Crítica | Viveiro (Vivarium)

Nota
2.5

Vivarium é um filme que é literalmente ‘ame ou odeie’. Ele começa com uma montagem que explica toda sua narrativa, sobre o parasitismo do cuco, de uma forma bem Discovery Channel, e em seguida mostra o casal protagonista, Imogen Poots como a pedagoga Gemma e Jesse Eisenberg como o jardineiro Tom, um casal que vai em busca de um lugar perfeito para morar e encontra um verdadeiro pesadelo: ficam presos num labirinto de casas felizes e iguais.

Quando conhecemos o corretor de imóveis interpretado por Jonathan Aris, ficamos extremamente desconfortáveis com sua atuação, e no decorrer do filme descobrimos que é proposital, seja gestos, jeito de falar, entonação, tiques, tudo naquele vendedor nos beira a estranheza, porém ele apresenta o sonho americano para os personagens, um condomínio de casas perfeitas, tudo é perfeito, milimetricamente igual, até as nuvens no céu são iguais. O casal vai conhecer seu possível novo lar e temos um corte em que o corretor some, os personagens aos poucos percebem a armadilha, tentam fugir e investigar, e somos inseridos ao filme verdadeiramente, um lugar perfeito, mas sem saída, tudo igual, no mesmo lugar, os personagens esgotam todas as alternativas de fuga dali e depois são impostos a criar um garoto, um garoto terrivelmente estranho.

O diretor Lorcan Finnegan nos insere no filme, ele nos coloca em diversas metáforas, parasitismo, ilusão do american dream, diferenças de maternidade e paternidade, suas toxidades, o que uma criança indesejada ou mal planejada pode gerar, várias camadas, com uma mistura de suspense, psicodélico, surrealismo e até ficção científica. Porém mesmo com a atuação brilhante do casal principal e do menino estranho, interpretado por Senan Jennings, o roteiro não desenvolve o suficiente para trabalhar o mistério. Chega um ponto, que talvez foi proposital, em que ficamos presos como os personagens, sem saber pra onde ir, pra onde o filme nos levará, só aceitando as decisões, exatamente igual aos personagens.Toda a estranheza do menino cresce com ele, o tornando um adulto mais estranho ainda, mostrando outro ponto distorcido de vida familiar, mas não nos leva para uma solução digna ou uma explicação de tudo, apenas mais fatos e mais cenas. Se levarmos em conta a montagem inicial do filme, é previsivel o final do filme desde o começo.

A direção de arte fez um bom trabalho em deixar tudo “perfeito”, milimetricamente igual. A montagem do cigarro apagando enquanto eles procuram uma saída daquele labirinto e se esgotando, como o maço de cigarro, foi perfeita. Viveiro tem boas escolhas de fotografia, elenco, estética, porém falta uma sensibilidade e maior trabalho do roteiro para um fechamento, uma conclusão mais decente, é complicado assistir um filme e já saber o seu final. O filme deixa várias metaforas visuais e narrativas, faz você preencher com o seu conhecimento filosófico em vez de se resolver por si só, talvez uma escolha da direção de Finnegan, que já fez diversos outros filmes irlandeses mais conceituais.

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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