Crítica | Pluft, o Fantasminha [2022]

Nota
3

“Mamãe, gente existe?”

A jovem Maribel é neta do famoso Capitão Bonança, um grande pirata que antes de falecer deixou um tesouro do qual poucos sabem, um tesouro destinado a ser a herança de sua neta e que acabou chegando aos ouvidos do malvado Pirata Perna de Pau. Mesmo sob a proteção de JoãoJuliãoSebastião, seus três melhores amigos e antigos marujos do Capitão Bonança, a garota acaba sendo sequestrada pelo Pirata Perna de Pau e levada para a antiga casa de Bonança, o lugar onde o vilão acredita estar escondido o tal tesouro que, segundo os boatos, só Maribel será capaz de encontrar. O que ninguém esperava era que a casa agora fosse a moradia de Pluft, um fantasminha medroso, sua mãe e seu tio, que vivem isolados do resto do mundo, felizes e longe da companhia de gente. A chegada de Maribel na casa imediatamente causa pavor em Pluft e euforia em sua mãe, despertando uma amizade inesperada que pode estimular uma grande evolução para os dois.

Em setembro de 1955, o Teatro O Tablado recebia pela primeira vez a peça infantil criada por Maria Clara Machado, a peça que narrava sobre a amizade entre uma menina raptada e um fantasma com medo de gente e que lhe garantiu o Prêmio APCA. Quase sessenta anos depois, e depois de duas adaptações da Globo, o longa ganha uma nova versão com a direção de Rosane Svartman e distribuído pela Downtown Filmes, com uma atmosfera completamente ingênua e lúdica, completamente focada nas crianças mais pequenas e em resgatar aquele tom clássico das histórias infantis, sem muita invencionice, sem muita preocupação e carregada de mensagens bem definidas, que nesse longa é aceitar as diferenças e saber o poder da amizade. Incomoda ao extremo para os mais adultos, o longa parece deixar claro a quem deseja atingir desde sua primeira cena, descartando muitas preocupações técnicas, transparecendo em muitos momentos o formato teatral de certas falas e como elas não funcionam tão bem no formato para o cinema, e ao mesmo tempo inovando na sua simplicidade para buscar entregar mais verdade, como é o caso das gravações dos fantasmas ter acontecido dentro d’água (o que dá a eles fluidez na flutuação sem exagerar nos efeitos visuais, apesar de ser possivel ver algumas bolhinhas aqui e ali que escaparam na pós-produção).

No quesito atuação, quem rouba a cena é Fabíola Nascimento, interprete da mãe de Pluft, e Juliano Cazarré, que vive o Pirata Perna de Pau, ambos atuando de uma forma exagerada, cheia de trejeitos e de uma graça que agrada, que diverte as crianças, acomoda os mais velhos e aumentam ainda mais o tom lúdico da obra. Quem também se destaca é Lola Belli, que no papel de Mirabel se mostra uma estrela em ascensão, ela mostra uma profundidade à garotinha indefesa e ainda fica em harmonia com a visão mais contemporânea da protagonista oferecida por Svartman, ao contrário da versão original, a Mirabel de 2022 é forte, convicta, proativa e não fica passiva aos eventos que ocorrem ao seu redor, ela mostra que os tempos são outros e que, mesmo que Pluft seja o protagonista titulo, ela também é a grande protagonista da produção. Nicolas Cruz, interprete do fantasminha, nos presenteia com uma inocência divertida, seu medo de gente é palpável e a forma como Mirabel derruba suas defesas fica clara, ele nos guia pela história e, apesar de não brilhar tanto, entrega um Pluft que agrada. Infelizmente o maior ponto fraco do filme fica para o trio de amigos de Maribel, interpretados por Hugo GermanoLucas SallesArthur Aguiar, que entregam um tom de clown que parece forçado demais, que não funciona, fica claro que Salles é o ponto alto do trio, mesmo que fique claro que nenhum dos três personagens parece necessário no filme, eles surgem como alivio cômico que se transforma muito mais em vergonha alheia do que alivio.

Primeiro longa infantil em 3D feito no Brasil, Pluft, o Fantasminha dialoga diretamente com seu público alvo em uma missão desafiadora, pregando a importância da amizade e da coragem ao mesmo tempo que desenrola uma história simplista mas, ainda assim, capaz de prender a atenção das crianças. Com uma trilha agradável e pequenas cenas musicais, o longa explora a essência da curiosidade e das histórias de fantasmas que nos remete diretamente ao passado, seja pela lembrança do divertido Gasparzinho ou do espalhafatoso ‘Simão, fantasma bundão’, mesmo que fique claro que não somos o público ao qual o longa deseja agradar, o que pode até deixa-lo em alta nesse período de férias, mas dificilmente permitirá que consiga competir com tantos outros blockbusters nacionais e internacionais. Apesar de dar a impressão que o longa reverte esse efeito acelerado que é comum as crianças de hoje em dia, seu roteiro simples e previsível pode não ser muito atrativo para os pais, que serão os responsáveis por levar os filhos ao cinema, o que pode prejudicar seu desempenho nas telonas, mas vale a pena arriscar e experimentar esse longa construído com muita competência, carinho e cuidado.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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