Resenha | A Música do Silêncio

Nota
4

“Quando acordou, Auri soube que tinha sete dias.
Sim. Tinha certeza. Ele chegaria para uma visita no sétimo dia.”

Debaixo da Universidade existe um lugar profundo e obscuro que poucas pessoas sabem existir. Um emaranhado de redes descontinuadas, passagens antigas e cômodos abandonados, onde o passado parece ter sido esquecido e mistérios permanecem velados. No coração dessa escuridão, bem no centro do esquecimento mundano, vive Auri, uma jovem tão repleta de mistérios quanto os Subterrâneos.

Ao perceber que seu amigo iria lhe fazer uma visita em breve, Auri começa a se preparar. Ela tem sete dias para encontrar o presente perfeito, combinando com aquilo que ele a trará. Mas existe tanto o que se fazer e tão pouco tempo para ser feito. Enquanto acompanhamos seu dia-a-dia , mergulhamos ainda mais em um universo que só ela conhece, trazendo aquilo que tanto amamos de uma das mais cativantes personagens das Crônicas do Matador do Rei.

Antes de mais nada é preciso dizer que este livro não é para qualquer um, como seu escrito explica no seu magnífico prefácio. Ele é esquisito, singular e extremamente fora do que esperamos para uma narrativa. Na realidade, é uma típico obra que permeiam a mente do autor e toma seu próprio rumo e que, depois de ser escrita, permanece na gaveta para nunca mais sair.

Mas, apesar de tudo isso ser verdade, esse livro é muito mais do que esperamos. A Música do Silêncio não é uma continuação da história, muito menos um cerne para elucidar os mistérios da saga, mas uma narrativa singela e lúdica que convida seu leitor a enxergar o mundo pelos olhos maravilhosos de sua protagonista.

O texto de Patrick Rothfuss traz uma trama agridoce e delicada, que desperta o leitor para a simplicidade e carisma de sua personagem. Sua prosa poética, quase lírica, mexe com os sentimentos do leitor, nos convidando a ver prazeres que passariam despercebidos a primeira vista.

A cada novo lugar descoberto, objeto encontrado ou renomeado espontâneo, entendemos ainda mais o poder da história, que se mostra tão única e singular quanto a garota que aprendemos a amar. Auri consegue nos encantar de uma maneira tão significativa que passamos a admirar cada pequeno ato de seu dia-a-dia. Suas proezas e visão de mundo são tão bem construídas que conseguimos sentir os desejos e vontades de objetos inanimados, assim como as mudanças tempestuosas dos dias que começam e terminam como seres, que impõem sua vontade ao mundo.

É incrível o quanto ela consegue ver mais que a maioria, encontrando felicidade e dor em lugares oportunos, a ponto de entender perfeitamente como o mundo funciona para si. Ela não tenta impor sua vontade, mas encontrar um espaço para cada coisa, colocando tudo em seu devido lugar e entendendo que nem sempre conseguimos o que queremos.

A edição da Arqueiro segue o primoroso trabalho da serie, demonstrando o cuidado para com os fãs e nos conquistando logo a primeira vista. A ótima tipografia e o trabalho da tradução são simplesmente sublimes, nos ajudando a ter uma compreensão daquilo que nos é contado. O livro ainda conta com as magníficas ilustração de Nate Taylor, que consegue elucidar ainda mais o emaranhado no Subterrâneo, trazendo toda beleza e sobriedade que precisávamos para prosseguir.

A Música do Silêncio está longe de ser uma narrativa típica. É quebrada, imperfeita e cheia de nuances inesperadas, o que a torna única e memorável a seu próprio prazer. Talvez esse não seja o livro que agrade aos fãs, desaponta a muitos em seu caminho, mas só de nos dar a oportunidade de ler algo tão pessoal, já demostra o quão especial é essa experiência. E, para esse que vos fala, valeu cada palavra.

“Auri tateou dentro de si em busca do seu nome perfeito e verdadeiro e, apesar de haver demorado um longo e solitário momento, enfim o sentiu ali. Estava trêmulo e apequenado. Amedrontado. Estourado. Mas nas bordas ainda era cintilante. Ainda era ela. Reluzia.”

 

 

Ficha Técnica
  Livro 2.5 – A Crônica do Matador do Rei

Nome: A Música do Silêncio

Autor: Patrick Rothfuss

Editora: Arqueiro

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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