Resenha | A Mãe, A Filha e o Espírito da Santa

Nota
4

 

“Em nome da mãe, da filha e do espírito da santa… Com vocês, a história magnífica, incrível e sensacional de Pilar da Anunciação, a Santinha de Codó.”

Maria era apenas uma garotinha quando cruzou aquele beco, e foi nesse dia que ela foi “abençoada” por ser a mãe da prometida salvação para o mundo atual, mas será que ser a mãe da nova messias foi mesmo uma benção? Será que Maria, ou melhor, Mãe Maria, era a melhor escolha para gerar o novo Jesus?

E eis que o parto acontece, e tudo muda de figura quando nasce Pilar, a prometida (?), e todos logo se perguntam se pode uma mulher ser a tal messias. Desse dia em diante surgem 3 pensamentos, aqueles que acreditam que Pilar é uma pessoa qualquer, os que pensam que Pilar é a irmã de Jesus e os que pensam que Pilar é uma santa, ou melhor, a Santinha de Codó.

“Foi ali que a vida começou a mudar. Quando o trinco da porta girou com cuidado, praticamente em silencio, […] Ao fundo, um resto de música escapava pelas frestas da janela – ou de seus pesadelos. Uma melodia quase infantil. Sobre um submarino amarelo.”

O livro é divido em 3 partes, as mesmas que titulam o livro. O primeiro ato, A Mãe, conta do dia em que os anjos fecundam Maria até o dia em que a mãe de Santo morre, e dessa forma vamos vendo toda a historia de Pilar surgindo. O segundo ato, A Filha, conta o destino de Pilar após a perda de sua mãe, sua viagem a Brasilia, e toda sua juventude e adolescência. O terceiro ato, O Espirito da Santa, conta sobre a Mentora Pilar, e pouco a pouco vemos surgir a nova religião criada pela garota, vemos os fieis se unirem, os apóstolos surgirem e a fé se construir.

Num mundo onde abuso religioso é assunto de pauta para muitos autores, o escritor PJ Pereira resolveu criar um thriller sobre a desvairada religiosidade brasileira, com uma bela fábula de fé e manipulação. O autor, que se inspirou em casos reais do abuso ao redor do mundo, conta um relato sombrio, violento, tenebroso, polemico, e, em certos pontos, engraçado. O autor segue com um relato tão cru e sem julgamentos, jogando tudo em nossas mãos, com cenas tão detalhadas em certo ponto que chegam a ser perturbadoras, quebrando qualquer paradigma religioso com cenas meticulosamente criadas e desconstruídas nas belas e deliciosas paginas desse livro.

“- […] Oxês taum aqui pra cuidá da Pilá. Ela num pode sabê, mas ela tá em pirigo, exa. Teim um anticristu, u demônio grandi em pessoa, u únicu qui pode impidi a missão di Pilá, qui qué mata ela, exa. E eu mandei oxês aqui na Terra pa protegê ela. Tudo os quatro. E digo maix, um doxês vai tê que matá por ela. Pode sê quarque um. Na hora, oxêis vai sabê.”

A saga de Pilar começa na cidade maranhense de Codó, passa pela, ainda em construção, Brasília, cidade onde a menina conhece o misticismo new age e as igrejas evangélicas, e culmina em São Paulo, onde surge a líder espiritual mais poderosa do país. Pilar rapidamente nos desperta o misto, hora amamos e hora odiamos, hora ela parece santa, hora uma prostituta, hora ela parece Jesus, hora o anticristo, e é nesse misto de altos e baixos da personalidade da garota que vamos conhecendo suas camadas. Por outro lado temos irmã Madalena, a personagem mais intrigante da trama, ela vai pouco a pouco se envolvendo no decorrer, de inicio no parto da menina, se torna sua madrinha, sua protetora, sua mãe, sua apostola e acaba a historia sendo a protagonista do maior plot twist que existe.

O terceiro “protagonista” da trama é João Batista, o primo de Pilar que é seu eterno companheiro, cuida dela desde pequena, deseja seu corpo secretamente, mas, mesmo sendo tentado o tempo todo pela garota, não cede a esse desejo. João é um dos personagens mais escanteado da trama, agindo sempre no pano de fundo, mas ainda assim sendo tão crucial para conhecermos Pilar e sua realidade. Por fim temos Olomowe, a orixá protetora da família Anunciação, que possui Pilar de tempos em tempos, mas que também parece tão oportuna. Suas aparições são os pontos que mais nos levam a duvidar da realidade, seriam essas possessões reais? Será que não é tudo o fingimento de uma garota sapeca e manipuladora? Essa tênue linha entre o fato e o falso vive na trama, sempre nos deixando na duvida se Pilar é realmente uma santa ou uma charlatã.

“E assim terminou a história de Pilar. Com toda a riqueza, a esperteza e a podereza que ela pediu.” 

Confira o booktrailer:

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: A Mãe, A Filha e o Espírito da Santa

Autor: PJ Pereira

Editora: Planeta

Skoob

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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