Resenha | A Hora do Lobisomem

Nota
3.5

“Lá fora, as pegadas da criatura são cobertas pela neve, e o uivo do vento parece selvagem de prazer. Não tem nada de Divino ou de Luz naquele som insensível; só há o inverno sombrio e o gelo escuro.
O ciclo do Lobisomem começou.”

Tarker’s Mills é uma pacata cidade localizada no Maine, onde jantares de caridades são eventos semanais, crianças levam maçãs para as professoras e idosos fazem sua excursão a natureza serem assuntos relatados no jornal. Mas algo sombrio chegou a cidade, algo perverso e bestial, que chega tão sorrateiro quanto a lua cheia que o anuncia.

É um Lobisomem, e não existe motivo para seu avanço destrutivo além de uma fome animalesca e pura maldade. Mês após mês, lua cheia após lua cheia, a Besta transforma a vida dos cidadãos da cidade, em um verdadeiro relato de terror, dilacerando suas vítimas e rasgando suas presas, como se não fossem nada além de alimento. Até que um garoto consegue sobreviver ao ataque da criatura e decide retribuir tudo aquilo que o monstro causou.

Acontece que Marty Coslaw está longe de ter suas palavras validadas pelo que viu. Quem acreditaria em um garoto que, aparentemente, foi traumatizado pelo ataque que sofreu, principalmente quando seu relato beira a uma fantasia que todos recusam a acreditar? Agora, resta a Marty investigar por conta própria e dar um basta na fome insaciável do terror que ronda sua cidade.

O mito sobre Lobisomens é amplamente discutido e narrado em todo mundo, a ponto de não precisamos de uma origem ou relato para entendermos a maldição que o cerca. Cada local, cada cultura e cada relato tem seu próprio cerne, sendo transcrito e reformulado em inúmeras mídias ao longo da história. E, é claro que Stephen King teria sua própria versão de um dos monstros mais conhecidos do mundo.

A Hora do Lobisomem já demonstra logo no início ser um projeto distinto do autor. Casando imagens e uma historia rápida e precisa, King constrói uma narrativa calendário, que aproveita essa dinâmica para construir seu suspense. Lançado originalmente em 1983, o livro divide seus capítulos em meses do ano, acompanhando os ataques e ciclos lunares de seus antagonista. A cada novo ciclo somos introduzidos a uma nova vítima, que toma o foco na narrativa para entendermos melhor o horror dos acontecimentos.

Por ser uma obra bastante curta, King opta por um texto mais enxuto e objetivo, que utiliza bem sua terceira pessoa para nos imergir em suas cenas. Mesmo que não possua a profundidade com a qual estamos acostumados com o autor, o livro desperta nosso interesse e nos convida a examinar cada uma das esquetes que se apresentam, trazendo assim uma dinâmica interessante entre leitor e obra mesmo que não seja tão forte quanto imaginávamos.

Poucos são os personagens que ganham nossos interesses, mas cada um tem um pouco a acrescentar a trama. O grande destaque vem com Marty Coslaw, um garoto paraplégico que não se encaixa devidamente nos lugares sua tristeza pelo cancelamento do Quatro de Julho é tão verdadeira e tocante que passamos a nos apegar a ele logo nas primeiras linhas de sua jornada. É também em seu ciclo que o livro toma outro rumo, quebrando um pouco daquilo que a narrativa construíra até ali.

O profano e o divino são um tema recorrente, trazendo questionamentos interessantes para a trama. A constante aparição de uma força bestial, que vai sendo relatada quase como uma força natural na cidade, desperta uma constante que só aumenta ao longo da narrativa.

O livro faz parte do selo Biblioteca Stephen King, que tem como objetivo trazer obras esgotadas do autor de volta às prateleiras. O trabalho primoroso da Suma é algo digno de um mestre literário, trazendo toda a mestria que a obra merece. Com uma capa belíssima e um alto relevo característico desses volumes, o livro ainda nos presenteia com fantásticas ilustrações ao longo de suas páginas. Sejam as originais criadas por Bernie Wrighstson, que transpõe a brutalidade do texto e engrandece o sentido de calendário presente na trama, ou dos ilustradores nacionais convidados para a edição que deleitam os fãs com sua visão das icônicas cenas.

Seguindo seu próprio Ciclo, A Hora do Lobisomem pode até não ser a obra mais marcante do autor mas, com toda certeza, é uma das mais curiosas. Trazendo um projeto bastante inesperado, o livro nos leva com facilidade em sua narrativa, trazendo contextos interessantes para um monstro que todos conhecemos e não precisamos ser representados. Uma ótima leitura para ser feita em uma tacada só, que vai sim conseguir saciar seu leitor e despertar sua curiosidade.

“Algumas coisas mudam, outras, nem tanto, e, em Tarker’s Mills, o ano está terminando assim como chegou: uma nevasca cai lá fora, e a Besta está por perto. Em algum lugar.”

 

Ficha Técnica
  Livro Único

Nome: A Hora do Lobisomem

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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