Resenha | A Fantástica Fábrica de Chocolate

Nota
5

“Parabéns, feliz ganhador do Cupom Dourado. Parabéns do Sr. Willy Wonka! Meus cumprimentos! Coisas extraordinárias aguardam você! Surpresas maravilhosas o esperam!”

Charlie Bucket vive em uma casinha de madeira, nos arredores de uma grande cidade, com seus quatro avós e seus pais que se esforçam ao máximo para deixar todos confortáveis no ambiente minúsculo. Na casa, somente o pai de Charlie, o Sr. Bucket, trabalha, mas seu salário mal da para comprar a comida necessária para manter a família. Com uma sensação de vazio no estômago, o garoto parte todo dia para a escola esperando o momento de passar na enorme fabrica que fica em seu caminho e sentir o cheiro mais inebriante que existe… o de chocolate

Charlie é apaixonado pela guloseima, mas só pode comer uma vez no ano, em seu aniversário, quando toda a família economiza seu dinheiro para lhe comprar uma barra de presente. Um dia, o Sr. Bucket lê uma notícia assombrosa que deixa todos extasiados. O Sr. Wonka, dono da fantástica fábrica de chocolate da sua cidade, está prestes a abrir seus portões para as cinco pessoas que encontrarem seus cupons dourados, escondido em cinco barras de chocolate ao redor do mundo.

Conhecer a Fábrica Wonka é um sonho inimaginável, principalmente quando o mesmo fechou seus portões e se trancou lá dentro com misteriosas criaturas, que ninguém sabe muito bem o que são. Com um prêmio vitalício de doces para o resto da vida, toda criança do mundo começa desesperadamente a comprar as barras Wonka, em busca do seu bilhete dourado. Mesmo com pouco dinheiro, a família de Charlie decide dar uma oportunidade para o garoto, mas seria uma única barra anual capaz de mudar a sorte do garoto?

Quem nunca sonhou em visitar o maravilhoso mundo criado por Willy Wonka? Provar seus sabores absurdos e encontrar os mais fantásticos dos doces em uma terra onde a pura maluquice infantil parece reinar? Quem nunca se sentiu tentado a entrar na tela da TV e viver a magnífica aventura bizarra com Charlie e as outras quatro crianças? Ou, até mesmo, encontrar o tão sonhado Cupom Dourado que se tornou um marco do cinema?

Escrito por Roald Dahl, A Fantástica Fábrica de Chocolate se tornou um marco literário. Escrito em 1964, a obra possui uma suavidade impecável, levantando bem suas críticas nada veladas, além de nos dar importantes lições ao longo do caminho. Abusando do seu extraordinário, o mundo criado por Roald é tão colorido e vibrante que salta das páginas, nos carregando com maestria por toda sua loucura idealizada, que parece saída do imaginário ideal de uma criança criativa.

A escrita de Dahl é tão envolvente e carismática que nos vemos entrelaçados em sua narrativa, nos adaptando a todos suas reviravoltas e nos importando (ou detestando) cada um dos personagens ali presentes. Sua descrição é tão magnífica que até a própria fábrica parece ganhar vida perante nossos olhos, com todas as suas texturas, sabores que transbordam do humor excêntrico do autor, humor esse encarnado em um personagem, um tanto peculiar, que se mostrou um verdadeiro achado… mas falaremos mais disso a frente.

O universo fora da fabrica parece anormalmente sofrido e sem cor, quase se transformando em uma sombra do nosso mundo cheio de erros. O que entra em contraste com o ambiente maravilhoso dentro das paredes da fábrica, onde tudo pode acontecer quando menos se espera. Essa dualidade sobre a diferença da vida fora e dentro da fábrica reforça ainda mais a pureza do texto, nos mostrando o quão bom é nos desprender do cotidiano e imaginarmos o impossível de vez em quando.

Charlie é a melhor representação disso. Embora tenha uma vida difícil e nada acolhedora, o garoto sempre tenta ver o lado bom das coisas. Mesmo quando selecionado e incluso nesse mundo fantástico, ele permanece humilde e feliz por apenas estar ali, criando um contraste enorme com as outras crianças. Embora o saltitante dono da fábrica certamente chame a atenção, Charlie é o verdadeiro protagonista, nos presenteando com algumas das lições mais valorosas que podemos encontrar na obra.

O livro utiliza suas outras crianças para demostrar atitudes prejudiciais, que por muito passam despercebidas pelos pais. Augusto Glup, o primeiro a encontrar o cupom dourado, é um menino guloso, que não conhece os limites de sua própria barriga. Com uma atitude nada saudável, o garoto entra de cabeça em seu próprio declínio nos demostrando o quão problemática é sua atitude logo de cara. Violeta Chataclete é uma mascadora nata. Gananciosa e sem escrúpulos, a garota pouco liga para o que dizem, sempre procurando ser a melhor no que faz e ignorando tudo o que atrapalha seu caminho. Veroca Sal sempre teve tudo o que quis. Mimada e egocêntrica, a garota não aceita um não como resposta. Tudo tem que ser do jeito dela e da maneira que ela quer, mostrando o quão podre alguém assim pode se tornar. Sua finalização é uma das melhores em minha opinião, trazendo uma critica certeira a tantos pais que pensam estar trazendo conforto aos filhos quando estão apenas construindo personalidades podres como a da menina. Por ultimo temos Miguel Tevel, um garoto alienado que passa 24 horas do seu dia em frente à uma TV, mesmo quando nada de interessante está passando nela. O garoto fica tão preso a isso que pouco sabe sobre viver no mundo exterior.

Mas, é Willy Wonka que verdadeiramente rouba nossa atenção. Excêntrico, genial e com um humor um tanto quanto ácido, o dono da fábrica rouba cada uma das cenas em que aparece. É com ele que acontece a virada da trama e a introdução ao novo universo, servindo como guia em toda a estranheza fantástica do novo ambiente. O personagem é a personificação da liberdade infantil, em tudo sua magnitude e criatividade, trazendo o melhor (e o pior) da mente fantasiosa e pura que só uma criança pode ter. Junto com os curiosos Ompa-Loompas, que trazem canções criticas repletas de alfinetadas precisas a cada um de nós, os personagens da fábrica se mostram um dos melhores acertos da obra.

Irônico e encantador, A Fantástica Fábrica de Chocolate nos convida a explorar a beleza da imaginação infantil, nos proporcionando momentos inimagináveis que constroem uma narrativa rica e apetitosa. Repleto de nuances e com uma diversão genuína, o livro se mostra um verdadeiro achado que demonstra o quão poderoso pode ser o texto infanto-juvenil, para aqueles que colocarem seus preconceitos de lado e souberem aproveitar a viagem em um fantabuloso mundo de chocolate.

 

Ficha Técnica
  Livro 1 – A Fantástica Fábrica de Chocolate

Nome: A Fantástica Fábrica de Chocolate

Autor: Roald Dahl

Editora: Martins Fontes

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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