Resenha | Billy Summers

Nota
4.5

“Talvez o último trabalho de uma pessoa não devesse ser apenas o mais lucrativo; talvez devesse ser o também o mais interessante. Mas tem mais uma coisa que ele gostaria de saber.”

Billy Summers é um homem com uma arma. Um assassino de aluguel que nunca errou um tiro, sendo especialista em desaparecer após o serviço estar feito, mas, para aceitar um trabalho, ele possui um critério rigoroso: o alvo precisa ser realmente uma pessoa ruim. Prestes a se aposentar, Billy decide aceitar um último trabalho, um que parece ser capaz de facilitar sua vida e tranquilizar qualquer problema futuro que possa aparecer.

Dois milhões de dólares. Quinhentos antes, o resto depois, para eliminar um assassino como ele, que está prestes a conhecer a cadeira elétrica. Billy é ótimo em passar despercebido, veterano de guerra e mais do que certeiro em seu tiro… então o que poderia dar errado? Quase tudo.

Ao se mudar para Red Bluff, uma cidadezinha de interior onde ele pretende se disfarçar como um escritor com um curto prazo tentando superar um bloqueio criativo, Billy espera seu alvo ser transferido para julgamento, mas, conforme o tempo passa, o atirador descobre que seu último ato terá um custo maior do que imagina. Repleto de vinganças, traições e esquemas sombrios, o último trabalho do Sr. Summers nunca pareceu tão desesperador.

Ao se pegar uma obra com Stephen King como autor, sua mente lhe envia os lugares mais sombrios, trazendo a tona seus piores medos e convertendo cada palavra ali presente em uma renovada onda de terror. Acontece que Billy Summers explora outra veia do autor, que poucos parecem associar ao poderoso nome, seu magnífico dom em criar dramas complexos e personagens profundos que se tornam atemporais.

O novo romance escrito por King deixa claro desde o início que seu protagonista não é alguém bom, o que torna ainda mais interessante acompanhar sua jornada ao longo da narrativa. Mas, como trazer alguma simpatia para alguém tão nebuloso quanto seus alvos? King entende bem o questionamento moral presente em sua premissa e utiliza esse terreno para construir um personagem complexo e repleto de falhas. Em nenhum momento Billy tenta se abster da sua culpa, trazendo um balanceamento moral que um verdadeiro anti-herói poderia construir.

Billy sempre assumiu uma persona chamada de “eu burro”, limitando suas ações e mascarando sua verdadeira personalidade para sobreviver no meio em que vive. A chance de libertar sua voz e trazer a tona sua verdadeira história traz uma construção magnífica que engrandece ainda mais o personagem. O autor utiliza o subtexto de um livro dentro do livro para destrinchar o passado e as motivações de seu protagonista, além de completar as lacunas enquanto o mesmo espera para executar seu trabalho.

É com essas linhas que entendemos mais profundamente cada marca deixada em sua persona, os traumas carregados e as escolhas que parecem insanamente hipócritas ao longo da narrativa. O terror de seu passado, tão realista e palpável, traz um novo ar à trama, jorrando como um rio envenenado que precisa ser expurgado por meio das palavras.

King constrói uma rotina bem executada, criando uma crescente tensão ao mesmo tempo que nos aproxima dos personagens. Cada função narrativa mostra o brilhantismo do texto, elaborando um cuidado que nos envolve aos poucos até que seja tarde demais para escapar e, quando menos esperamos, o livro nos soca com uma reviravolta que muda tudo aquilo que foi construído até então.

Alice Maxwell entra nessa nova vertente, trazendo suas próprias cicatrizes e encarando seus próprios horrores enquanto tenta se reestruturar. Alice constrói uma relação de companheirismo com Bill, trazendo um pouco de sua própria inocência para o atirador e o fazendo refletir e reviver aquilo que ele sempre guardou dentro de si. A troca entre eles é uma das melhores coisas da obra, atravessando a solidão mostrada até ali e trazendo o verdadeiro cerne de seu protagonista.

O texto é brutal e cheio de gatilhos, e talvez não seja tão indigesto para os leitores que vivenciaram ou conheçam as crueldades realistas aqui narradas. King não poupa suas descrições, trazendo cenas violentas e abusivas que causam desconforto àqueles que ousam ler suas tramas.

A Suma de Letras traz uma tradução exemplar de uma pessoa que verdadeiramente conhece o universo de King. Ler o trabalho de Regiane Winarski é um verdadeiro deleite, o que torna a leitura ainda mais deliciosa do que ela já é. Todo amor do mundo para essa profissional magnífica que engrandece ainda mais nosso Kingverso nacional. Por falar em multiverso do autor, o livro nos presenteia com uma citação ao hotel mais conhecido dos livros, trazendo um arrepio na espinha apenas por nós colocar próximo a ele.

A editora ainda nos presenteia com uma tipografia magnífica, com páginas aparelhadas e um texto espaçados que são um verdadeiro conforto aos olhos. Assim como uma página impecável que atrai qualquer olhar que pouse no livro, trazendo bem as nuances presentes na obra e encantando seu leitor no processo.

Aproveitando bem a moralidade cinzenta de seu protagonista, Billy Summers constrói uma trama envolvente e complexa que cativa o leitor. Discutindo o paradoxo de sua própria balança moral, o livro ainda apresenta os diferentes traumas que cada pessoa pode carregar, além de explorar os diferentes métodos de escrita que nos mergulha em um dos mais puros sentidos de liberdade aqui presentes. Não é a toa que terminamos a obra com um aperto no peito, demonstrando o quanto nos apegamos àqueles personagens e despertando nossa saudade assim que viramos a última página.

“Ele se pergunta quando dois milhões de dólares começam a parecer insuficientes, quando começam a não valer a pena. A resposta parece óbvia: só quando já é tarde demais para pular fora.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Única

Nome: Billy Summers

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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