Crítica | Um Lugar Bem Longe Daqui (Where The Crawdads Sing)

Nota
4.5

“Ao longe, mais além, onde cantam os lagostins, o brejo sabe de uma coisa acima de todas: Todas as criaturas fazem o que é preciso para sobreviver.”

Em 1969, na cidade de Barkley Cove, uma agitação começa quando Chase Andrews é encontrado morto. A cidade inteira mira todos os seus alvos em Catherine Danielle Clark, conhecido por todos como A Menina do Brejo, que rapidamente é presa e, por conta da marginalização que sofre dos habitantes da cidade, pode ser condenada, a menos que Milton possa impedir. Enquanto está presa, Kya começa a lembrar sua vida, nos fazendo viajar no tempo para conhecer a garota e saber tudo que aconteceu com ela desde sua infância, em 1952, até o dia que começou a se envolver com Chase, em 1968, uma história de luta, resistência, abandono, medo e, acima de tudo, uma grande história de amor.

Baseado no livro Um Lugar Bem Longe Daqui, de Delia Owens, a história dirigida por Olivia Newman se destaca pela forma pé no chão que se desenvolve, ela não busca explicações complexas para os problemas, é tudo simples e facilmente explicado pela realidade humana. Enquanto somos levados a conhecer a história que levou Kya a se tornar a maravilhosa mulher que fez com que Chase se apaixonasse por ela, vamos vendo a dura realidade enterrada nos confins do brejo, a violência doméstica que sua mãe sofria, a solidão de ver toda a sua família a deixando para trás, o isolamento que a impedia de ir a escola pela forma que os outros a tratavam, e a forma como a menina que tinha tudo para sofrer pelo resto da vida encontrou forças para viver sozinha, se bancar e ainda desenvolver um talento, um dom que poderia mudar sua vida.

O longa tem tudo para ser um filme de tribunal comum, mas ele nos cativa pelo background de sua protagonista. Kya, que é brilhantemente interpretada pela carismática Daisy Edgar-Jones, é uma menina acuada, ela é extremamente talentosa mas parece vulnerável quando precisa encarar as pessoas da cidade, e é justamente esse recuo dela que nos permite conhecer mais cruamente sua história. A garotinha é doce, decidida e territorial, ela entende que seu refugio é casa do brejo e acaba se ‘trancando’ longe das outras pessoas. Sua personagem só evolui ainda mais quando Tate Walker, vivido por Taylor John Smith, começa a se aproximar, quebrando suas barreiras, derrubando seus muros e enxergando a Kya que ninguém parece ver, ele a mostra novos mundos e a incentiva a seguir seu dom, iniciando uma singela história de amor que acaba de uma forma que destrói nossos corações. Outro grande foco do longa é a chegada de Chase, personagem de Harris Dickinson, à vida de Kya, o herdeiro de uma das famílias mais ricas da cidade, ex-jogador de futebol e amigo de todos, ele enxerga em Kya uma beleza selvagem que logo desperta seu desejo, uma busca por possui-la a todo custo, um amor que parece condenado desde seu inicio e que pode ter grande ligação com a morte do jovem.

Mantendo o mistério de uma forma magistral, Um Lugar Bem Longe Daqui consegue falar do preconceito sem cair nos clichês, a produção alterna entre passado e presente para nos envolver ainda mais na vida de Kya, enxergando por seu ponto de vista tudo que os moradores da cidade falam e nos deixando saber a verdade por trás de cada insinuação dada no tribunal. O enredo consegue nos prender a detalhes diversos, tirando muitas vezes de foco a identidade do assassino de Chase para explorar subtramas mais românticas, revoltantes, dolorosas e dramáticas, deixando claro que o assassinato é a parte menos importante da história de Kya, o que realmente importa é a vida com o pai alcoólatra, a crença de que sua mãe voltaria, os diferentes tipos de amor que viveu com Tate e com Chase, a amizade que conquistou com JumpinMabel, entre outras coisas. Com produção de Reese Wintherspoon, o longa acerta no tom, acerta no elenco e acerta até na forma como adapta a obra original, quebrando nossa expectativa ao prometer respostas para uma assassinato e nos entregar uma trama muito maior e, ouso dizer, melhor do que poderíamos imaginar.

“Nunca vou te esquecer, Kya. Nunca.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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