Crítica | O Grito (The Grudge) [2004]

Nota
3

“Quando alguém morre cheio de ódio… Nasce uma maldição.”

Em Tóquio, uma série de eventos se conecta através de uma casa. Peter pula de sua sacada, se suicidando, Yoko desaparece, enquanto estava trabalhando, e Emma vive aterrorizada em sua casa, vivendo solitariamente e demonstrando claros sinais de deficiência mental. Todos os eventos se conectam com a casa onde, há alguns anos, Kayako Saeki e seu filho, Toshio Saeki, foram assassinados. A chegada de Karen Davis, uma estudante americana que está no Japão em um intercâmbio cultural, à casa é o ponto de inicio de um nova capitulo de terror. Karen vai à casa, em uma serviço voluntário do Centro Social de Apoio, para cuidar de Emma depois de que Yoko, a antiga responsável pela senhora, desapareceu. O problema é que a casa parece um cenário de terror, onde Karen ouve estranhos sons e se defronta com algo tão apavorante que seria incapaz de imaginar, uma entidade assustadora que passa a perseguir a americana mesmo depois que Emma aparece morta e ela abandona a casa.

Seguindo a clássica temática de terror japonês, O Grito vai fundo na mitologia das maldições protagonizadas por jovens japonesas. O longa é um remake de Ju-on, longa dirigido por Takashi Shimizu, ou melhor, o remake americano de um famoso terror japonês que traz um orçamento maior, um elenco mais estrelado e o mesmo diretor do original. O longa dá mais chances para Shimizu recontar sua história, e rapidamente se tornou um clássico do terror ocidental, colocando Kayako no hall das grandes personalidades sobrenaturais do terror, apesar de o filme ter um clima bem mais trash. Toda a trama parece embolada, criando um ciclo de horror protagonizado por Karen que não tem uma boa linearidade de enredo, mas é composta por icônicas cenas e uma tensão constante, deixando Kayako quase sem tempo de tela mas sempre presente na trama, criando um clímax envolvente através da sucessão de fatos apavorantes e da sensação de tudo estar nos carregando para algo terrivelmente maléfico. Toda essa questão nos leva a questionar se os expectadores ocidentais estão realmente prontos para o cinema oriental, será que estamos realmente preparados para entender esse terror menos gráfico e muito mais imaginário?

Produzido por Sam Raimi e Robert Tapert, o longa fez muito bem em trazer Shimizu para o trabalho, mesmo que o diretor não fosse capaz de falar nem uma palavra em inglês, já que o diretor foi capaz de trazer o melhor de seu filme para o remake, mas talvez o grande erro tenha sido a escolha de Sarah Michelle Gellar para protagonizar o longa. Sarah parece não conseguir viver completamente a experiencia do longa, a atriz parece sem emoção em tela, não empolga em sua fuga e muito menos no grande apice do longa, ao contrario do que acabamos vendo no elenco de apoio. Clea DuVall parece um peixe fora d’agua na cidade, mas protagoniza uma bela cena de embate com Kayako, Ted Raimi tem pouquíssimo tempo de tela, mas tem uma conclusão empolgante ao se deparar com o espirito de Yoko, mas o prêmio de melhor sequencia de maldição fica para KaDee Strickland, que mostra mais presença de tela em sua cena de embate com Kayako do que Sarah demonstra no filme inteiro, nos fazendo pensar como seria o longa se os executivos tivessem invertido os papeis, dado a KaDee o papel principal e a Sarah o papel de apoio, talvez essa tivesse sido a escolha crucial para corrigir os problemas que existem no longa.

Outro grande mérito da produção é ter mantido seus antagonistas originais, Kayako e Toshio são perfeitos do jeito que são, e a escolha de não americanizar os personagens torna tudo ainda mais envolvente. O longa vai contra a corrente ao não trazer soluções, O Grito não é aquele filme com começo meio e fim, ele relata um evento na casa mas não busca trazer um padrãozinho que tem começo e final bem definidos, ao contrário, o longa não tem um começo e não tem um final, deixando aberto espaço suficiente para termos prequels e sequencias que não pareçam forçadas ao mesmo tempo que se amarra o suficiente para funcionar sozinho. Seguindo a cartilha do terror japonês, o longa vem pronto para inovar o terror ocidental e nos ensinar a desfrutar o melhor do terror sobrenatural, nos mostrando que terror não precisa acabar com finais felizes, nos levando a um final marcante que prova que um terror não precisa de imagens assustadoras, trilhas gritantes ou sustos escandalosos para ser realmente assustador.

 

https://www.youtube.com/watch?v=aXuBlnsp0Ko

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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