Crítica | Venom: Tempo de Carnificina (Venom: Let There Be Carnage)

Nota
2.5

O que fazer quando o primeiro filme de sua franquia não é recepcionado da forma que se esperava, se torna um meme nas redes sociais por conta de seu roteiro bagunçado e piadas forçadas que não combinam com o estilo do personagem-título totalmente descaracterizado? Lançar uma sequência ainda mais duvidosa é claro! Se você pensou que era hora de um Morbius 2, está profundamente enganado – ou se espera que sim – mas o filme em questão é Venom – Tempo de Carnificina, uma sequência que não se leva mais a sério. O segundo filme do Simbionte chegou com uma proposta diferente do primeiro longa, sob o comando do diretor e ator Andy Serkis (Pantera Negra). Enquanto em Venom (2018) existe uma tentativa de misturar os gêneros de ação, terror e super-herói com comédia fora de hora, chegando a se tornar uma paródia de si mesmo que acabou não agradando o público alvo do personagem original, em sua sequência foi decidido seguir uma linha à lá Sam Raimi na franquia original de Evil Dead: abraçar de vez a galhofa e seguir por essa estrada acidentada.

A história gira em torno do personagem apresentado na cena pós-crédito do filme anterior: Cletus Kasady (Woody Harrelson), um notório serial killer aguardando sua vez no Corredor da Morte. Cletus possui um interesse no jornalista Eddie Brock (Tom Hardy), que se encontra desacreditado após os resultados do primeiro filme e o “ajuda” a se reerguer após oferecer uma entrevista exclusiva. Após os eventos iniciais do filme, somos apresentados também a persona simbionte de Kasady, que dá nome ao longa e é baseado no desejo mais sombrio do assassino: pura Carnificina, um simbionte vermelho com habilidades de criar armas com seu corpo, que seria “filho” do Venom e decide que é necessário elimina-lo.

O filme ainda traz de volta personagens já apresentados no anterior, com destaque para o Detetive Mulligan (Stephen Graham), que gera um sentimento ambíguo aos conhecedores do personagem nos quadrinhos, desejando seu melhor desenvolvimento. O detetive está também relacionado a Frances Barrison (Naomi Harris), o interesse amoroso de Cletus Kassidy. Frances é conhecida pelo codinome Shriek (Grito, como pode ser conhecida no Brasil em algumas versões dos quadrinhos), sendo uma mutante com habilidades sonoras provenientes de, bem, seus gritos. A sua relação com Kassidy é explicada logo no início do filme e torna-se um dos pilares da história em um verdadeiro paralelo a Bonnie e Clyde.

Falando em casal, como não comentar da relação de casal disfuncional cômico entre Eddie Brock e Venom, que permeia por toda a sequência com direito a todos os clichês que uma comédia romântica teria direito? Quando é dito que o filme se entrega de vez a galhofa, é nesse tipo de cena que se pensa inicialmente, com direito a piadas sobre terapia de casal e tudo. Os fãs do personagem, que esperavam um amadurecimento e a possibilidade de redenção dos personagens baseados nos trailers, que prometiam com todas as letras uma verdadeira carnificina desenfreada, podem sair decepcionados com o que foi entregue no final.

O que mais anima no filme é a estética de Kasady/Carnificina (o simbionte dublado pelo próprio Andy Serkins no original). O modelo CGI do simbionte o faz mais interessante do que o protagonista, que poderia ter sofrido alterações em relação a sua primeira aparição para se aproximar mais do Venom parrudo e mais desproporcional ao qual o público está acostumado. O visual de Harrelson como Kasady também está melhor do que quando apareceu na cena pós-crédito, substituindo o cabelo utilizado lá por um visual menos cartunesco por exemplo, e sua interpretação é agradável, casando bastante com o personagem mas ainda aquém por sabermos que poderia ter sido melhor aproveitado. Quem sabe em outro mundo do Multiverso.

Verdades precisam ser ditas sobre Venom: Tempo de Carnificina… Ele é, com toda a certeza, um dos filmes já feitos. E só isso. Desde o primeiro filme já se sabia a dificuldade de adaptar um personagem intimamente ligado a outro, no caso o Homem-Aranha, sem criar uma grande bagunça, mas a Sony Pictures decidiu não só dobrar a aposta com essa sequência que prometeu muito e entregou o oposto, como ainda pretende dar o all-in e continuar em sua aventura de um universo compartilhado de vilões enquanto tenta transformar aquele que poderia ser um de seus maiores trunfos no “Protetor Letal” que no fim não passa de um “Desastre Total”.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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