Crítica | O Primeiro Natal do Mundo

Nota
4

“Eu queria que o natal acabasse pra sempre!”

O professor viúvo Pepê e suas duas filhas, MajuNanda, estão se mudando para uma nova casa junto com Tina, uma chefe de cozinha que é a nova esposa de Pepê, e seus dois filhos, ArthurGael, e como se não bastasse todo o caos da mudança, ela acontece em plena véspera de Natal, o que torna tudo ainda mais caótico. É justamente durante os preparativos para a festividade que um acidente acontece, o que faz Arthur a derrubar a Árvore, enfeites e uma pequena escultura da decoração que é a ultima lembrança que Maju tem de sua mãe, levando a menina a entrar em furia e desejar que o Natal deixe de existir. No dia seguinte, a familia acorda em um mundo onde ninguém ouviu falar do Natal, e decidem embarcar numa louca jornada para recriar o feriado.

Dirigido por Susana Garcia e Gigi Soares e roteirizado por Garcia, Alessandra Ruiz, Guilherme Ruiz, Carolina Minardi, Leandro Soares e Júlia Lordello, o longa é a primeira produção de natal nacional produzida pelo Prime Video, e claramente não poderia ter escolhido um elenco melhor para fazer uma comédia inteligente, divertida e com forte representatividade brasileira. Encabeçado por Lázaro Ramos (Pepê) e Ingrid Guimarães (Tina), o elenco brinca com temáticas relevantes ao mesmo tempo que leva o enredo adiante na busca por resgatar o natal, dando enfâse ao peso que a data possui para as ‘mães de familia’, o grande apelo comercial acima do sentimental, o peso emocional e psicologico que a data possui, e até sobre os efeitos que o desaparecimento da data causa em cada emprego (como a mudança da data do fim das aulas para professores e alunos ou o fim da demanda de comidas para ceias que surgem para uma chefe), mas nem tudo são flores no roteiro, mesmo que algumas falhas possam ser jogadas na conta da licença poetica e dê para fingir que não existem, dá pra sentir o efeito colateral que pode ter um roteiro produzido por muitas mãos.

Seguindo o clichê das diversas comédias natalinas que todos ja conhecem, onde vemos várias trapalhadas precedendo um final feliz, o longa consegue adicionar a identidade nacional e agrada justamente pelo humor natural de Ingrid e Lázaro, além do carisma e da conexão palpavel que os dois possuem, sendo capazes de sustentar as piadas um do outro. Toda a comédia do filme se sustenta em cima do contraste de abordagem que os protagonistas assumem para tentar resgatar o natal, enquanto Pepê quer lembrar a todos que Natal é tempo de celebrar a união e a paz, tentando resgatar a imagem de Papai Noel na mente das crianças, Tina se apega ao lado comercial, que é a melhor chance de fazer a data voltar a existir com a agilidade que eles precisam, e é ai que entra Silvana, maravilhosamente vivida por Fabiana Karla. Silvana é a sindica do condominio para onde Pepê e Tina se mudaram e a dona da Mega Silvana, uma grande loja de departamento que atua no shopping da cidade, uma mulher fria que só pensa no lucro e ama a proposta da dupla, apesar de manipular a proposta para ficar com a sua cara e descaracterizar vorazmente o significado da festa que ela nem sabe que existe. Apesar de pouco tempo de tela, os filhos do casal ainda conseguem ter seu devido destaque, principalmente Igor Jansen (Arthur) e Theo Matos (Gael), que conseguem usar bem suas falas para brilhar em tela e, seja pelas caras e bocas de Jansen ou pela fofura e talento de Matos, ser notados pelo público.

Com uma trama cheia de brasilidades, O Primeiro Natal do Mundo surge como uma das melhores produções natalinas de 2023, principalmente depois de termos encontrado um ano com tão poucas novas produções (constratando fortemente com anos anteriores) e menos ainda sendo brasileiras. O longa traz mais acertos do que erros, deixando um saldo positivo que vai agradar com certeza ao público que estiver disposto a deixar de lado momentos como, o fato de filme explorar muito mais as subtramas de Pepê e suas filhas do que de Tina, que tem uma rapida cena que cita o ex-marido e uma rapida aparição de uma mãe, mas ambos sem ser devidamente apresentados, ou do fato de o filme aparente começar no dia 24, trazer uma trama que se desenrola por vários dias, e ainda consegue não passar do dia 25. Compensando as falhas, temos no longa cenários, figurinos e fotografia iluminados, que dispensam a neve e excesso de vermelho norte-americanos para preencher a tela com tons verdes e cores vibrantes que refletem o espirito brazuca da produção, sem deixar de criticar o capitalismo e exaltar a importancia da mulher ao mesmo tempo que enche o enredo de piadas físicas como a cena onde Ingrid e Lázaro precisam correr de perus praticamente assassinos, expondo o conforto da dupla em fazer humor interpretando situações vexatórias.

“- Deve ter vindo um ladrão aqui em casa!
– Ladrão? Ladrão que deixa a casa arrumada? Gostaria até de conhecê-lo, inclusive.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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