Crítica | O Escândalo (Bombshell)

Nota
3

Unindo dois temas difíceis de abordar, principalmente juntos, o diretor Jay Roach traz mais uma vez suas provocações políticas em O Escândalo. O drama político nos leva para dentro de uma das maiores emissoras conservadoras dos Estados Unidos. Somos guiados pela redação, pelos estúdios e pelos costumes da Fox News pela Megyn Kelly (Charlize Theron), de uma forma que é quase jornalística e documental, que já nos deixa imersos a toda a formalidade que se espera de um canal de notícias. Depois de ambientados com o ambiente da trama, o filme começa de fato a nos mostrar aos poucos todos os problemas que as mulheres que trabalham na emissora sofrem, e o estopim de todos os casos isolados vem a ser a demissão da âncora, agora rebaixada a um programa pequeno e de baixíssima audiência, Gretchen Carlson (Nicole Kidman) que resolve processar o dono da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow), pelo assédio que sofreu há quase 10 anos atrás.

Indicado a três Oscars, é o quarto filme do diretor a receber indicações, sendo o seu primeiro a de fato ganhar uma premiação, ao levar a estatueta de Melhor Maquiagem e Penteados. Apesar de ter levado a categoria técnica, o filme de longe tem seus figurinos, maquiagem ou cabelo como seu ponto alto, embora seja um tema super recorrente. Para um filme baseado em pessoas reais, a caracterização precisa ser extremamente fiel às pessoas referenciadas no filme, mas as performances de atuação do elenco sobressaem completamente ao tema da premiação, visto que esta podia ter sido entregue a outro filme com um trabalho mais minucioso.

Charlize Theron faz um excelente trabalho em dar vida nas telas à Megyn Kelly, não só nos seus maneirismos e de certa forma porte elegante, mas principalmente na sua projeção de voz, que fica idêntica a qualquer jornalista conservadora. Sua performance consegue transmitir todo o suspense que é necessário do meio para o final da trama, além de conseguir mostrar de forma sutil como essa mulher está presa dentro de suas próprias ideologias, que foram nutridas depois de tantos anos dentro da Fox News, e de como é difícil não só ter que denunciar tudo que está acontecendo e ficar do lado da personagem da Nicole Kidman, como também, apesar de tudo, não largar as suas crenças políticas. 

O diretor também tem uma escolha ousada de criar algumas personagens que não existiram na vida real, sendo a de mais destaque a Kayla Pospisil (Margot Robbie), que é uma jovem cristã com o sonho de crescer exclusivamente Fox News, canal que ela admira desde sempre com sua família. É interessante analisar a função que a personagem ocupa ao longo do filme, onde fica claro que ela está ali para o que o diretor possa representar o que não pode com as personagens principais, já que as mesmas existem na vida real. O filme é muito criticado até hoje pela forma que o diretor lida com um tema tão denso como o assédio, e acho que a personagem da Margot é um grande exemplo disso, até porque a mesma é a única personagem que tem uma cena que é assediada ao mesmo tempo que a câmera se projeta como o assediador.

Apesar disso, Margot Robbie se mantém muito consistente em seu desempenho, conseguindo transmitir as ansiedades, angústias e preocupações da personagem de formas indiretas, já que a mesma precisa constantemente esconder o abuso que sofreu. A Margot segue sendo uma atriz de sutilezas, até mesmo em trabalhos mais recentes, e num ano com tantas atuações energéticas, que algumas conseguiam beirar a teatralidade, ela conseguiu ser bem menosprezada no Oscar, já que sua atuação no filme consegue ter tanto destaque quanto as outras duas atrizes de peso. Mas também entre as outras concorrentes à categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, incluindo até a ganhadora Laura Dern (História de um Casamento), a sua performance era a mais única.

O Escândalo parece ser um filme irônico para cutucar os valores conservadores republicanos, mas que mesmo assim não parece ir fundo o suficiente e no fim se torna um filme mais investigativo do que crítico. Apesar disso, é um filme que vale a pena assistir para muito além de entender os casos que aconteceram na Fox News, como também para quem sente a curiosidade de entender como funciona o interior de uma rede muitas vezes sensacionalista, como propõe a narrativa durante diversos momentos do longa. 

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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