Crítica | O Rei do Show (The Greatest Showman)

Nota
3.5

Baseado na história real que pode ter escapado de muita gente, o musical O Rei do Show trata das origens do que hoje se entende por “circo”. Em meados do século XIX, o empreendedor americano Phineas Taylor Barnum, especialista na área de entretenimento, fundou o seu próprio espetáculo de pessoas exóticas que, posteriormente, se tornariam lendários, como a “mulher barbada” e o “homem tatuado”. E, como se poderia esperar, a história mostra as dificuldades para encaixar essas excentricidades numa sociedade elitista e preconceituosa.

Escrito por Jenny Bicks em parceria com Bill Condon (diretor da nova versão de A Bela e a Fera) e dirigido pelo estreante australiano Michael Gracey, O Rei do Show é, antes de mais nada, um musical tradicional e lúdico. Ele trabalha com os elementos clássicos do gênero do começo ao fim, tanto nos aspectos técnicos/visuais quanto nas coreografias e inserções de canções na trama. A produção é glamourosa e evoca um senso de fantasia típico de filmes de animação da Disney através de uma fotografia colorida, figurinos belíssimos e uma montagem de videoclipe nos números musicais.

Ao contrário do extraordinário La La Land: Cantando Estações, que subvertia as expectativas e trazia a nostalgia dos musicais clássicos para um contexto moderno e realista, O Rei do Show simplifica o enredo em prol da grandeza das coreografias e, dessa forma, cria uma dinâmica narrativa objetiva que beneficia o ritmo do filme, mas ignora alguns pontos cruciais de conflitos, como  a evolução do protagonista de um homem sem dinheiro pra consertar uma goteira para um dono de uma fortuna, tudo com alguma conversa e, é claro, muita música. Essa objetividade também impede que o público possa conhecer mais a fundo os personagens excêntricos que compõem o circo, mesmo que o roteiro dê espaço para alguns deles brilharem pontualmente (em particular, na contagiante  “This is Me”).

Hugh Jackman encarna o papel principal com o entusiasmo e o carisma que lhes são característicos, ao passo de que Michelle Williams cumpre seu tempo em cena com dignidade, apesar do personagem estereotipado. Zendaya e Zac Efron encontram momentos apropriados para desenvolverem sua química e não comprometem nas atuações, muito menos nas danças. E Rebeca Ferguson completa o elenco com sua presença significativa no segundo ato, sendo totalmente dela uma das melhores cenas do filme.

As músicas em si são basicamente o que fãs de musicais gostariam de ver e ouvir, mas acrescentam um tom pop nas batidas e nas vozes, o que casa perfeitamente com a ideia de novidade e “ruptura com o óbvio”. Tanto as coreografias quanto a reconstituição de época tem aquela artificialidade que é própria do gênero, e é muito honesto da parte de O Rei do Show que ele admita isso para a plateia desde a sua primeira canção. Os espectadores que analisam sob uma ótica mais objetiva, no entanto, devem se irritar constantemente com algumas inverossimilhanças da narrativa, e eles não estão errados.

Ao deixar de lado a exploração de algumas situações mais intensas e compactar a jornada do protagonista numa compilação de pirotecnia, o filme limita seus horizontes, e, em contrapartida, expande seu público – e talvez fosse isso o que P. T. Barnum quisesse.

 

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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