Host Indica | Meu Amigo Dahmer

“Quando eu era garoto, eu era igual a todo mundo.”
Jeff Dahmer

Foi na sétima série do Colegio Eastview que John Backderf conheceu o garoto tímido que um dia se tornaria o perigoso Jeffrey Dahmer, um garoto que vagava invisível pelos corredores, sendo um invalido social para a maioria e despertando um desprezo dos valentões, apesar de Jeff ser esquisito, ninguém esperava que um assassino em série fosse capaz de vir da desinteressante  Bath. Jeff era filho do distante Lionel e da estranha Joyce, ambos pareciam ser boas pessoas mas não aparentavam ser bons pais, talvez eles tivessem conexão com  o que aconteceu com Jeff depois, com o passar dos anos, quando, em 1975, Jeff estudava no Colégio Revere e começou a mudar. O garoto de 1,80 tinhas músculos, mas ainda andava estranho, com os braços colados ao corpo, os ombros meio pra frente e uma expressão facial desprovida de emoção.

A busca por entender quem era Jeffrey Dahmer atingiu muitos níveis. Especialistas, jornalistas, policiais, todos queriam entender quem era aquele garoto que havia se revelado um inescrupuloso serial killer, e um deles era Derf Backderf, um garoto que estudou nas mesmas escolas que Jeff desde a sétima série e que, desde julho de 1991, iniciou a produção de sua narrativa, a busca de tentar contar quem era o Jeff que ele conheceu, não o assassino que estampava todas as obras e matérias jornalistas, mas o garoto esquisito que talvez pudesse ter sido salvo caso tivesse tido mais atenção. Foi assim que Derf decidiu lançar sua primeira história em 1997, que foi bastante elogiada e o incentivou a continuar o trabalho de construção da graphic novel pelos três anos seguintes, uma graphic novel de cem páginas que nunca foi lançada, pois era rejeitada por todas as editoras, e acabou sendo transformada numa versão de 24 páginas, uma tenebrosa HQ que foi lançada em 2002 de forma independente e rapidamente conquistou o público, passou a ser traduzido (ilegalmente), citado e dramatizado pelo mundo a fora.

“Para você, Dahmer era um monstro depravado; para mim, era um garoto que sentava do meu lado na aula e com quem eu matava tempo na sala de música do colégio.”

A versão final, lançada em meados de 2011, é uma repaginada na versão de 2002, a busca pela entrega da verdadeira história de Jeff pelos olhos de Derf, dessa vez influenciada por conversas com dezenas de ex-colegas e professores, incluindo informações oficiais dos arquivos do FBI e da policia e absorvendo parte das entrevistas de Jeff, uma busca por completar as lacunas que existiam na história de Derf, afinal nem tudo foi visto ou lembrado tão fácil, e não é só de um ponto de vista que se constrói a jornada de um esquisitão de doze anos, passando pela adolescência de luta para combater os pensamentos tenebrosos que borbulhavam em sua cabeça e nos levando até o momento que Jeff abraçou as vozes em sua cabeça e pulou no abismo assassino da sua psique. A história de Derf é intensa, ela apresenta detalhadamente momentos marcantes da adolescência de Jeff, nos mostrando momentos de sua infância em “Prólogo” e em Garoto Estranho”, quando conhecemos Lloyd Fige, um dos garotos esquisitos de Revere que ajudou a ofuscar as esquisitices de Jeff, e sobre a origem do Fã-Clube Dahmer, já “Uma Vida Secreta” é quando começamos a ver Jeff se tornando alcoólatra, tentando sufocar seus desejos homossexuais e começando a ter suas fantasias com o corredor do bairro. “Fã-Clube Dahmer” é onde vamos mais fundo na inconsequente amizade de Jeff com Derf, NeilKentMike (esses três últimos, nomes fictícios para proteger a identidade dos antigos amigos de Jeff e Derf) e “Virando Monstro” surgindo como o grande dia que Jeff cometeu seu primeiro assassinato.

Obscuro e reflexivo, Meu Amigo Dahmer é uma obra necessária quando se trata de entender melhor o nascimento de um assassino, ele nos mostra o Jeff problemático acima do assassino, criando uma história de origem para um dos maiores ‘vilões’ da história americana. Com 293 páginas, a grafic novel entrega 6 momentos da vida de Jeff pela visão de Derf, além disso ele nos entrega um epilogo especial, onde vemos o reencontro do Fã-Clube Dahmer em meados de 1988, uns dez anos após o fim do colegial, e uma inesperada história ‘pós-credito’, quando em 1991 Derf recebeu uma ligação falando sobre a prisão de Jeff, quando ele escutou a noticia e automaticamente pensou que o criminoso vindo de Revere era Fige e não Dahmer. Lançado pela Darkside Graphic Novel em 2017, a obra ganha uma capa dura que só aumenta o requinte que embala uma história tão cativante e nebulosa, que ganha nuances ainda mais precisas através da tradução de Érico Assis e parecem não desonrar em nada as memorias de Derf e nem romantizar o criminoso.

“Eu gosto de… estudar… os ossos. Me interessa. O que tem dentro do corpo.”

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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