Crítica | Socorro, Virei Uma Garota!

Nota
3

“Eu queria ser a pessoa mais descolada do colégio.”

Júlio é um típico nerd, todo tímido e praticamente invisível para seus colegas de colégio, mas ele é completamente apaixonado por Melina, a menina mais popular de seu colégio. Sempre lutando para ser notado, ele vive presenciando Melina se derretendo por Douglas, um garoto mais velho que sempre a trai e parece nunca trata-la bem. Um certo dia, ao ver uma estrela cadente, ele faz um pedido: ser a pessoa mais popular da escola.

Júlio acorda num universo paralelo, Júlio agora é Júlia Martinez, a garota mais popular da escola, uma youtuber com mais de três milhões de inscritos e a melhor amiga de Melina. Julio agora se encontra num grande dilema, voltar ao seu mundo e ao seu corpo real ou ficar nesse novo universo e ser notado por Melina e todas as pessoas da escola. Nesse novo mundo, ela precisa reencontrar Cabeça, seu melhor amigo no seu mundo, e lidar com o, extremamente carente, Douglas, que nesse universo é seu namorado, ao mesmo tempo que se aproximando cada vez mais de Melina, se apaixonando ainda mais pela garota, e sentindo um medo cada vez maior de estragar tudo.

Dirigido por Leandro Neri, e produzido pelo Camisa Listrada Filmes, o longa se aproveita da relação de Victor Lamoglia Thati Lopes, que são namorados na vida real, para criar uma personalidade extremamente bem construída para seus personagens. Júlia e Júlio são um só, eles se conectam de uma forma tão intensa que é praticamente impossível identificar quando acaba um e quando começa o outro, deixando a atuação deles o mais longe possivel de caricata. A colaboração de Léo Bahia complementa o humor de uma forma revigorante, o rapaz brinca com o bullying de uma forma leve e consegue passar conforto quando atua tanto com Victor quando com Thati, o que torna ainda mais fácil enxergar os dois como um só, mas é a atuação de Manu Gavassi que equilibra completamente o enredo da trama. Manu e Thati criam um elo surpreendente, elas exalam naturalidade em suas cenas (da mesma forma que vemos a distancia intencional entre Manu e Victor no inicio do filme), o que nos faz ficar em dúvida sobre quem atua melhor, Manu ou Thati?

As participações de Kayky BritoLua Blanco , Nelson Freitas Lipy Adler são bem pontuais, dando pouco tempo de tela a cada um dos atores, mas que cooperam habilmente com o andamento da trama, dando uma pitada de trama que ajudam a impulsionar o plot principal e, de certa forma, ajudam a transformar a consciência e a personalidade das duas versões do protagonista. Fica claro o quanto o roteiro de Paulo Cursino foi bem construído, com personagens substanciais o suficiente para se encaixar em seus atores e com subtramas solidas o suficiente para se tornarem presentes e essenciais no desenrolar da produção, dando uma dose certeira de presença que o torna necessários, sem rebarba e sem aparição gratuita. A participação de Bruno Gissoni, por outro lado, é a grande falha do longa. Vinícius, seu personagem, surge de uma forma plausível porém desnecessária (sua necessidade básica de existir poderia ser suprida por qualquer figurante), e vai aos poucos assumindo uma segunda função na trama que se torna completamente dispensável, seu personagem não adiciona em nada na trama e talvez nem precisasse existir caso outras escolhas de roteiro fossem feitas.

O personagem de Lipy Adler, que é bastante forçado, acaba sendo mais bem sucedido do que o de Gissoni, uma grande pena colocar um ator de renome num papel tão fraco. No final, o longa assume uma premissa clichê, que já foi explorada em filmes nacionais e internacionais, com um pequena pitada de inovação e uma rápida releitura de uma das cenas de A Morte te dá Parabéns 2. Fica claro que, apesar de não ser maravilhoso, o longa tem aquele fator misterioso que nos prende, talvez por nos lembrar dos traumas e desejos da adolescência, mas é nas mãos de Thati Lopes que o show é feito, a garota consegue carregar o filme nas costas melhor que o seu namorado, dominando a tela e fazendo Lamoglia parecer apenas uma participação no filme que, praticamente, é protagonizado por ela.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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