Crítica | O Lendário Cão Guerreiro (Paws of Fury: The Legend of Hank)

Bota
3

“- Você precisa de um mentor.
– Talvez algum ex-grande samurai, que esteja falido e que de repente também possa se dar bem com isso. Mas onde é que eu vou encontrar um?”

O vilarejo de Kakamucho é o maior incomodo que existe para Yka Chu, um senhor feudal dono de um enorme palácio e que recebeu o aviso que logo receberá uma visita do Xogum. O palácio de Yka Chu é cheio de maravilhas e ele está disposto a não poupar esforços para torna-lo ainda melhor, o que faz com que ele sinta a necessidade de destruir o vilarejo que ‘suja’ a vista da varanda de seu lar. Na busca por fazer a cidade se destruir por dentro, Yka Chu envia Hank, um cachorro que entrou ilegalmente no reino dos gatos, para assumir o posto de Samurai da Vila, um ser completamente incapaz de proteger até a si mesmo e que, por ser cachorro, seria imediatamente odiado por todos da vila… Até que o caminho dele se cruza com Jimbo, um Samurai Renegado e alcoólatra que, após muita pressão de Hank, aceita treina-lo para alcançar seu sonho de se tornar um samurai e cumprir o papel de proteger a vila.

Vagamente inspirado no longa Banzé no Oeste (1974), o filme com direção de Rob Mircknof transforma a trama de western com humor ácido e que trata de racismo em uma animação protagonizada por gatos (e um cachorro) em meio a um Japão Feudal, se Bart era um xerife negro lutando para ser aceito na cidade de brancos, Hank surge como um cachorro lutando para ser acolhido pelos gatos, transformando a questão para algo muito mais lúdico sem perder o peso da mensagem. Talvez o problema do filme não esteja na sua transformação ou em suas mensagens, mas sim em sua trama, que se mostra rasa em vários momentos e só se mantem em movimento graças às inúmeras piadocas que parecem ser feitas sob medida para o publico mais adulto, principalmente por conta de algumas referencias que despertam um inocente sorrisinho. Distribuído pela Paramount Pictures e Nickelodeon Movies, o longa nos ganha bastante com as quebras da quarta parede ao mesmo tempo que nos perde vagarosamente por seu enredo arrastado.

“Armas não matam gatos. Carros e a curiosidade é que matam.”

Hank (Michael Cera/Paulo Vieira) nos surpreende positivamente com sua construção, ele era apenas um cachorrinho que sofria bullying quando acabou sendo salvo por um grande samurai, esse momento mudou completamente sua vida e o fez iniciar a jornada em busca por se tornar um samurai, o que o levou diretamente para as masmorras de Ika Chu. Com o desenvolvimento do filme, ele vai desenvolvendo camadas que nos divertem e deixam um brilho no olhar, quebrando preconceitos e se deixando levar pela fama de ser o samurai de vilarejo, o que o projeta diretamente para a grande lição de moral do filme. Jimbo (Samuel L. Jackson) abandonou completamente a carreira de samurai depois de ter cometido uma falha com seu antigo mestre, estragando sua festa de aniversario, o que o fez se isolar em Kakamucho e passar o resto de seus dias se embriagando com chá de gato, um degradante caminho que começa a mudar com a influencia de Hank. Voltar a ser um samurai ao treinar seu novo pupilo faz com que Jimbo volte a sentir o significado de ser um samurai, começa a ver o mundo sob novos olhos e entender o quanto é importante ele abandonar seu vicio e lutar pela sua honra. Não se pode deixar de citar Emiko, a gatinha persa que se torna a guia moral de Hank ao mostra-lo a verdadeira importancia de ser um samurai, ela, mesmo sendo uma criança, luta pela sua vila, enfrenta os mais velhos para ser justa e não tem medo do perigo, o que claramente abre muitas oportunidades de desenvolvimento para a personagem, que nem são usadas. A menção honrosa do elenco fica para o Xogum, um governante empata que nos cativa e ganha ainda mais força com a dublagem de Ary Fontoura, mas que também se torna uma grande homenagem ao ser dublado (na versão original) por Mel Brooks, diretor e roteirista de Banzé no Oeste e também interprete do Governador William J. Le Petomane (personagem que inspirou o Xogum).

Apesar de funcionar de forma aceitável como comédia, O Lendário Cão Guerreiro não é tão bem sucedido no quesito roteiro, não que a história em si seja ruim, mas ela se condena pela forma como lembra, a todo momento, a premissa da franquia Kung Fu Panda (um protagonista condenado ao fracasso que surge como última alternativa para proteger pessoas inocentes). Com ótimos diálogos, apesar de alguns serem bem previsíveis, o longa conta com um antagonista divertido, um mentor cativante e até um bobalhão próprio (encarnado pelo gato Sumô), o que fortalece a trama e acaba se somando como pontos altos do filme, mas infelizmente não é só de piadas e personagens que a produção depende, por isso ouso considerar que o filme pode até ser uma boa opção para o publico infantil, que vai se entreter com as cenas bobas que preenchem o filme e algumas piadas mais bestas, ou parra um publico mais adulto que esteja disposto a encarar uma animação onde não se precisa pensar muito ao colher as graças despretensiosas, que brincam com o filme de forma metalinguística e fazem piadas até com os executivos dos estúdios de cinema.

“A vida é curta e esse filme só tem 85 minutos […] Temos que correr!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *