Crítica | Por Que Eu Me Casei? (Why Did I Get Married?)

Nota
4

“Ei, divas!”

Patricia Agnew ficou famosa depois de escrever o livro Por Que Eu Me Casei?, onde descreve uma experiência psicologica criada por ela e exercitada periodicamente pelo grupo de oito amigos da qual faz parte, onde os quatro casais passam férias juntos e refletem sobre os problemas de seus casamentos. Patricia vive uma relação aparentemente bem sucedida com Gavin, mas nem toda relação que parece perfeita realmente é, principalmente quando dores do passado não são devidamente vividas e superadas. Dianne Brock é uma bem sucedida advogada, ela lutou por anos para subir no escritório que fez parte até se tornar uma das sócias, mas enquanto sua carreira é um sucesso, seu casamento com o pediatra Terry está cheio de problemas, principalmente por o médico querer ter outro filme e Dianne estar negando sexo. Angela é uma quimica que decidiu seguir a carreira trabalhando com produtos para cabelos de negros, fundando um bem sucedido salão onde seu marido, Marcus, trabalha, mas a relação de amor e ódio do casal é intensa, principalmente por conta da interação que eles precisam ter com Keisha, a ex-mulher de Marcus e mãe de seus dois filhos. Sheila vive uma relação abusiva com seu marido, Mike, que vive a humilhando e a colocando para baixo por seu excesso de peso, algo que deixa a mulher com baixissima autoestima, e tudo só piora quando Sheila decide levar Trina, uma grande amiga, na viagem, o que desperta diversas desconfianças entre as mulheres.

Em 2003, Tyler Perry lançou a sua peça teatral “Why Did I Get Married? (He Proposed to Me)”, uma história sobre a diversidade dos relacionamentos e sobre os problemas que eles enfrentam, se desenrolando em um retiro matrimonial e que é protagonizado por Poppy, um recém-viuvo, e seus amigos, DianaTerrySheilaMike. A peça acabou sendo lançada em DVD em meados de 2006, o que abriu portas para que Tyler a transformasse em um filme, mudando completamente o enredo da trama, mas sem descartar sua essencia, a problematica da relação de Diane e Terry e de Sheila e Mike, adicionando dois novos casais à equação e deixando o desfecho da trama muito mais leve. Numa trama que narra sobre a dificuldade de manter um relacionamento sólido nos tempos modernos, Tyler Perry roteiriza, dirige e ainda consegue encarnar o papel de Terry, retirando muitas das cenas da igreja e das mensagens religiosas para atingir um nivel espiritual totalmente diferente, deixando de lado a conexão religiosa que existe entre os casais e dando uma abertura para abordar os aspectos da traição de uma forma muito mais moderna, fortalecendo ainda mais a história de Sheila.

Numa trama onde segredos são revelados e colocam os casamentos em risco, o longa consegue abordar sobre infidelidade, compromisso, amor e perdão, usando do humor para transformar dilemas tão densos em debates mais fáceis de ser digeridos. Janet Jackson é o centro narrativo da obra como Patricia, muito da história é contada sob o ponto de vista dela, e é ela quem traz um dos dilemas mais pesados a ser abordados, mas infelizmente ela é uma das que menos se destaca em tela, a história dela se arrasta por muito tempo até realmente ganhar importancia, e isso acaba prejudicando a jornada da personagem. Malik Yoba como Gavin acaba ficando ainda mais na sombra do roteiro, quase não da pra notar um desenrolar em seus dilemas, o que o faz ser muito mais um apoio à trama de sua esposa do que um protagonista da sua. Sharon Leal dá umas camadas interessantes à sua Dianne, ela traz a tona problemas sobre o excesso de trabalho e o impacto na familia e sobre o perigo de esconder segredos que podem abalar violentamente seu casamento. O Terry de Tyler Perry é outro que se apaga perante sua esposa, talvez aqui seja um esforço do roteirista para dar mais brilho a seus colegas de elenco. Tasha Smith como Angela e Michael Jai White como Marcus são destaques como o núcleo comico da trama, eles são o casal mais problematico, que mais briga, mas que acaba quebrando o clichê de ser o casal que vai se desfazer primeiro. Mas a grande protagonista do enredo é a Sheila de Jill Scott, esse é um filme sobre autoaceitação e saber se amar, e a personagem é quem mais evolui no decorrer do longa, deixando Mike (Richard T. Jones), Trina (Denise Boutte) e até o xerife local, Troy Jackson (Lamman Rucker), como peças essenciais para a jornada que ela precisa viver.

Apesar de não ser uma obra prima do cinema, Por Que Eu Me Casei? diverte, disfarçando um drama sobre casamentos com piadas, que podem até tirar algumas risadas, principalmente dos casados, mas não traz um elenco que está disposto a disputar um Oscar. Um bom passatempo, a dramédia cumpre o que promete, mas perde pontos pelo excesso de clichês e a falta de uma atuação realmente esforçada, que poderia naturalizar várias situações forçadas que surgem no decorrer do filme. Conveniente demais em alguns momentos, como se problemas sérios de casamento e possibilidade de divorcio pudesse facilmente ser resolvido com um rápido exercicio ou pequenas intervenções individuais, o roteiro tem sua maior força durante as desventuras que explodem em meio à viagem de férias. Talvez seja interessante ainda a crítica que o roteiro faz aos casamentos de fachada, onde as pessoas preferem jogar os problemas para baixo do tapete ao invés de lidar com eles, o que acaba tornando tudo uma bomba relógio que pode ter um poder de destruição ainda maior quando vem à tona.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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