Crítica | Mulan [2020]

Nota
3

“Há muitas lendas sobre a guerreira Mulan, mas, ancestrais, esta é a minha”

Em uma sociedade onde apenas os homens podem usar o Chi, a energia ilimitada da própria vida, uma garotinha de uma pequena vila demonstra grande potencial para ser guerreira, mas enfrenta a dura realidade onde mulheres apenas trazem honra à sua família por meio de casamentos, assim, precisa conter seu potencial e ser a filha perfeita.

Anos depois Mulan é testada pela casamenteira, assim vestindo roupas e maquiagem que jamais usou. Falhando, trouxe desonra para a família e sentia a culpa sobre seus ombros enquanto atravessava a vila. Coincidentemente, mensageiros imperiais chegaram neste momento, convocando um homem de cada família para lutar na guerra que assola o império: Bori Khan, líder dos Rourans, está atacando as guarnições da rota da seda e impedindo o comércio.

Sendo o único homem de sua família, Hua Zhou precisa lutar para proteger a honra de sua família, mesmo tendo dificuldade de locomoção e tendo a certeza de sua morte iminente. Culpada pela desonra e temerosa pela vida de seu pai, Hua Mulan se disfarça de homem e parte para a guerra no lugar daquele que tanto ama. Dando continuidade a sequência de live actions da Disney, Mulan adapta a tão amada animação de 1998, mas representada de uma forma diferente, assim tentando expandir e transformar um pouco esta história tão amada pelo público.

Com enredo bastante alterado em relação à animação, o longa deixou um pouco a desejar. Na tentativa de trazer conteúdo novo e mais fiel à cultura chinesa, falharam até em representar a real época em que a lenda se passa, o que deixou o público do país decepcionado e determinado a fazer um boicote. Até certo ponto o enredo é forçado, descaracterizando a personagem em uma tentativa rasa de justificar as habilidades da garota.

A diretora decidiu cortar as cenas musicais tão marcantes durante a animação, alegando que ninguém canta durante a guerra, mas não perdeu tempo em usar o instrumental das músicas que mais marcaram o longa de 98. Por outro lado a fotografia é esplêndida, o uso perfeito dos ângulos rendeu cenas deslumbrantes e marcantes. Outro ponto positivo são as cenas de batalha, a ideia é referenciar grandes filmes de ação chineses, como IP Man e O Tigre e o Dragão, com cenas surreais de lutas aéreas que impactam e marcam o espectador.

Liu Yifei foi a escolhida para dar vida a protagonista. Com um trabalho digno de Mulan, a atriz entregou aquilo que esperávamos, mas nada além disto. A personagem perdeu um pouco de sua essência ao já saber o que precisava, algo que incomoda muito, pois sabemos que a guerreira dentro dela precisou despertar. Além disso, o uso do Chi para justificar a força desta mulher na verdade só a diminuiu, já que um dos pontos mais relevantes de sua história é o fato de ela ir crescendo durante a trama, além de ir moldando seu caminho com muita força de vontade.

Yoson An deu vida a Cheng, o personagem que supostamente deveria substituir o capitão Shang, mas que funciona de maneira diferente, agindo mais como um amigo/inimigo durante todo o longa. O personagem passa longe de ser marcante, mas foi uma adição muito bem vinda para mostrar a luta de Mulan para esconder sua verdadeira identidade.

Tzi Ma deu vida a Hua Zhou, o pai que deveria ir para a guerra mesmo sem conseguir andar direito e assim manter a honra de sua família. Amoroso e gentil, sempre cuidou muito bem de suas filhas, inclusive acobertando o uso do Chi de Mulan. Presença marcante no começo do filme, cativante e convincente ao entregar o mais compreensivo dos pais.

Gong Li foi sem dúvidas a maior estrela do filme, com um personagem totalmente inédito. Xiang Lang, uma mulher assim como a protagonista, é usuária de Chi e foi discriminada, sofrendo muito por isto. Possui uma presença marcante, ofuscando todos os demais quando entra em cena, não esperávamos menos de um dos grandes nomes da atuação chinesa.

Bori Khan, o grande antagonista, ganhou vida pelas mãos de Jason Scott Lee. No geral, o vilão foi bem executado, o grande problema (na verdade o problema do filme inteiro) é que os únicos personagens marcante durante a trama são Hua Zhou e Xiang Lang, o que acaba ofuscando todos os demais.

Um dos personagens mais icônicos da animação, o Mushu, foi cortado deste liveaction, mas no fim sua presença não faz falta, pois o longa em si tem um ar mais sóbrio e adulto. Ele foi cortado pois, para os chineses, o dragão é um animal sagrado, que sempre é representante de famílias da realeza, sendo assim optaram por substituir por uma fênix, que parece deslocada em todas as cenas que aparece, incomodando e nos fazendo questionar a necessidade de sua presença.

Mulan possui bons acertos, mas seus erros são mais marcantes. A descaracterização da personagem incomoda muito, fazendo o espectador imaginar se está vendo um filme completamente diferente do esperado. Gong Li carrega o longa nas costas, junto com as cenas de ação que tanto se destacam durante a trama. No geral, o cerne do filme foi perdido, tornando-o apenas mais um longa de ação muito bem executado, mas não aquele que esperávamos assistir.

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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