Crítica | Mussum, o Filmis

Nota
4

De forma divertida e sincera, Mussum – o Filmis chega aos cinemas trazendo uma das mais irreverentes cinebiografias dos últimos tempos. Baseado no livro Mussum – Uma História de Humor e Samba, o filme não se trata de uma tentativa de escavar o passado com o intuito de desconstruir a imagem já consagrada de um dos maiores humoristas que o Brasil já produziu, e sim de promover uma homenagem ao grande artista que Antonio Carlos Bernades Gomes foi.

A narrativa acompanha Mussum durante três fases de sua vida. Durante a infância pobre de Antonio Carlos (Thawan Lucas), ao lado de sua mãe Malvina (Cacau Protásio), o público é apresentado à criança que, como tantas outras, sonhava em ser jogador de futebol, mas que ao mesmo tempo era chamado para descobrir todo seu talento no Samba. Toda a relação construída em cena entre Cacau e Thawan ultrapassa o roteiro, possuindo uma das passagens mais lindas de todo o longa logo no seu início.

Durante a segunda fase vemos a ascensão de Carlinhos (Yuri Marçal), o jovem inteligente e aspirante à aeronáutica e também icônico membro do grupo Os Originais do Samba. É mostrada a dicotomia entre sua paixão pela música e a estabilidade que a carreira militar poderia lhe trazer, coisa que sua mãe tanto desejava para ele. Aqui a interação entre Marçal e Cacau Potássio se mostra ainda mais forte, e a introdução de Késia Estácio como Leny, primeira esposa do humorista, traz consigo toda uma nova carga dramática na vida de Mussum.

Na terceira e última fase do longa, quem assume é finalmente Ailton Graça, em seu primeiro papel como protagonista, mostrando as contradições entre o sambista Carlinhos e o agora humorista Mussum. A construção até a formação da persona é mostrada da forma mais simples possível, sendo uma narrativa que levanta os mais diversos sentimentos durante toda sua trajetória e introdução de novos desafios na vida pessoal e carreira do humorista. Aqui também assume a atriz Neusa Borges no papel de Dona Malvina, trazendo um novo olhar e experiência na voz. Sua presença no filme não se deixa passar batida, sendo uma fonte de força e inspiração até o fim da obra.

Durante toda a jornada pela vida de Mussum, é mostrado desde seu sonho e paixão pela música, a origem das suas inconfundíveis terminações de frases como “Cacildis”, durante a Escolinha do Professor Raimundo de Chico Anysio (Vanderlei Bernadino), até a formação dOs Trapalhões, junto a Didi (Gero Camilo), Dedé (Felipe Rocha) e Zacarias (Gustavo Nader), com destaque ainda ao seu grande amor pela Unidos da Mangueira. Mussum – o Filmis é uma emocionante homenagem, repleta de sentimentos genuínos e focada principalmente nas qualidades de um dos maiores ícones do Brasil. Não se trata de uma obra complexa, é verdade, porém traz consigo todo o peso e importânica que o Carlinhos representava para sua família, amigos e público.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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