Resenha | A Dança da Morte

Nota
5

“O homem pode ter sido feito a imagem e semelhança de Deus, mas a sociedade humana foi feita a imagem e semelhança de Seu Oposto.”

Um nanossegundo. Esse foi o tempo necessário para que 99% da população terrestre fosse varrida do planeta. Devido a um erro sem precedentes do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, um vírus extremamente fatal foi liberado, trazendo contagio imediato através de um paciente fugitivo que infectou milhões de outras pessoas de forma casual e despretensiosa, causando assim uma cadeia de mortes. E é assim que o mundo acaba.

O que surge então é um local árido e caótico, onde os poucos sobreviventes precisam lutar para continuar a salvo nesse novo ambiente, dividindo suas forças em duas frentes quase sobrenaturais que os chamam para seu próprio lado. De um lado, a bondosa Mãe Abagail prepara seus protegidos para estabelecer uma sociedade segura e pacifica. Do outro, os partidários do caos atendem ao chamado de um ser poderoso e aterrador que já viveu muito entre os humanos para entender suas fraquezas e usá-las a seu favor. Ele já teve muitos nomes, mas hoje é conhecido como Randall Flagg, o homem de preto, e está disposto a tudo para dizimar sua concorrente da face da Terra.

Enquanto as duas frentes se formam, a humanidade caminha para sua verdadeira batalha, onde apenas um lado sairá vitorioso. Enquanto o confronto sem precedentes se aproxima de seu fim, um destino ainda mais sombrio toma conta dos sobreviventes, trazendo uma disputa épica que decidirá não só o futuro do que restou do mundo mas o que acontecerá com suas próprias almas.

Existem poucas obras que podem ser descritas como um marco apoteótico e ser descrito como uma das melhores já lançados, trazendo não só um sucesso de crítica mas um verdadeiro fenômeno editorial. Esta é uma dessas obras.

Lançado originalmente em 1978, e sendo relançado em uma versão sem cortes em 1990, A Dança da Morte foi o quarto livro escrito pelo Mestre do Terror, Stephen King, trazendo um épico apocalíptico que, não por acaso, está sempre no topo da lista de melhores obras do autor.

Dividindo suas obra em três partes, King nos apresenta a devastação mundial e suas consequências através de uma escrita detalhada de tudo aquilo que cerca seus personagens. Nessa nova versão, o autor toma seu tempo para desenvolver a trama, nos mergulhando em sua história enquanto aprofunda seus personagens em seus dilemas, tão humanos, que ressoam em seu público.

A ambientação memorável cozinha seu leitor enquanto nos deixa aflitos e receosos, construindo uma dinâmica crescente, que nos prende a cada passo dado dentro da história. As críticas construídas e a estruturação desse novo ambiente nos faz refletir sobre a fragilidade do mundo em que vivemos, transformando tudo ao nosso redor, principalmente em um ano tão pesado quanto o que passamos.

O livro ainda possui uma subtrama religiosa intensa, que consegue se mesclar com maestria aos outros aspectos da narrativa. São aspectos políticos, sociais e filosóficos que levantam a narrativa a um ar mais denso e conceitual, trazendo momentos interessantes e marcantes que colocam o dedo na ferida enquanto nos amedronta até a alma com seu toque singular.

Apesar do imenso leque de personagens, o autor consegue dar uma voz única e memorável a cada um deles, trazendo dinâmicas primorosas que acrescentam ainda mais à história. Acompanhamos seu desenvolvimento, sentindo sua aflição e ressentimentos enquanto crescemos junto com eles e entendemos suas motivações dentro da trama, tentando adivinhar para qual lado cada persona caíra em sua jornada.

Mãe Abagail e Randall Flagg são, com toda certeza, o ápice dessa obra. A primeira é uma senhora negra, de idade avançada que vive em um casebre no interior do Nebraska. Sua aura bondosa e sua sabedoria latente trazem uma doçura indomável que emana das páginas e envolve o leitor como que em um abraço de vó. Abagail é terna, amorosa e gentil, representando toda a bondade contida na humanidade de uma maneira tão natural que se torna impossível não ser encantado com sua simples presenta.

O segundo se tornou um velho conhecido dos leitores de King. Randall Flagg é a personificação da maldade, trazendo um aspecto tirânico e sedutor que consegue controlar a todos ao seu redor. Flagg é um tirano sem escrúpulos que usa seus poderes para conseguir seus objetivos, a cada passo de sua jornada o autor constrói uma crítica histórica a tantos personagens que já conhecemos de nosso próprio universo. Seja pela sua presença marcante ou como ele simplesmente rouba a cena, o antagonista é marcado como um dos melhores já escritos pelo autor, transcendendo sua obra e fazendo aparições em outros livros do Kingverso.

A Suma Das Letras nos presenteia com a melhor versão da obra, trazendo seu conteúdo completo para que possamos apreciá-la como se deve. Com páginas amareladas e uma ótima tipografia, a leitura parece escorrer diante de nossos olhos, nos conduzindo por suas 1247 páginas com uma facilidade imensurável. A capa nos insere em todo terror apocalíptico contido na obra, trazendo um ar misterioso que nos convida a descobrir seu conteúdo.

A grande verdade é que A Dança da Morte nunca pareceu tão atual quanto agora. Repleta de uma fragilidade tocante, a obra conversa diretamente com nosso momento atual, nos fazendo refletir os passos que demos em nossa sociedade e o quão despedaçado nos encontramos após esse ano caótico e confuso. Não é a toa que ela se mostre tão marcante e poderosa, talvez até mais necessária do que no ano em que foi escrita. Um verdadeiro achado que precisa ser lido.

“Você tinha que olhar para o lado bom da vida. O macete era este. A vida era curta demais para se fazer qualquer outra coisa.”

 

Ficha Técnica
  Livro Único

Nome: A Dança da Morte

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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