Skoob

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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