Crítica | ParaNorman

Nota
4.5

“Não tem problema nenhum sentir medo, Norman, enquanto você não deixar que isso te modifique.”

Norman Babcock (Kodi Smit-McPhee) é um garoto solitário que passa a maior parte do seu dia apreciando filmes e mídias de terror enquanto conversa com os mortos locais. Desde que se entende por gente, ele consegue se comunicar e visualizar os espíritos e é tratado como uma aberração pelos demais… inclusive por sua família. Tendo como único apoio a sua amada avó, que já está morta, o garoto tenta sobreviver ao colégio e escapar das garras do valentão Alvin (Christopher Mintz-Plasse), que insiste em atormentá-lo.

Mas tudo muda quando seu estranho Tio Prenderghast (John Goodman) ressurge com uma profecia devastadora. A maldição secular da Bruxa de Vila Legal é real e somente Norman tem o poder de detê-la… antes que os mortos voltem a terra dos vivos para um último acerto de contas. Agora, o garoto precisa aprender a confiar em seus instintos, e se unir a um grupo inusitado, para uma missão que mudará não só sua vida mas a de todos na sua pacata cidade.

A Laika nunca esteve preocupada com o lucro de suas criações, mas com a ampla qualidade apresentadas em cada uma, trazendo uma evolução crescente e tema profundos em obras voltadas para o público infantil. Coraline é uma das grandes provas do estúdio, demostrando uma qualidade técnica impecável e um enredo que envolve tanto seu público mais jovem quanto os adultos de plantão, preparando-os para o próximo passo do estúdio.

Dirigido por Sam Fell e Chris Butler, ParaNorman foge do velho clichê da longa batalha entre o bem e o mau para aprofundar suas questões em temas mais humanos e profundos. Imergindo seu público em um mundo mais sombrio e marcado, os diretores exploram o amplo julgamento social para com o que é diferente, trazendo uma armadilha emocional que nos torna não só espectadores, mas cúmplices de seu desenvolvimento.

O grande problema, levantando com maestria no longa, é quando deixamos o medo falar mais alto, transformando quem nos somos e gerando um ciclo de ódio que não nos leva a lugar nenhum. Quanto mais machucados ficamos mais queremos machucar, trazendo uma reflexão sobre como podemos nos tornar aquilo que mais odiamos.

Não é a toa que julgamentos acalorados e a condenação do que não se encaixa torna-se algo impregnado na obra, trazendo discussões precisas de como o medo do desconhecido afeta cada um. Na realidade, o medo é um tema constante na obra, mas não da maneira que imaginamos. Aqui ele é usado de maneira mais realista, utilizando o subgênero para construir uma critica social que põe o dedo na ferida: por que temos tanto medo daquilo que não entendemos? Por que utilizamos dele para ferir e amedrontar o que é diferente de nós?

Visualmente, o longa abusa de cores decrepitas que exalam podridão e doença. Os tons de verde ganham destaque, seguidos de perto pelo amarelo e vermelho (assim como o preto em momentos mais tensos da trama). A cidade abusa de cenários decadentes, nos associando a maldade adormecida que esta prestes a acordar, remetendo a grandes obras do terror direta e indiretamente, o que torna o longa ainda mais fascinante para os amantes do gênero.

Os estereótipos levantados, que nos fazem maquinar ideias premeditadamente, são destruídos ao longo da narrativa, nos convidando a explorar melhor os novos dilemas e projeções a qual o filme se propõe. Referenciando grandes obras do terror, o longa traz os velhos papéis que tanto achamos conhecer, mas que se transformam diante dos nossos olhos, nos provando que estávamos errados em nosso julgamento.

Norman é solitário e confuso, sentindo-se muito mais compreendido entre os mortos do que entre os vivos. O garoto adota uma figura mais tensa perto dos mortais, que o tratam como uma aberração por boa parte do longa, o que contrasta com seu jeito mais relaxado e sorridente ao encontrar os fantasmas da cidade, em uma ótima dinâmica logo no inicio do longa. Ele nunca foi aceito entre os vivos, nunca recebeu gentileza daqueles com que convivem, a ponto de ficar arrisco com as poucas pessoas que ousam lhe estender a mão em sua jornada.

John Goodman entrega com maestria o tio esquisitão, que vive isolado do mundo e está mais do que aliviado em passar sua tarefa adiante. Courtney (Anna Kendrick) é a irmã patricinha do protagonista, que vive irritada com o dom sobrenatural do garoto até entendê-lo melhor. Neil (Tucker Albrizzi) é o único que acredita em Norman e quer conhecer melhor o garoto, que passa pela constante humilhações por não seguir o que esperam dele. A diferença é que Neil sente-se confortável com quem é e não está nem um pouco preocupado com o que os outros pensam.

Mitch (Casey Alfred) entra para suprir o estereotipo de atleta estúpido enquanto Alvin embarca na versão valentão da escola. Vovó (Elaine Stritch) serve como guia espiritual do garoto, trazendo poderosos ensinamentos e sendo sua âncora nos momentos de duvida. Mas, quem merece o total reconhecimento ao lado do protagonista é a Bruxa, dublada por Jodelle Fernand, que consegue não só nos amedrontar como destruir nossos corações em um dos momentos mais bonitos e icônicos do filme. Simplesmente impecável.

A verdade é que ParaNorman nunca procurou ser amedrontador, mas sim buscar ensinamentos com aspectos do terror. Com personagens bem construídos e críticas profundas, o longa vai muito além do que esperamos, nos entregando uma obra notável que merece nosso reconhecimento e reflexão. Mostrando que existe tanto a se contar no universo infantil sem, jamais, interiorizar o intelecto do seu público. E acredite, isso já vale muito.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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